A fúria

A fúria Silvina Ocampo




Resenhas - A fúria


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Silvio 09/02/2020

Uma ótima reunião de contos de uma autora até então desconhecida para a maioria dos leitores brasileiros. Silvina Ocampo tem um estilo inusitado, um verdadeiro exemplo de literatura fantástica. A maioria dos contos são curtos e a leitura é fácil, apesar de em muitos o enredo ser complexo e até bizarro. Leitura essencial para conhecermos um capítulo da história da literatura latino-americana.
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Mariana Dal Chico 02/01/2020

“A Fúria” de Silvina Ocampo foi publicado no Brasil pela Companhia das Letras que me enviou um exemplar de cortesia.

Desde que foi anunciado o lançamento desse livro, vi muitas pessoas comentarem sobre o quanto essa autora é incrível e que finalmente ela teria um livro seu publicado no Brasil. Imaginem o tamanho da minha expectativa para essa leitura!

A escrita da autora é lírica, as palavras são bem escolhidas e ditam o ritmo da leitura.

Morte e sexualidade são os temas mais frequentes dos contos, porém não são os únicos. Os personagens são variados, crianças capazes de atrocidades, homens, mulheres, um cachorro.

Com um ambiente doméstico, os contos sempre beiram o absurdo e causam estranheza, alguns são realmente assustadores, enquanto outros ainda estou tentando entender.

Meu conto preferido é “A casa de açúcar” onde uma recém-casada começa a agir de forma estranha e assume a identidade da antiga moradora.

Outros contos que gostei muito foram: A continuação, O rebento, A sibila, As fotografias, A fúria, Os sonhos de Leopoldina, O casamento, A paciente e o médico, O prazer e a penitência

A verdade é que eu esperava demais e acabei me decepcionando. Gostei da experiência de leitura, mas não amei.

site: https://www.instagram.com/p/B6imCX7jBho/
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Euflauzino 11/11/2019

A raiva incontida

Retomei o interesse pela literatura argentina logo após assistir ao filme “Relatos selvagens”. Pode parecer estranho à primeira vista, mas é a mais pura verdade. Pensei comigo: se nossos amigos hermanos podem produzir um filme tão intenso, impactante e envolvente, o que não poderiam fazer no universo literário?

Pensei em Borges, em Casares e a consequência natural foi Silvina Ocampo. E por que ela? Estranhamente negligenciada por aqui acabou redescoberta ainda que tardiamente. Fazendo parte da aristocracia portenha ela viveu e morreu à sombra de familiares e amigos, muito por causa da fobia que sentia de sua imagem (em inúmeras fotos ela aparece com as mãos em frente ao rosto).

Em 1940, Silvina casa-se com seu parceiro Bioy Casares e é por ele eclipsado. Por sua vez Casares perde o brilho ao se deparar com um expoente Borges (amigo de Silvina de uma vida inteira).

Este lugar marginal no qual Silvina se colocara e mais os escândalos (homossexualismo, libertinagem e um casamento aberto cheio de casos) envolvendo seu nome podem ter dado vazão, razão e inspiração aos escritos insólitos que tomaram conta de seus contos.

A fúria (Companhia das Letras, 224 páginas) é a prova cabal de tudo aquilo que estou dizendo. É um tesouro feito de violência e poesia.

"No coração da tarde, o sol a iluminava como um holocausto nas lâminas da história sagrada. As lebres não são todas iguais (...), e não era sua pelagem, acredite, que a distinguia das outras lebres não eram seus olhos de tártaro nem a forma caprichosa de suas orelhas; era algo que ia muito além do que nós, humanos, chamamos de personalidade. As inumeráveis transmigrações que sua alma tinha sofrido lhe ensinaram a se tornar invisível ou visível nos momentos indicados, para haver cumplicidade com Deus ou com alguns anjos intrépidos."

Em seus contos podemos perceber um pouco de sua arte inicial, já que ela estudou pintura com um dos mais destacados pintores cubistas, Fernand Léger. Traça ambientes e entornos com maestria como o faz um pintor, dando graça e cores para fazer brilhar suas personagens.

