Fernanda309 23/06/2020
O que achei de... Guia para assassinos sobre amor e traição (+ quotes)
EDIÇÃO: É o primeiro livro que leio da Plataforma21, e estou encantada com o esmero da edição. É simples, mas linda, e combinou com o livro. Achei a tradução bem de acordo com o enredo e a época do livro, tomada algumas liberdades criativas que a autora explica no fim do livro.
ESCRITA: Mais uma estreia: nunca tinha lido nada da autora, e só depois que acabei foi que vi que ela tem uma série que já quero ler há anos. O escrita é boa, um bom equilíbrio entre diálogos e observações, uma boa ambientação. Minha reclamação vai para o fato de o livro não parecer em nada com um guia, como o título sugere. Tirando alguns momentos em que o personagem se dirige diretamente ao leitor (e podemos contar essas vezes nos dedos das mãos), a parte esmagadora do livro é um romance com uma narrativa comum. Eu amo ficção histórica, e mais ainda quando se trata da Inglaterra dos séculos XVI e XVII, então, estava empolgada com a parte histórica, e foi uma grata surpresa ver que a autora apresentou tudo de forma muito confortável até pra quem nunca ouviu falar da rainha Elizabeth. Gostei como a autora expôs suas críticas através de pequenas observações e cenas dos personagens, para ir encorpando os fatos. É uma ótima ambientação, a descrição não é exagerada nem insuficiente, e eu valorizo muito isso.
ENREDO: A ficção histórica foi um ótimo pano de fundo para um enredo perigoso, e em alguns momentos senti tensão de verdade pelo o que estava por vir. Porém, o ritmo do livro deixou a desejar, e pior, o final não me agradou. Sabem, eu nem sabia do que se tratava o livro, não tinha lido sinopse ou resenha nenhuma, fui às cegas. Mas, a medida que fui lendo as datas e locais no início de cada capítulo (adoro isso) e fui me situando, fui criando boas expectativas, admirada com a interligação dos fatos que a autora apresenta. Apesar de ter lido em quatro oportunidades, os ritmos foram muito diferentes entre si, e me perguntei se o fato de não ter lido só de uma vez foi o que me fez desgostar do ritmo do final (leia-se os sete últimos capítulos), mas isso não muda o final em si. Então só posso supor que se tivesse lido de uma só vez, minhas expectativas estariam lá em cima, e o baque teria sido muito pior. Lamentável, mas foi o que aconteceu. O final poderia ter sido mais longo e bem melhor construído. Foi tudo muito fácil e ao invés de dar uma explicação mais detalhada (como as partes anteriores), ela simplesmente pulou no tempo e deixou por isso mesmo.
PERSONAGENS: Ah, meu Deus, o trunfo do livro. Virginia Boecker me entregou nada mais nada menos que meu segundo personagem masculino favorito de todos os tempos, só fica atrás de Gene (trilogia A caçada do Andrew Fukuda). Toby Ellis me intrigou já no prólogo, e a cada capítulo eu ficava mais fascinada com sua perspicácia e sensatez. Seu personagem é tão profundo, tão complexo, tão crível, que sua evolução é mínima - ele já chega perfeito na história. Fiquei encantada com cada aspecto de sua mente e seus sentimentos. O romance entre os protagonistas é MARAVILHOSO, no ritmo certo, e com certeza muito possível de acontecer.
Katherine Arundell é a que evolui mais, e a ideia de fazê-la dividir sua voz com Kit Alban foi sensacional. Gostei muito de sua maneira de encarar o mundo, seu aprendizado valioso, a pureza dos seus sentimentos, tudo fazendo com que seja uma personagem notável. Uma pena que, lá no final, no ápice do livro, ela tenha jogado todas as suas melhores estratégias no lixo - mais uma motivo para não ter gostado do final. Quando eu percebi o que ia acontecer, soltei um "ah, não" porque não foi isso que a autora me fez esperar do comportamento de Katherine. Digo novamente: lamentável. O livro tinha potencial para ter levado cinco estrelas.
+: A despeito do título não se adequar ao enredo (não consigo entender nada no título como justificável pra este livro) e o final ter sido rápido e raso demais, eu recomendo demais a leitura do livro. Personagens complexos numa ambientação histórica absolutamente fascinante sem dúvidas vão nos fazer voltar num tempo que aparentemente é tão diferente do nosso, mas que se assemelha bastante com conflitos inerentes a todas as sociedades: lealdade, identidade e coragem para fazer o que é certo, mesmo que parecemos estar sós no mundo.
"Se aprendi alguma coisa em minha posição, é que não há nada mais enganoso que o óbvio."
"Ideias são o sangue que dá vida a uma história."
"Se algo tão puro quanto as próprias ideias é conspurcado, o que mais pode restar?"
"Tudo começa com uma ideia. Ideias são infalíveis, são indestrutíveis; a única coisa mais forte que um exército de homens é uma ideia cuja hora chegou."
"Mas ideias, fortes como são, não escrevem a história; homens escrevem. Mulheres [...]. Somos o que dá vida às ideias. Se uma ideia morre, não podemos pranteá-la. Mas podemos prantear um homem. Podemos dizer seu nome e nos lembrar dele. O que é história, afinal de contas, se não as biografias dos maiores de nós?"
"Amei as palavras e as odiei, mas nunca fui indiferente a elas. Passei os últimos anos a temê-las, o modo como têm o poder de dar a vida a coisas que você sente, coisas que são mais seguras se deixadas sem nome."
"Acho que, quanto mais você sente, menos palavras há para descrever isso. É como se as palavras não fizessem justiça; você só pode escrever o que já está morto em seu coração."
"Acho que se pode dizer muito sobre uma pessoa pelo jeito como ela escreve."
"[...] este não é uma mundo que dá liberdade facilmente, não sem tomar algo em troca."
"[...] é nesses momentos que as coisas acontecem com as pessoas: quando não esperam que aconteçam."
"Mas isso não é a mesma coisas que eles fazem conosco? [...] Eles nos perseguem, tornam nossa religião ilegal, matam nossos padres, e então fazemos a mesma coisa com eles? Você não pode simplesmente se vingar de alguém fazendo a mesma coisa que fizeram com você;"
"Sabia que a tinha naquele lugar pnde uma palavra é forte como um feitiço e um olhar tão íntimo quanto um beijo, conhecia a onda de sentimentos quando você sabe que alguém tem consciência de tudo o que você faz, quando um toque significa tudo, e, às vezes, é tudo."
"[...] houve uma mudança, e mudança, como sempre, é um prenúncio de perigo."
"Liberdade [...]. Não servir ninguém além de mim mesma. Fazer, pensar e dizer o que me dá vontade e não responder a ninguém. [...] Egoísta, não é? E tolo. Todos respondemos a alguém, não é?"
"A palavra deve, [...], é tão perigosa quanto a esperança, pois dá poder a coisas externas e além do nosso controle."