eduardaalvesz 07/02/2021Resenha: Memórias de Um Sargento de MilíciasÉ um clássico brasileiro extremamente memorável, e eu consigo entender exatamente o porquê. A ironia presente na narrativa voltada para a sociedade e comportamentos da época é bem perspicaz, e os temas Realistas presentes nesta história publicada durante a época Romântica também chamam bastante a atenção. A ?malandragem brasileira?, a corrupção, as mentiras e a pobreza de quase todos os personagens devem ter chamado a atenção dos críticos da época, que esperavam histórias idealizadas de amor da burguesia. O livro é um retrato bem interessante nesse sentido da época que retrata, e também da qual foi escrito.
Abro aqui um parênteses para discutir a questão racial horrenda presente no livro: no tempo em que a história se passa a escravidão ainda estava em vigor no Brasil, e todo esse processo é altamente naturalizado durante toda a narrativa, com diversas menções aos ?criados e escravos de [tal personagem]?. Outras personagens racializadas na narrativa são cobertas de esteriótipos, como os grupos ciganos que são descritos como as ?piores coisas que podem chegar em um país? e ?vagabundos, mentirosos e infiéis?, além da objetificação das mulheres ciganas presentes na narrativa. Também há objetificação das mulheres negras, principalmente com as Baianas (que têm descritas suas roupas e acessórios sensuais que, afirmado pela narrativa, ?seriam uma dádiva em um país melhor, com mulheres de pele alva?), e também a partir da personagem Vidinha. No caso dela entramos também com o sexismo, pois o livro faz um paralelo claro entre Vidinha, uma ?mulata? livre, cheia de personalidade e estourada, e Luizinha, a ?mulher ideal?, que seria branca, submissa e indiferente na maior parte do tempo. Há ainda um personagem negro que seria uma espécie de feiticeiro, e que a narrativa faz questão de descrever da forma mais repugnante possível.
No geral, achei o livro uma boa análise da sociedade da época e bom objeto de estudo, apenas.