"(...) Vocês dois, Elena e você, me olhavam com reticência, pensando que não era a loucura que me espreitava, e sim que eu espreitava a loucura, para atormentar a quem estivesse por perto. Entre as volutas de fumaça dos cigarros dos dois, você me olhava com ódio, enquanto acariciava um cão porfiado que sempre te esperava, que esperava ser seu porque não tinha dono."

Mas não se enganem, a cólera está sempre lá à espreita, aguardando o momento oportuno ou inoportuno, que seja, para sua entrada triunfal e aniquiladora.

site: Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2019/11/a-furia-e-outros-contos-silvina-ocampo.html
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@retratodaleitora 24/10/2019

Depois de ler os contos presentes em A Fúria eu senti imediatamente uma vontade imensa de procurar saber mais sobre quem foi Silvina Ocampo. Encontrei um ótimo artigo de Mariana Enriquez (autora de As Coisas que Perdemos no Fogo, que é maravilhoso), explicando um pouco quem realmente foi essa escritora argentina, seu comportamento que despertava tanta curiosidade na época (principalmente sobre seu casamento aberto com Bioy Casares). Eu já tinha lido os contos antes de pesquisar sobre sua vida, mas fazer isso me ajudou a compreender melhor essas narrativas tão estranhas.

“Somos um compêndio de contradições, de afetos, de amigos, de mal-entendidos – me dia Elena. Certamente pensando em mim, acrescentava: ¬– Somos monstros (...). Somos também o que as pessoas fazem de nós. Não amamos as pessoas pelo que são, e sim pelo que nos obrigam a ser” (trecho retirado do conto ‘A Continuação’, um dos meus favoritos).

Os contos de Silvina trazem um estranhamento que perdura durante todas as 224 páginas que compõem o livro, aumentando conforme vamos adentrando histórias espetaculares, finais abertos, personagens bizarros e acontecimentos imprevisíveis. O imprevisível, de fato, é personagem presente em todas essas histórias
"Nos seus contos há algo que não consigo compreender: um estranho amor por certa crueldade inocente e oblíqua" disse Jorge Luis Borges (seu velho amigo) sobre seu estilo.

E há mesmo algo de inacreditável, algo de estranho (Silvina foi uma mulher considerada estranha), algo entre personagens que chegam e parecem inocentes, mas a crueldade e a ousadia logo se apossam deles. Silvina foi uma escritora ousada, desafiadora, e seus contos traduzem sua personalidade única. Está aí alguém que eu gostaria de ter conhecido!

“(...) pois nem todos os seres são lúcidos, nem capazes de ler o destino nos signos que diariamente surgem ao redor de si” (conto ‘Carta perdida em uma gaveta’). O conto “A Fúria” que dá título ao livro também foi um dos meus favoritos, entre vários outros.
Entendi tudo o que li? Acho que não. Acho que é desses livros que se transformam a cada releitura. Recomendo muito para leitores de realismo mágico e narrativas absurdas. Conheçam a senhora Ocampo.

site: https://www.instagram.com/p/B4AQjkXjBLu/
@umlivroumtrecho 22/01/2020minha estante
Esse livro é muito bom e o artigo da Mariana Enriquez é perfeito.




Leila de Carvalho e Gonçalves 03/09/2019

34 Contos
Silvina Ocampo (1903-1993) é considerada um dos principais nomes da literatura argentina, todavia seu reconhecimento foi tardio. Boa parte da vida, ela foi ofuscada pelo brilho da irmã Victoria, do amigo Jorge Luis Borges e do marido Adolfo Bioy Casares, com quem viveu um casamento aberto durante 53 anos, ou melhor, até sua morte.

A bem da verdade, oculta detrás de um par de óculos gatinho ou escondendo o rosto com as mãos nas fotografias, ela sempre foi muito reservada. Pouco se sabe sobre sua vida particular e o significado de grande parte de seu trabalho é um desafio para o leitor.

No Brasil, sua obra jamais despertou maior interesse, apesar da alardeada semelhança com os escritos de Clarice Lispector. Todavia, ultimamente seu nome veio à baila, graças a publicação da ?Antologia da Literatura Fantástica? cuja organização reuniu Silvina, Casares e Borges.

