Celenice.Moraes 25/01/2022
Necessário!!
Torto Arado é uma explosão de ensinamento, sentimento, lição, força.
O hype dele é compreensível, esse livro foi escrito e conduzido com uma maestria sem igual, vejo potencial para virar leitura obrigatória nas escolas. Merece.
O livro é dividido em 3 partes: Fio de Corte (narrado por Belonísia), Torto Arado (narrado por Bibiana) Rio de Sangue (narrado por Santa Rita Pescadeira) e se passa na Fazenda Água Negra.
A obra conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, que após um acidente provocado por uma brincadeira e curiosidade com a bolsa que a avó Donana guarda e provoca mistério para elas, terão suas vidas interligadas para sempre.
Residentes do Sertão baiano e filhas de pais humildes, crescem marcadas pela estigmatização e servidão de um trabalho cruel e abusador. A história não diz exatamente em qual período se passa, mas indica que é após o período escravocrata, e, com isso, o autor aborda de uma maneira muito forte as condições que as pessoas que foram escravizadas ficaram, a exclusão que sofreram, e como continuaram em situações de escravização, como é colocado no livro: ?Os donos já não podiam ter mais escravos, por causa da lei, mas precisavam deles. Então, foi assim que passaram a chamar os escravos de trabalhadores e moradores. Não poderiam arriscar, fingindo que nada mudou, porque os homens da lei poderiam criar caso...?. A família das irmãs e outras famílias que também residem em Água Negra, trabalham em situações cruéis em troca de residência - que só poderia ser de barro, pois assim não lhes asseguravam e nem davam garantia de permanência.
O livro não traz somente a violência e o trabalho servil, mas também dá ênfase a ancestralidade africana trazendo as tradições religiosas afro-brasileiras, atrelando a isso de uma maneira muito linda o protagonismo feminino. São pessoas pretas, descendentes de quilombolas que tocam o leitor de uma maneira inigualável, não só ensinando-as, mas introduzindo-as em uma realidade que até hoje é maquiada e superficializada. São críticas atuais a uma país que ainda está encalhado no passado e reproduz violências, perpetuando desigualdades raciais, sociais e de gênero.
Itamar Vieira me tocou de uma maneira linda e singela. Esse livro se tornou um dos favoritos não só de 2022, mas da vida. Ler sobre a história do meu povo e sobre a minha ancestralidade sempre me toca de maneiras indescritíveis.