Resenhas - Torto arado

Edu 24/10/2022

Se for, vá na paz!
Consigo entender perfeitamente o porquê desta obra ter atravessado tantas pessoas. É paralisante ser testemunha de inúmeras injustiças em prol de um pedaço de chão batido pra viver, um teto com buracos pra se abrigar e uma terra castigada para plantar o que comer. E aí você vai lendo esperando uma reviravolta em que o destino ofereça um alento pra tanto sofrimento. Mas não vem.

Ao contrário, cada capítulo organiza o quão perverso pode ser o abuso pela submissão, somado ao infortúnio da seca do sertão, abandono do sistema e a violência dos mais fortes.

E aí você percebe que é tão difícil combater quando sua energia está toda focada em sobreviver. Quando você ainda precisa lidar com violência doméstica ou um espinho que estraga o seu pé ignorando que também é o seu instrumento de trabalho.

É por isso que reverenciamos tanto o povoado fictício de "Bacurau".
Senti uma conexão gigantesca entre as duas obras e tenho certeza que não estou só.

São tantos ponto altos que nem mencionei o acidente que decepa a língua de Belonísia, numa sátira perfeita pra representar um povo sem voz, mas que tem coragem para enterrar seus desafetos, se preciso for.

Clara 31/12/2023

Ufsc
Tive que ler pra fazer a ufsc então não conta como livro de prazer, mas mesmo assim eu adorei, espero poder reler com a vontade que ele merece.

Victória 29/07/2021

livro incrível e necessário
Eu estou sem palavras para a genialidade desse livro, é uma obra fantástica e muito necessária. Itamar tem uma escrita muito boa e uma sensibilidade tão grande. Diversos temas de extrema importância são tratados nesse livro de uma maneira que eu nunca vi antes. Amei o livro, recomendo!!

Pedro Sucupira 16/03/2021

2021 LIVRO 18 - Torto Arado, Itamar Vieira Junior
Torto Arado, escrito pelo baiano Itamar Vieira Junior, é um daqueles livros que aquece o nosso coração, reaviva em nós o orgulho de ser brasileiro. Um livro que me fez sentir representado tanto pela obra em si quanto pela história de vida do autor. Não só entrou para minha lista de favoritos como também para minha lista de livros que “todos devem ler”.

Com uma linguagem clara, objetiva e de uma elegância regional poética sem igual, Torto Arado retrata a história das protagonistas Belonísia e Bibiana; duas irmãs que, juntamente com a família e muitas outras famílias, residem e “trabalham” na fazenda Água Negra. O que eu chamo de trabalho é simplesmente para fácil entendimento, sendo na realidade uma situação de trabalho análoga a escravidão em que os moradores de Água Negra, sem o poder da liberdade de escolha, se submetem para sobrevierem.

É em meio a esse contexto que a história se desenvolve. Capítulos curtos narrados em primeira pessoa contam a história de vida desses personagens nas profundezas do sertão baiano.

Um acidente que ocorre com as irmãs, descrito logo nas primeiras páginas, gera um pico de adrenalina, emoção e curiosidade pelo que ainda está por vir que se mantem durante toda a obra. A rotina extenuante no campo, sofrida, de agricultores da terra alheia. As tradições religiosas afro-brasileiras. As festas de Jarê – candomblé de caboclo. Os conhecimentos diplomáticos, medicinais, botânicos e espirituais do curandeiro Zeca Chapéu Grande, pai de Bibiana e Belonísia. Sula, que além de trabalhadora rural, é mãe, parteira e esposa. Miúda e seu enigma de Santa Rita Pescadeira. Severo, o revolucionário. Os eventos familiares e pessoais desses e de tantos outros personagens compõem a trama de Torto Arado culminando em um desfecho inesperado e surpreendente.

Em momento algum eu me senti entediado ou com a sensação de que a leitura era arrastada. Nada presente nessa obra pode ser considerado irrelevante; cada parágrafo, cada capítulo, cada frase é essencial e ocupa perfeitamente seu lugar na trama.

