Codinome 13/02/2021
Um pouco sobre "Quando a luz apaga"
Gustavo Ávila mantém sua fórmula de sucesso de “O sorriso da hiena” (pelo menos para mim, foi um sucesso, mas acredito que tenha vendido bem também): “Quando a luz apaga” é também um romance policial protagonizado pelo seu detetive Artur Veiga e possui uma estrutura narrativa muito parecida, apesar que nesse segundo livro, Ávila deixa mais complexo com sua abundância de personagens.
Outra similaridade é o estilo thriller (uma espécie de sub-gênero das histórias policiais) que o autor consegue trazer nessas suas duas obras: e o bom thriller é aquele que te fisga, deixando-o curioso para o que vai acontecer na próxima página ou no próximo capítulo, uma obra desse tipo consegue manter um clímax praticamente constante em todo seu desenrolar. Na minha opinião, essa é a melhor qualidade de Gustavo Ávila.
Em “Quando a luz apaga”, Artur investiga o sumiço de mendigos e quem está provocando esse sumiço, ambientado antes das histórias do primeiro livro. Ao longo do texto, e acredito que não seja spoiler, o detetive percebe que está lidando com um serial killer (outra similaridade com o caso de “O sorriso da hiena”). Como eu havia dito, existe uma estrutura narrativa peculiar nas duas obras: ambas mostram o serial killer cometendo suas atrocidades e revelando informações desconhecidas para o detetive, uma maneira de contar a história que difere do romance policial clássico, em que o detetive e o leitor possuem praticamente as mesmas informações para desvendar um crime. No entanto, Ávila não revela tudo para o leitor, principalmente em “Quando a luz apaga”: a diversidade de personagens em diferentes espaços (em alguns momentos, em diferentes tempos) joga um quebra-cabeça na mesa que também temos que montar, o autor tem uma preocupação bem “faulkneriana” em ir puxando esses fios narrativos para se convergirem da metade da obra para o fim.
A situação caçador-caça, que é protagonizada pelo investigador Artur e o serial killer, é muito bem escrita e situada; nela, aliás, senti o maior gosto pela leitura nesse livro, ambos são personagens inteligentes que parecem “jogar” entre si. Um pouco das palavras do escritor já perto do fim do livro: “(...) o suspeito tinha a vantagem de estar na frente por começar primeiro, ele possuía a vantagem de estar atrás, observando seus movimentos.”