Henrie 17/08/2014
Não recomendo
Não conseguiu me cativar. Nada. Nem o enredo e nem mesmo os personagens que à primeira vista me pareceram promissores, estes que no decorrer do enredo se revelaram mal desenvolvidos. A narrativa não flui de forma prazerosa em nenhum momento; este é um daqueles tipos de livro que você lê sem emoção – você não sente empatia pelo protagonista, e dificilmente sentirá pelos personagens secundários. É exatamente – para mim – o tipo de livro em que o leitor passa a verificar a cada dois minutos o numero de páginas restantes para que o livro acabe. Só li todo porque não sou adepto da ideia de abandonar uma leitura.
Note que o gancho da historia foi bem forçado e meio previsível: Para tentar descobrir a identidade e a história de um homem que dissecará por um ano na faculdade de anatomia, Marco Polo sai às ruas a procura de alguém de quem possa extrair informações que o ajudem. O gesto é bonito, admito, mas é previsível, o autor simplesmente precisou de um gancho e esse pareceu ser a última saída. Quem em sã consciência, em são juizo, vai a uma praça gigantesca à procura de um mendigo para dele retirar informações respeito de um completo desconhecido?
E há também o fato curioso de que livro possui personagens cujos nomes pertencem a personagens históricos; exemplos disso são: Marco Polo, o protagonista (nome do famoso aventureiro italiano do século XIII, citados muitas vezes na obra), e Sócrates (antigo filosofo grego, também citado), o verdadeiro nome do amigo mendigo do protagonista.
Não há na história um personagem forte senão o próprio Marco Polo, inacreditavelmente todos os personagens com os quais ele se envolve estão doentes ou de alguma forma estão corrompidas pelo sistema social. O personagem Falcão (mendigo de invejável inteligência em seus momentos de sanidade) é, posso dizer, completamente inútil. Só estava na trama para que houvesse uma história e apenas para fazê-la engrenar, pois depois que ele entra na vida do protagonista e o ensina a ser um pensador, perde destaque na trama. O pior é que o futuro desse personagem e o modo como ele se readaptou ao estilo de vida do qual estava afastado, nem sequer foi exposto de forma profunda. O autor simplesmente jogou um bom personagem no lixo, enquanto outros foram mal aproveitados e seus futuros converteram-se num vazio, em dúvidas.
Não há seque um único personagem cativante, um personagem autônomo que seja capaz de se aproximar de Marco Polo sem que sua vida seja completamente revolucionada pelo mesmo. Com sua autoconfiança e seu modo ímpar de ver as pessoas, ele simplesmente transforma a vida de todos ao seu redor. Mas isso não é algo bom? Sim. Mas só quando é bem desenvolvido, pois do contrário, não condirá com a realidade.
E não posso me esquecer das inúmeras páginas sobre palestras, medicações, informações a respeito de indústrias farmacêuticas e longas aulas na faculdade pelas quais os personagens são submetidos e que chega a transbordar das páginas do livro de tão entediante. Sem falar que o final do livro é simplesmente de revirar os olhos. Decepcionante. Falta de imaginação e criatividade por parte do autor, que se perdeu completamente no enredo – o que no inicio era um livro cheio de psicologia, filosofia e uma visão crítica à uma sociedade doente, tornou-se um livro com um gênero diferente. O objetivo do personagem na narrativa é simplesmente deixado de lado e seu foco principal é substituído pela sua relação emocional com Ana, que anteriormente fora apenas um subenredo – o que, vendo por outro ângulo, foi o ponto mais alto do livro –, o que não contribuiu para salvar a história. Na capa do livro está escrito “A emocionante história de um médico e um mendigo em busca de um mundo melhor”, esta bela frase que poderia ter sido convertida brilhantemente para este romance se tivesse sido trabalhada com mais afinco e criatividade. A busca por um mundo melhor é um tema abstrato que exige de qualquer ator a capacidade de abordar esse tema buscando inspiração e espírito criativo nos resquícios mais remotos da mente humana, de forma minuciosa, e, ao meu ver, Cury ainda não demonstrou possuir essa capacidade. Aqui não encontramos um romance de fantasia, é totalmente diferente de Frodo em sua jornada até as Fendas da Perdição para destruir o Anel do Poder ou Harry Potter em busca de paz. Fora da fantasia, temas como esse possuem uma busca não alcançável de forma literal.
O livro possui momentos reflexivos, interessantes até. E claro que, como qualquer outro livro, “O Futuro da Humanidade” possui seus lados positivos que podem surtir diferentes efeitos dependendo da percepção de cada leitor. Se você gosta de psicologia, psiquiatria e filosofia, poderá gostar das informações presentes no livro. Se tem – ou tinha – interesse no livro, não deixa de ler; leia e forme sua própria opinião.
Mas para mim ele foi mal desenvolvido e extremamente cansativo. Não leria de novo. Não recomendo.