Juliete Marçal 24/05/2020
Uma biblioteca itinerante que transforma vidas.
Em "Um Caminho para a Liberdade", temos uma história passada no final da década de 30, mais precisamente, em 1937, logo após a Grande Depressão (crise-econômica de 1929) nos Estados Unidos que afetou todo o mundo, e não menos as pessoas da cidadezinha de Baileyville, do estado do Kentucky.
A cidade recebe a proposta de colocar em prática uma biblioteca itinerante a cavalo, como forma de distribuir e emprestar livros e revistas para a população local e para os outros habitantes que moravam em regiões mais isoladas, como por exemplo, nas montanhas. O objetivo dessa biblioteca itinerante era incentivar a leitura, principalmente, entre aqueles que não tinham acesso aos livros e disseminar a educação.
"Cavalgar até algumas das casas mais remotas e fornecer material de leitura para aqueles que talvez não possam ir até as bibliotecas do condado devido a problemas de saúde, fragilidade ou falta de transporte."
Através da Biblioteca Itinerante da WPA de Baileyville, vamos conhecer a história das bibliotecárias que estão à sua sua frente: Margery, Alice, Beth, Izzy e Sophia. E são essas mesmas mulheres que vão viver os seus dias nessa biblioteca itinerante e vão passar por muitas coisas, entre perigos durante as entregas dos livros, aprender a lidar com elas mesmas e com os seus medos, se autodescobrir, além de ter que lidar com o machismo e preconceito de uma sociedade conservadora que aribuía à mulher apenas o papel de esposa, mãe e dona de casa.
"Boa coisa não é. As mulheres tem é que cuidar da casa. Daqui a pouco vão querer que sejam mineradoras, dirijam caminhões."
A narrativa foca mais nos dramas da Alice e da Margery. Em Alice, uma jovem inglesa que se casa com um americano como forma de viver uma vida nova, nos deparamos com o machismo, a falta de voz e liberdade, e a violência, mas também acompanharmos a sua transformação: de uma moça tímida para uma mulher forte e decidida que passa a ter a biblioteca como o seu refúgio. Do outro lado, temos a Margery, completamente o oposto de Alice, uma mulher independente e forte, que não tem uma fama muito boa na cidade, fama essa carregada através do nome e da história da sua família, que não era muito bem vista pela cidade. Margery é o tipo de personagem que tem a personalidade forte, que vive à sua maneira, não segue as regras impostas pela sociedade e quebra os paradigmas da mesma. Ela fala, pensa e faz exatamente o que quer, independente do que os outros vão pensar, e que ao mesmo tempo tem um coração bom.
"Nós mulheres, enfrentamos desafios surpreendentes quando escolhemos sair do que são considerados os nossos limites habituais."
O legal dessa história é que temos personagens femininas fortes e que se apoiam, é um livro que fala de livros e de como eles mudam vidas, ao mesmo tempo que aborda assuntos sociais tão importantes. É interessante ver no livro que algumas problemáticas abordadas pouco ou nada evoluíram, - que naquela época eram muito mais fortes -, e que temos ainda, essas mesmas batalhas para lutar, que se fazem tão presentes, apesar da pouca mudança.
"É chocante como as pessoas nessa cidade julgam o comportamento dos homens comparado ao das mulheres."
Apesar de demorar um pouco para desenrolar os fatos, a escrita da Jojo é realmente ótima e deixa aquela vontade de saber mais sobre os personagens e como tudo vai acabar, sem contar que a autora aborda questões bem importantes durante a narrativa, como a sociedade conservadora e machista, o preconceito, o racismo, a desigualdade social, a violência, a superação, o surgimento de uma amizade verdadeira, entre tantas outras questões.
"A vida é complicada. Por isso é importante encontrar alegria quando se pode."
De todos os livros da autora, esse sem dúvida tem uma pegada mais política e trata de assuntos tão antigos e que são muito atuais. É um livro que causa um misto de emoções! Eu adorei essa história inspiradora, emocionante e maravilhosa! Merece muito ser lida!
"Não há nada mais perigoso que uma mulher armada de conhecimento. Mesmo que ela tenha apenas doze anos."
^^