Cê 04/10/2016
DOCE, FEMININO E ENCANTADOR
As histórias contadas por Isabel Allende transcendem o tempo, os lugares e os próprios personagens. Eu fico magnetizada pela sua escrita, tão poética e tão doce. Os seus livros são um dos meus tesouros mais preciosos. E Eva Luna, certamente, está entre eles.
Este romance aborda tantas questões importantes em nosso continente, que só alguém como Isabel Allende para, com tão poucas linhas, construir um romance tão profundo e tocante. Eva é filha da empregada doméstica Consuelo e de um índio jardineiro, fruto de um breve relacionamento. Foi criada na casa de um professor, pela sua mãe, até que esta faleceu. Continuou na casa sob os cuidados da cozinheira, sua Madrinha. Porém, o patrão morre e a Madrinha a entrega para uma casa de um casal de irmãos solteirões, onde Eva continua a exercer trabalhos domésticos. A partir de então, Eva passa de uma casa a outra e depois começa a viver outras aventuras.
Desde criança, Eva Luna tem o dom de contar histórias. Ela vive num momento de turbulência política, muito comum na história dos países latino-americanos, como a ditadura, a frágil democracia, a luta do comunismo e das guerrilhas. Outra questão abordada é a migração dos estrangeiros no pós II Guerra Mundial. Num primeiro momento, ela mal consegue entender sobre o que se passa ao seu redor. Porém, depois de estudar e ter acesso aos meios de comunicação, começa a acompanhar e até se envolver em um dos lados (apesar de o envolvimento ter sido mais por influência amorosa).
Um dos pontos que mais gostei do livro é a questão do feminismo. Eva Luna é uma mulher em muitas mulheres, forte, decidida, que passou por momentos muito difíceis e soube se reerguer e se reencontrar, para construir e reconstruir a sua história. Em um mundo e uma cultura ainda predominantemente machista, Eva se destaca questionando o papel da mulher na construção da sua identidade e dos seus desejos.
Com uma narrativa fluida, delicada e envolvente, esse romance é simplesmente perfeito.