Sem dúvida, uma participação que pode surpreender, em especial, se levar em conta que ocorreu há 82 anos, quando a literatura ainda era um reduto praticamente masculino. O mais curioso é que essa repercussão acabou corroborando para que a Companhia das Letras lançasse, em agosto desse ano, o primeiro livro da escritora em português. Trata-se do sexagenário ?A Fúria?, que totaliza 34 contos, a maioria editados entre 1937 e 1940 em várias revistas literárias, incluindo a ?Sur?, dirigida por sua irmã.

De acordo com Laura Janina Hosiasson, professora de literatura hispano-americana da USP, que assina o prefácio da edição, a prosa de Silvina ?é irônica, mordaz e, ao mesmo tempo, perversamente ingênua. Embalada pelo ritmo preciso da descrição dos detalhes, ela consegue capturar o leitor para dentro de um universo familiar e doméstico no qual o sinistro e o estranhamento se insurgem como uma onda capaz de destruir qualquer proteção à equilibrada rotina burguesa?. Por sinal, boa parte conta outra história nas entrelinhas, causando desfechos inesperados e três bons exemplos são ?O Médico e a Paciente?, ?As Fotografias? e ?O Mal?.

Polissêmicos, amorais e insólitos, esses contos destilam um humor sombrio, ao abordar temas nem sempre corriqueiros, como metempsicose (?A Casa De Açúcar?), antropomorfização (?O Porão?) e premonição (?Os Sonhos de Leopoldina?). Quanto às personagens, elas formam uma miscelânea sugestiva de onde despontam um relojoeiro corcunda (?A Casa dos Relógios?), uma criança homicida (?A Oração?) e um cachorro embalsamado (?Mimoso?). Sobre os espaços ficcionais, Silvina faz com que cada ambiente esteja ?ativamente ligados ao sentido profundo das tramas?, nada é escolhido ao acaso, sequer suas costumeiras descrições, e esta peculiaridade está vinculada em parte com sua vocação pictórica. Inclusive, quando jovem, ela chegou a estudar em Paris com Fernand Lèger e Giorgio de Chirico.

O título do livro foi sugerido por Borges e revela seu conto preferido. ?A Fúria? gira ao redor desse sentimento e também remete às Fúrias, divindades que puniam os mortais e personificam a vingança na mitologia romana. Silvina recria essa história e surpreende pela originalidade, todavia,o livro inicialmente seria intitulado ?A Lebre Dourada?, que é o primeira narrativa da lista e distingue-se pelo hermetismo e o caráter esotérico. Resumidamente, ele retrata uma perseguição de uma lebre por uma matilha e é uma parábola na qual o sobrenatural e o natural entram em contacto e confundem-se.

Finalmente, estimo que outros livros de Ocampo sejam publicados pela Companhia das Letras, como também ?La Hermana Menor?, de Mariana Henriquez, que, lançada em 2018, é a primeira obra biográfica sobre a escritora.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 01/09/2019

Silvina Ocampo - A fúria e outros contos
Editora Companhia das Letras - 224 Páginas - Tradução de Livia Deorsola - Posfácio de Laura Janina Hosiasson - Capa de Elisa von Randow - Ilustração de Cristina Daura - Lançamento: Agosto de 2019.

É difícil entender como uma autora tão importante na literatura latino-americana tenha permanecido inédita no Brasil até hoje. Considerada uma das maiores contistas argentinas, Silvina Ocampo (1903-1993) é dona de um estilo único que se situa em uma região imprecisa entre o surrealismo, o realismo mágico e a literatura fantástica, porém não se enquadrando em nenhuma dessas categorias. Esposa de Adolfo Bioy Casares e amiga de Jorge Luis Borges, que dedicou a ela o seu primeiro conto publicado, “Pierre Menard, autor do Quixote” na revista literária “Sur”, da irmã Victoria Ocampo, ela é considerada uma escritora para escritores, tendo sido citada como referência por autores tão diferentes quanto: Julio Cortázar, Tomás Eloy Martínez, Alejandra Pizarnik, Roberto Bolaño e Italo Calvino.

