Paulo Silas 26/06/2020Uma obra que chama a atenção para a problemática da violência contra a mulher. Com uma narrativa fluida, atrativa e chocante, Patrícia Melo fornece ao leitor em "Mulheres Empilhadas" uma história que além de atrativa serve também como alerta para a questão denunciada na obra. Através de uma trama ficcional, a autora lança luz às problemáticas tantas que permeiam e pairam sobre a questão da mulher vítima de violência - violência essa que aqui se diz e mostra de forma ampla e abrangente, como algo algo estrutural e arraigado na cultura e sociedade em geral. Um livro que choca, portanto, mas da maneira suficiente para despertar a atenção para algo que precisa ser abordado.
"Mulheres Empilhadas" traz a história de uma advogada paulista que viaja até o Acre para acompanhar julgamentos de casos de feminicídio. Após receber um tapa na cara de seu então companheiro, violência que teria sido motivada por ciúmes, a advogada aproveita uma oportunidade que surge, viajando então até o Acre para acompanhar julgamentos de casos de feminicídio. A proposta consiste em reunir dados (sobre as mulheres que, mortas por seus companheiros, são empilhadas nos dados estatísticos de violência contra a mulher) para a pesquisa de uma amiga sobre o tema. No novo estado, a protagonista conhece várias histórias, outras pessoas e passa a gostar do lugar em que está. Por uma série de razões, que abarcam a fuga do seu ex-companheiro ante ao término mal resolvido e o desfecho de um caso de feminicídio no Acre que não foi julgado de acordo com o que se esperava, a advogada acaba ali permanecendo, deixado para trás seu cotidiano paulista, o que acarreta inclusive na perda do emprego. É ali, no Acre, que a advogada experimenta outra vivência, aproximando-se cada vez mais da questão da violência contra a mulher.
O livro atrai e convence. Atordoa na medida necessária ao colocar o leitor em contato com a realidade da problemática exposta em suas páginas. Por mais seja uma história ficcional, o livro traduz a realidade - seja por alguns dos capítulos serem intercalados com notícias sobre casos reais de violência contra a mulher, seja por representar aquilo que realmente e muito acontece numa sociedade machista. Formas tantas de violência são expostas na obra, focando principalmente naquela de sangue. O que enseja no feminicídio, porém, também está presente no livro. A partir de situações comuns no cotidiano da sociedade em geral, as violências surgem e se mantêm, perpetuando-se num cenário em que a mulher passa a ser vítima constantes dos diversos tipos de agressão nesse sentido - tais como o revenge porn, a violência psíquica e tantas outras - que se fazem presentes na obra. É com grande acerto, portanto, que Patrícia Melo constrói a história aqui presente, expondo o problema das diversas mulheres empilhadas cujos corpos continuam sendo amontoados.