vyalmeida 26/02/2024
Sobre os Capitães da Areia
Essa é uma leitura muito envolvente, ela nos amarra a história dos meninos, explora bastante questões sociais, misérias e desgraças que vemos até hoje em Salvador, e no do Brasil inteiro. O descaso com as crianças abandonadas é a principal delas!
O livro conta a história de meninos de rua desamparados que vivem num trapiche abandonado no cais de Salvador. No início do livro há um conflito sobre a responsabilidade social relacionada a eles, neste início, temos cartas de personagens que dizem a respeito dos meninos, autoridades públicas e cidadãos que convivem de perto com o problema.
Cada um tem uma visão sobre eles: "Os capitães da Areia", para alguns, eles são marginais, para outros, apenas crianças. E assim se sucede a história.
No decorrer do livro ocorrem várias situações em que eles atuam em conjunto, e outras, que são mais individuais, focando em um personagem específico, assim podemos conhecer um pouco a personalidade de cada um.
Para além disso, o livro traz muitos aspectos regionalísticos interessantes, ideologias, culturas, que estão relacionados a cidade de Salvador e ao nordeste em geral.
Ademais, gostei bastante da história em si, e do desfecho das histórias (pois cada personagem tem o seu próprio desfecho, apesar das aventuras vividas em grupo).
O grande companheirismo dos garotos, para mim, é algo lindo. A união deles, selada pela dor e "alegria" do destino a eles imposto. São sim "como uma grande família" como diz no livro. A narrativa traz à tona muito fortemente o valor da amizade: a amizade verdadeira que é companhia, liberdade para ser quem se é, respeito, apoio, empatia e solidariedade. Só fiquei triste mesmo pelo Sem-Pernas, queria que ele tivesse se permitido ser amado. Era o meu personagem favorito, com ele ocorrem vários dilemas traumáticos que infelizmente não cuminam num desfecho feliz.
Segue algumas frases/trechos que gostei e me marcaram:
"Não era uma flor de estufa. Amava o sol, a rua, a liberdade."
"A liberdade é como o sol, o bem maior do mundo."
"Aos poucos o trem abandona a estação. Depois é a estrada do sertão, Índia Nordestina. Nas casas de barro aparecem mulheres e meninas. Homens seminus lavram a terra. Na estrada de animais que corre paralela a estrada de ferro passam boiadas. Vaqueiros gritam tangendo os animais. Nas estações vendem doces de milho, mingau, mugunzá, pamonha e canjica. O sertão vai entrando pelo nariz e pelos olhos de Volta-Seca. Queijos e rapaduras passam em tabuleiros nas pequenas estações, as paisagens agrestes jamais esquecidas enchem novamente os olhos do sertanejo. Esses muitos anos na cidade não tinham arrancado seu amor ao sertão miserável e belo."
Espero que vocês degustem dessa leitura tanto quanto eu.