Livros da Julie 28/03/2020Excelentes ensaios de Virginia Woolf!-----
O livro é composto dos seguintes textos:
- Mulheres e ficção:
"(...) elas se voltarão para as questões mais amplas que o poeta tenta resolver - as do nosso destino e do sentido da vida."
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- Ficção moderna:
"'A matéria apropriada à ficção' não existe; tudo serve de assunto"
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- O leitor comum:
"Ele lê por prazer, não para transmitir conhecimentos ou corrigir opiniões alheias."
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-Jane Austen:
"Cativante mas aprumada, amada em casa mas temida por estranhos, ferina na língua mas terna de coração"
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- Jane Eyre e O morro dos ventos uivantes:
"Charlotte Brönte, pelo menos, nada deve à leitura de muitos livros. (...) o brilho avermelhado e inconstante do fogo dos corações é que ilumina suas páginas."
"É como se Emily fosse capaz de estraçalhar tudo o que sabemos sobre os seres humanos e preencher essas transparências irreconhecíveos com tal rompante de vida que eles transcendem a realidade. Seu poder, portanto, é o mais raro de todos."
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- Como se deve ler um livro?
"(...) o único conselho sobre leitura que uma pessoa pode dar a outra é não aceitar conselho algum"
"(...) característica mais importante que um leitor pode ter: sua independência."
"Admitir autoridades em nossas bibliotecas (...) é destruir o espírito de liberdade que dá alento a esses santuários."
"Poucas, porém, são as pessoas que aos livros pedem o que os livros são capazes de dar."
"(...) temos nossas responsabilidades como leitores, e até nossa importância."
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- Geraldine e Jane:
"(...) a vida para uma mulher é o próprio inferno."
"Alguma coisa ajuda uma mulher quando o amor a abandona, quando o amante joga sujo com ela?"
"Como era abominável, sob tantos aspectos, a situação das mulheres! (...) Como o sangue lhe fervia pelo poder que os homens tinham sobre as mulheres!"
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- "Eu sou Christina Rossetti":
"Seu instinto era tão seguro, tão certeiro, tão intenso, que produziu poemas que aos nossos ouvidos soam como música"
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- Pensamentos de paz durante um ataque aéreo:
"É uma experiência esquisita, deitar-se no escuro para ouvir o zumbir de um marimbondo que a qualquer momento pode lhe dar uma ferroada mortal."
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Este é o segundo livro do projeto #Virginiando2020, promovido pela @naneandherbooks. Assim como o primeiro, também é um livro de ensaios que nos mostram a visão feminista de Virginia Woolf, bem como suas opiniões sobre a literatura e as grandes romancistas. Sempre honesta consigo mesma, a autora tece análises poéticas e emocionadas sobre cada tema. É um livro que requer maior conhecimento das obras e escritores mencionados para melhor compreensão, mas não deixa de ser uma magnífica leitura.
Assim como no livro anterior, Virginia questiona a pequena quantidade de obras literárias femininas antes do século XVIII e sua prevalência na ficção e no romance. Ela novamente aponta as diferenças de visão e valores entre os sexos e pontua aspectos que influenciam na escrita, como a vida familiar, as novas profissões, as experiências vividas, a condição financeira e a necessidade de ambiente calmo e mente tranquila para um artista. Por outro lado, destaca a importância da criação de personagens que funcionavam como porta-vozes da situação feminina à época.
A autora analisa o rumo tomado pela ficção, com críticas a escritores materialistas e a romances impecáveis, com enredos e personagens descolados da vida real. Ela fala da tendência de abordagens psicológicas, considerando o avanço desse estudo, e da necessidade de se libertar das convenções literárias. Faz uma ode aos escritores russos e sua facilidade de falar de sentimentos e emoções, mas ressalta que não há certo ou errado na ficção; tudo é desejável.
Mas a crítica de Virginia não é direcionada apenas aos escritores. Como leitora contumaz, ela emite sugestões sobre como adequar a expectativa ao objetivo de cada obra, como apreciar a diversidade dos universos literários, como abrir a mente para a imaginação ou como conhecer mais do ser humano lendo sobre pessoas que de fato existiram. A autora exalta o poder do romance, da biografia e, sobretudo, da poesia e destaca a importância de comparação e valoração das obras segundo nosso próprio gosto, que pode evoluir à proporção que lemos. Um leitor comum nunca será um crítico ou erudito, mas sua opinião literária pode ser considerada válida.
Virginia também relembra grandes escritoras, trazendo suas histórias de vida e discorrendo sobre suas personalidades e estilos literários. Sobre Jane Austen, ela menciona o parco material existente, além dos seus livros e de algumas cartas. Porém, faz uma análise acurada e elogiosa de seu estilo, de sua perspicácia e de sua sinceridade na escrita, assim como de sua facilidade de lidar com uma gama tão grande de sentimentos e valores que cenários e ações banais se transformavam em situações importantíssimas e profundas aos nossos olhos. Uma pena que tivesse falecido tão cedo.
Outra lembrada com pesar por sua morte prematura foi Charlotte Brönte. Virginia destaca a sua impressionante capacidade de fazer o leitor se sentir em seu mundo, bem como de utilizar forças da natureza para transmitir emoções indizíveis. Já Emily Brönte tinha maior capacidade poética. Ela não tratava apenas de sentimentos individuais, mas abarcava toda a humanidade quando expunha suas dores, comuns a todos.
A autora também cita a escritora Geraldine Jewsbury, sua saúde difícil, seu gosto pelas reflexões e discussões sobre paixão, vida e moralidade. Narra sua conturbada relação com a amiga Jane Carlyle, a quem idolatra, e o papel desta na publicação de seu primeiro livro, que continha observações fortes demais para a época. Tão diferentes entre si, Geraldine e Jane trocam longas correspondências, conselhos e reprimendas e alternam temporadas de convivência tumultuada e de amizade estreita e prolífica. A escritora Christina Rossetti, por sua vez, teve a religião como fator determinante em seus hábitos, romances e poemas, estes últimos reconhecidos por sua beleza e fulgor.
Por fim, aproveitando a reflexão trazida pelos bombardeios, Virginia destaca a falta de liberdade e voz política da mulher, seja em tempos de paz ou de guerra. Crê que é a força do instinto, da tradição e da educação que impele os homens para os conflitos. Nesse sentido, questiona se o instinto materno seria igualmente intrínseco às mulheres.
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