Uma ficção que vai muito além da relação fraterna entre Bibiana e Belonísia. A meu ver, a vida retratada na fazenda Água Negra é uma representação fiel da situação atual que o Brasil se encontra no sistema capitalista. Em relação às economias mundiais dominantes, como periferia do capitalismo, o Brasil é uma grande fazenda onde os proprietários (elites) não habitam e só visitam de tempos em tempos. Os verdadeiros donos da terra, aqueles que cultivam e moram nela por gerações, além de produzir o que será vendido como mercadoria recebendo migalhas em troca, veem parte da sua produção pessoal tomada pelo capataz.

Um sentimento de injustiça e impotência que nos acompanha durante toda a leitura e que nos leva a questionar e repensar nossa própria realidade.

Torto Arado é um oásis em meio ao deserto político, escassez de representação, que vivemos. Uma história que nos mostra que a união dos oprimidos suplanta, em inteligência e força, os opressores.

“Belonísia era a fúria que havia cruzado o tempo. Era filha da GENTE FORTE que atravessou um oceano, que foi separada de sua terra, que deixou para trás sonhos e forjou no desterro uma vida nova e iluminada. Gente que atravessou tudo, suportando a crueldade que lhes foi imposta. [...] Sobre a terra há de viver sempre o mais FORTE.”

Publicado originalmente em www.pedrosucupira.com

Thiago Araujo 17/03/2021

O profundo retrado de nossa terra
É incrível como um livro pode te fazer sentir o que as pessoas passavam e ainda passam hoje em dia em situações que você nunca esteve. Torto Arado mostra um Brasil que ainda existe, que muitas pessoas não conheceram, com uma trama que contém uma delicadeza, um força, um sentimento muito forte com nossos antepassados, com nossa cultura, com nossa terra. Nos questiona se a escravidão realmente acabou como achamos... Leiam e sintam. Foi incrível ver e de certa forma viver a história dessas irmãs e sua família!

Kazane 27/12/2022

O livro é muito bom
A história é cativante, no final eu esperava mais, tive a impressão que o autor terminou o história na pressa, mas nada que fizesse eu desgostar da história!

Vinicius 30/01/2022

Brasileiro como muitos
Uma história totalmente fora do eixo contemporâneo. Se passando em uma comunidade quilombola, conta a história de uma família passando por suas gerações e pelas transformações da comunidade, como a chegada da televisão. Mostra os resquícios da escravidão, assim como práticas de religião de matriz africana. Um livro único e útil a quem quiser entender a história do Brasil por outro ponto de vista.

Ted 17/03/2021

Impecável
Toda a luta, trabalho árduo, sofrimento, empoderamento tratados na história não tiveram um erro sequer.
É uma leitura que deixa a gente muitas vezes triste pela vida e realidade dura dos personagens e que infelizmente é o que muitas pessoas viveram.
A escrita do autor é riquíssima em detalhes que fazem a gente se sentir ainda mais dentro da história.
As duas personagens são extremamente cativantes, e o modo como usam humor em situações difíceis me fez gostar ainda mais.
Ler tudo foi mais do que um prazer, apesar de doloroso.

Lara.Bia 26/01/2023

Li sem muitas expectativas, só que gostei mais doq esperava
Ele é um livro demorado para vc realmente mergulhar nele, pelo menos para mim. Eu só comecei a pegar ritmo na metade da história da Bibiana. A minha parte favorita foi a história da Belonisia. E confesso que fiquei um tanto perdida na última parte. Mas vendo a obra ao todo, é um bom livro.
E tbm eu errei em adivinhar quem tinha perdido a língua

Zelinha.Rossi 05/09/2021

Sensacional
Já considero ?Torto Arado? o melhor livro que li neste ano. Só lamento ter demorado tanto a começar a leitura: todo mundo fala tão bem deste livro que fiquei com muito receio das expectativas que tinha com relação a ele. No entanto, ele superou qualquer expectativa que eu pudesse ter: o livro é mesmo um fenômeno. Adorei a escrita polifônica, as personagens extremamente fortes, as tramas construídas pelo autor, os conhecimentos adquiridos sobre a religião de matriz africana. O livro trata de temas dolorosos: a exploração do homem do campo que denota uma falsa liberdade após a abolição da escravidão em muitas regiões do país, a violência contra a mulher. Mas trata também de resistência, luta, união, coragem e força. Excelente!

