Gustavo Simas 16/06/2022Solucionando um "crime" impossívelAssassinar um robô pode ser considerado um crime? "Assassinato" é a palavra certa para este incidente? É possível se relacionar sexual e conjugalmente com um robô?
Estas são algumas das perguntas estranhas que Asimov tenta responder em Os Robôs da Alvorada. A obra segue a dinâmica de Elijah Baley, o investigador terráqueo, agora conhecido intermundialmente, em solucionar crimes impossíveis. A diferença é que, aqui, o próprio fato do evento ser um crime é discutido, com análises metaforenses asimovianas trazendo ponderações inusitadas.
Com quase 30 anos de diferença entre o antecessor e este (assim como fez nas continuações de Fundação), Isaac Asimov entrelaça seu universo a partir da parceria entre o robô humaniforme Daneel Olivaw e Elijah Baley, contendo, agora, um novo personagem de destaque, o robô Giskard Reventlov.
Há sempre as dualidades em tema: robôs e humanos, terráqueos e siderais, globalistas e humanistas. E Baley produz a dinâmica do livro com sua teimosia e curiosidade ferrenhas. O civilismo e educação dos personagens se traduz na linguagem que Asimov adota sempre em suas obras, sem migrar para algo muito barroco ou ininteligível.
Ainda assim, é perceptível prolixidade em partes que mereciam ser enxugadas. Inclusive, Asimov poderia dar mais destaque e explorar melhor a história de personagens femininas, que são apresentadas, mas logo tratadas apenas como instrumentos na narrativa. Outro ponto que poderia ser polido é que Isaac bate demais na tecla das 3 Leis da Robótica, toda vez apresentando e repetindo os motes das leis como que para gravar, à exaustão e por repetição, na memória dos leitores que já se lembram exatamente das 3 Leis.
No fim, Os Robôs da Alvorada é um livro que prepara terreno para o fim da série com a obra seguinte (Robôs e Império), deixando mais complexo e interligado o universo asimoviano.