Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 28/03/2023Conhecer Morangos mofados se faz necessário em alguma medidaEsta obra é uma antologia de contos, e muitos dos textos retratam relacionamentos homoafetivos.
Os personagens, na maior parte dos contos desta antologia, não possuem nome e em mais de um momento me enganei com relação ao que imaginava sobre eles (porque, claro, meu pensamento sempre acabava seguindo, mesmo que sem querer, um padrão que não era o que o autor estava retratando).
Achei alguns textos de uma poética bonita, mas que os deixam mais difíceis de ler, tornando o ritmo de leitura um pouco mais lento. Ritmo este que talvez fosse necessário para uma obra como esta.
As temáticas também nem sempre facilitam: falar do ser humano, da nossa complexidade, dos nossos medos, sem sombra de dúvidas não é algo que se faça de maneira simples.
A obra é dividida em três partes:
O mofo — contém nove contos e é dedicada aos tempos da ditadura militar.
O morango — contém oito contos e trata sobretudo das transformações interiores.
Morangos mofados — contém o conto que dá nome ao livro.
Esta edição da Companhia das Letras é muito bonita: o papel tem um toque gostoso e torna a leitura confortável e as bordas são arredondadas. Além disso, ela conta com uma carta do autor a José Márcio Penido e um posfácio de José Castello, que torna toda a leitura ainda mais significativa.
Apesar do período em que foi publicado, Morangos mofados ainda conserva ares de atualidade (o que não necessariamente é bom). E alguns de seus trechos ganham novos e inesperados significados com o passar dos anos.
Todos os contos possuem uma dedicatória, o que acrescenta mais uma dimensão às narrativas e também à obra.
O texto que mais gostei foi Aqueles dois — história de aparente mediocridade e repressão. Uma das poucas histórias em que os personagens têm nome e cuja narrativa possui uma clareza deliciosa de acompanhar.
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