?Era o medo de quem foi arrancado do seu chão. Medo de não resistir à travessia por terra e mar. Medo dos castigos, dos trabalhos, do sol escaldante, dos espíritos daquela gente. Medo de andar, medo de desagradar, medo de existir. Medo de que não gostassem de você, do que fazia, que não gostassem do seu cheiro, do seu cabelo, de sua cor. Que não gostassem de seus filhos, das cantigas, da nossa irmandade. Aonde quer que fôssemos, encontrávamos um parente, nunca estávamos sós. Quando não éramos parentes, nos fazíamos parentes. Foi a nossa valência poder se adaptar, poder construir essa irmandade, mesmo sendo alvos da vigilância dos que queriam nos enfraquecer.?

?Cada mulher sabe a força da natureza que abriga na torrente que flui de sua vida.?

Mirelle 05/06/2021

Torto Arado nos conduz por uma surpreendente história sobre a tomada de consciência e do reconhecimento de suas ancestralidade e o pertencimento a terra onde se nasce, se cria e faz-se raízes desde sempre.

Romance envolvente, personagens bem estruturados e com profundidade, ambientação espantosamente realista.

Fabianne 30/04/2023

Uma obra de arte pura e genuína
E eu que pensava que somente Chico Buarque tinha o poder de escrever sobre o universo feminino com tanta eficiência e sensibilidade. Mas agora me deparo com Itamar Vieira Junior.

Itamar criou um universo fictício para falar sobre escravidão contemporânea, racismo, machismo, preconceito religioso e violências diversas, pela voz de duas mulheres, Bibiana e Belonísia, que sofreram um acidente na infância que irá uni-las por toda uma vida.

Elas inicialmente vivem em condições de trabalho análogo a escravidão com sua família formada pela avó, pai e mãe. São pessoas simples, desprovidas de alfabetização e cuidados básicos que uma sociedade deveria ter com elas.

Criminalizadas seguem sobrevivendo e morrendo, estudando e cuidando da terra. Crescendo como podem.
Torto arado irá refinar sua empatia e respeito com o povo que lida com a terra. Um povo de crenças e culturas religiosas, que ainda hoje tentam ser apagadas pela ignorância enraizadas no coronelismo.

Vanessa.Jamille 07/06/2021

Um livro com muitos méritos
Ele é simples de ler. Tem um bom suspense. O romance insere fatos históricos que nos faz pensar da época dos navios negreiros até os dias de hoje.

Ari 22/05/2022

Um livro delicado e voraz
uma escrita linda que retrata a história de uma gente ainda mais bonita! Itamar usou a delicadeza das palavras pra expressar a força do nosso povo.

dibookclub 20/01/2024

A escravidão que foi abolida, mas nunca acabou.
Uma narrativa genuinamente brasileira, nos mostra a perspectiva do sertão escravocrata, onde até os dias atuais diversas famílias, descendentes de escravos africanos e indígenas continuam vivendo em situações análogas a escravidão. Sem saneamento básico, educação, remuneração, casa própria; uma vida digna que lhes foi roubada.
Ao correr da leitura temos as emoções quase palpáveis de Belonísia, Bibiana, Salu e tantos outros personagens. Vemos o desenvolvimento de uma língua de sinais onde somente os habitantes da fazenda Água Negra reconhecem.
Podemos refletir a cada página sobre nossa sociedade racista até os dias de hoje.
Um livro que estará no meu TOP10, e que eu indico à todos lerem.