Alexsander.Camargos 19/02/2022
A Filosofia Explica Bolsonaro não passa do compilado banal de observações do autor sobre Bolsonaro e seus assecla
De fato, não é fácil compreender ou explicar Jair Messias Bolsonaro. O outrora deputado federal integrante do baixo clero já era conhecido por um fazer declarações absurdas fora de hora e por vezes autoritárias. Dono de uma ignorância latente e uma completa falta de tino político, ingênuo foram os que vislumbraram nele uma possível redenção após a catástrofe dos governos petistas.
Ao longo de 174 páginas, Ghiraldelli divide sua análise — seus capítulos — dentre os principais atores que compõe o circo de horrores e a direita evangélica brasileira como um todo, espinha dorsal do governo de Bolsonaro. Há um capítulo para o presidente, para os filhos, para o "guru" Olavo de Carvalho, para Damares Alves, para Ricardo Salles e até para o MBL.
No entanto, conforme adentrei nas páginas editadas pela Leya, a decepção foi surgindo. A tal filosofia some. Zero conteúdo, zero filosofia. O que se vê são pequenos ensaios, muito pessoais, de Ghiraldelli sobre o governo. Há observações sobre tudo que toma a presidência da república nos últimos meses e filosofia, que seria o objetivo da obra, nada. A Filosofia Explica Bolsonaro não passa do compilado banal de observações do autor sobre Bolsonaro e seus asseclas.
A filosofia em si, prometida no título, é encontrada de fato em dois capítulos: na introdução, onde Ghiraldelli faz uma explicação sobre o capitalismo do ponto de vista de um declarado esquerdista. E numa conclusão chamada Excurso. Nesta parte, a filosofia e a teoria transbordam. Oras, para que serviu o resto do livro? Era isso que estava esperando!
A Filosofia Explica Bolsonaro, no final, serve para exemplificar os motivos da esquerda não estar conseguindo contornar esse governo que armas as próprias arapucas. As críticas são levianas, pessoais demais. As bochechas de Paulo Guedes, os seios de Joice Hasselman, o micro pênis de Eduardo Bolsonaro. Constatações que nada acrescentam ao debate político. Apenas acirram os ânimos e expõe uma possível falta de argumentos.
Num governo de imbecis e ignorantes, o melhor é combater tudo isso com cultura, filosofia. É o que esperava deste livro de Ghiraldelli. Mais Foucault, mais Platão, mais Deleuze. No entanto, no final, o que se observa é um amontoado de observações planas e uma psicologia de boteco — sério? Vai falar que Bolsonaro é assim por conta de algum trauma de infância? Chega a ser constrangedor.
Uma pena. Tinha muito potencial.