Não há como ficar indiferente à leitura dos contos deste livro. Perturbador é uma expressão adequada para o sentimento que a autora desperta com suas narrativas breves que parecem lidar com questões banais do cotidiano, mas em uma transição sutil – que nem sempre é claramente percebida pelo leitor – escapam para o domínio da estranheza, perversão e crueldade. A professora de literatura hispano-americana da USP Laura Janina Hosiasson ressalta muito bem no posfácio: "Como nos sonhos, aqui se está num mundo sem regra moral, no qual os impulsos não têm censura e não há espaço para a culpa. A aparente ordem das famílias é posta a nu pelo escancaramento de sentimentos obscuros, de taras e pulsões sexuais sem repressão, que pululam no interior de sua engrenagem." É o que ocorre no conto "A casa de açúcar", conhecido como sendo o preferido de Julio Cortázar, quando a nova inquilina, recém-casada, assume a personalidade da antiga moradora de uma casa, assim como seus amantes do passado, toda a narrativa feita em primeira pessoa pelo marido.

"As superstições não deixavam Cristina viver. Uma moeda com a efígie apagada, uma mancha de tinta, a lua vista através de dois vidros, as iniciais de seu nome gravadas por acaso no tronco de um cedro a deixavam louca de medo [...] Quando ficamos noivos, tivemos que procurar um apartamento novo, pois, segundo suas crenças, o destino dos moradores anteriores influiria sobre sua vida (em nenhum momento mencionava a minha, como se o perigo ameaçasse só a ela e como se nossas vidas não estivessem unidas pelo amor). Percorremos todos os bairros da cidade; chegamos aos subúrbios mais distantes, em busca de um apartamento que ninguém tivesse habitado: todos estavam alugados ou vendidos. Por fim, encontrei uma casinha na Calle Montes de Oca, que parecia de açúcar. Sua brancura brilhava com extraordinária luminosidade. [...]" - Trechos do conto "A casa de açúcar" (p. 32)

A tensão narrativa é amplificada pela presença constante de crianças, capazes de atos terríveis, o que só faz aumentar a sensação de perplexidade devido ao corte inesperado entre ingenuidade e perversão, ou ainda, horror e humor. No conto que empresta o título à antologia, por exemplo, uma menina incendeia as asas de anjo da colega com o seu círio durante uma celebração religiosa e, desde então, passa a cometer crueldades ainda maiores com as outras pessoas, para "redimir-se através da maldade". Em "As fotografias" (ler o trecho abaixo) comemora-se a festa de aniversário de uma menina paralítica, registrada em uma inusitada sessão de fotos com um final trágico, que parece não afetar os convidados ou o narrador.

"Cheguei com meus presentes. Cumprimentei Adriana. Ela estava sentada no centro do pátio, em uma cadeira de vime, rodeada pelos convidados. Vestia uma saia bem rodada, de organdi branco e com uma anágua engomada, cuja renda aparecia ao menor movimento, uma tiara de metal maleável com flores brancas no cabelo, umas botinas ortopédicas de couro e um leque rosado na mão. Aquela vocação para a desgraça, que eu tinha descoberto nela muito antes do acidente, não se notava em seu rosto. [...] Mostraram-me os presentes: estavam dispostos em uma prateleira do quarto. No pátio, sob um toldo amarelo, tinham posto a mesa, que era bem comprida: duas toalhas a cobriam. Os sanduíches de verdura e presunto e os bolos muito bem elaborados despertaram meu apetite. [...] Esperávamos a chegada de Spirito, o fotógrafo: não podíamos nos sentar à mesa nem abrir as garrafas de sidra, nem tocar nos bolos, até que ele chegasse." - Trechos do conto "As fotografias" (p. 74)

Publicado originalmente em 1959, o livro não perdeu nada do seu caráter provocador e moderno. Na verdade, Silvina Ocampo sempre assumiu um tom de mistério em torno da sua vida particular e de sua obra que vem sendo redescoberta nos últimos anos. No Brasil, até hoje só contávamos com uma tradução da autora, que organizou a "Antologia da Literatura Fantástica", juntamente com Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. “Vejo uma pessoa disfarçada de si mesma”, escreveu a sua irmã Victoria Ocampo na revista "Sur" em 1937, resenhando o livro de estreia de Silvina, "Viaje olvidado", infelizmente também não publicado em nosso país, uma falha que certamente será corrigida em breve.
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