Wendell 12/09/2023
Um ótimo livro de estreia
Com uma escrita ainda embrionária, Dostoiévski constrói uma original e realista história de dois personagens que são excluídos da sociedade em que vivem, e que encontram um no outro o refúgio da solidão, da pobreza e das dores pessoais dos dois personagens.
A relação dos dois personagens é muito interessante. Por um lado, temos o Makar, esse funcionário público de baixa patente que vive sozinho à margem da pobreza, sem ter dinheiro para comprar roupas para si (algo agravado ainda mais por seu vício em bebidas), mas que mesmo assim tirava tempo para escrever longas cartas e ajudar sua fiel Varvara, sua pombinha querida, uma parente muito distante. Ela tem as próprias questões, suas fraquezas de saúde, e percebe-se que é muito frágil e ainda sofre com os traumas passados.
Com relação às temáticas, Gente Pobre é um fiel retrato psicológico de pessoas em situações paupérrimas, suas dores, dificuldades, questionamentos, traumas e seu amor. É um livro, apesar de tudo, sobre encontrar acalento nas palavras de outra pessoa, sobre ter alguém ao seu lado que te apoiará nos momentos mais difíceis, saberá reconhecer seu mérito quando estiver certo e censurar seus excessos quanto estiver errado.
É um livro sobre os efeitos da pobreza, do trauma, dos vícios, sobre questionamentos acerca do futuro, é o retrato do ?homem insignificante", é sobre amizade platônica. Resumidamente, é um retrato de um trecho na vida de dois personagens que são explorados com afinco. É um livro sobre pessoas. Sobre pessoas sendo normais, e vivendo, e sentindo, e sofrendo a realidade.
Por vezes, senti o livro repetitivo. E realmente é. Acredito que isso de deve pela condição dos personagens, afinal eles não têm grandes acontecimentos em sua vida. Makar trabalha, tem as suas questões e Varvara fica mais em casa, então não é como se a vida deles fosse o maior entretenimento. O que é a graça da história é o que eles falam um para o outro e como isso ressoa na Rússia da época.
Apesar de tudo, não vou negar que é algo que tornou a leitura truncada e menos prazerosa.
Apesar de tudo, devemos considerar que é o primeiro livro de Fiódor. Não temos os grandes aprofundamentos psicológicos de Irmãos Karamazov ou Crime e Castigo, nem a maturidade desses romances. Mesmo assim, é um ótimo livro de estreia.
Foi uma leitura que valeu muito a pena, que trouxe ótimas discussões e que me fez pensar mais sobre a vida, sobre a desigualdade, sobre a perda e sobre a simplicidade de nossas relações.