Helena Dias 27/05/2024DLL24: Um livro com protagonismo negro
Vamos acompanhar a jornada de Tituba, mulher negra que sofreu as mazelas da escravidão desde seu nascimento. Com o prefácio escrito por Conceição Evaristo, Maryse Condé constrói um enredo para Tituba, desfazendo todo o apagamento histórico que lhe foi causado.
Através de sua escrita envolvente e fácil de acompanhar, a autora nos apresenta a personalidade de protagonista aos poucos. A sensação que me passou foi de estar caminhando ao seu lado. Tituba é sofrida e, apesar das constantes humilhações e perdas que sofreu, se mantém inocente diante de toda a maldade ao seu redor. Sua relação com a religião e suas crenças pessoais, na minha opinião, é a uma das partes mais bonitas em seu jeito de viver. As conversas/ensinamentos que ela tem com Man Yaya e Abena durante toda narrativa e como ela sempre busca pelos conselhos delas são de igual beleza, eu diria.
Esse é um livro denso, que carrega muito sentimentos e nos faz passar por eles sem qualquer aviso prévio. Por várias vezes me peguei querendo abraçar Tituba. Acredito também que há muito do posicionamento político de Condé presente nessa história, principalmente ao abordar temas como escravidão, racismo, aborto, relacionamentos e machismo. E a autora faz isso com coragem, nos tirando da zona de conforto emocional e intelectual.
Só não dei 5 estrelas porque a parte inicial de Salém pareceu diminuir o ritmo, deixando a história um pouco morna e porque algumas situações mais para o desfecho do livro não foram tanto do meu agrado. Fora esses detalhes mais pessoais, eu adorei o livro e de como Condé conseguiu de forma majestosa humanizar Tituba ao lhe conceder uma história.