Nahayra 23/10/2023
Ritanna Armeni é uma jornalista e escritora italiana.
Durante uma entrevista que realizou com Ivan Martinushkin, um dos primeiros militares soviéticos a entrar em Auschwitz, teve conhecimento sobre as ?Bruxas da Noite? no qual ele mencionara de forma casual sobre. Elas eram jovens mulheres temidas pelos alemães. E, imediatamente, a autora quis saber mais sobre elas.
Durante uma viagem à Rússia, Ritanna quis tentar contato com elas, já que Ivan teria mencionado que era possível conhecê-las, mas foram apenas tentativas. Até que sua amiga e tradutora Eleonora, conseguiu falar com Vladimir A. Naumkin, um dos responsáveis entre os veteranos, que concordou em encontrar com elas e apresentou-as à Irina Rakobolskaya, de 96 anos que foi vice-comandante do regimento 588 e chefe da equipe.
A obra é contada em terceira pessoa, através dos relatos de Irina e dos diários deixados pelas suas amigas. Muitas vezes a autora para a narrativa e conta gestos, e o que Irinia mostrava e explicava (mapas, fotografias e etc) enquanto contava algumas histórias. E até mesmo para falar de pesquisas externas que fazia através dos relatos.
Irina queria contar sua história e de suas amigas, queria que o mundo tivesse conhecimento de que tinham feito um papel crucial na história da Segunda Guerra Mundial, conhecida pelos russos como ?Grande Guerra Patriótica?.
Marina Raskova foi quem deu vida ao regimento feminino da Força Aérea Russa, enfrentando Stalin e conseguindo sua autorização, após dizer que as mulheres são capaz de tudo e que o regimento seria inteiramente feminino. Foi ela que treinou as mulheres, que logo depois, se tornaram tão temidas que ganharam o apelido de ?bruxas da noite? pelos alemães nazistas.
?As mulherzinhas que no início não sabiam voar, que não conheciam a disciplina militar e voltavam de toda missão com as pernas trêmulas e o estômago revirado finalmente são odiadas e temidas. São as Nachthexen. Mas eu gosto, nós gostávamos de dizer bruxas e pensar que nos definiam assim porque não conseguiam nos derrubar.?
? Mas afinal, o que as bruxas faziam? Em pequenas aeronaves, iam até o território ocupado pelos alemães e soltavam bombas quando eles menos esperavam. Foram 1100 noites de combate, as mesmas realizaram 23 mil voos.
?Fizemos um máximo de 325 voos em uma noite e queríamos fazer cada vez mais. Vinte e três mil em toda a guerra. Sim, claro, por patriotismo, mas também porque queríamos superar os homens. Os homens combatiam por dever e, por isso, obedeciam cegamente às ordens. Nós não queríamos ser iguais, queríamos ser melhores.?
? E qual o motivo de não conhecemos a história delas? Mikhail Kalin, presidente do Soviete Supremo aconselhou elas a deixarem de lado o recente passado dos combates e esquecessem, que elas tinham a nova missão de servir a pátria como mulheres e mães pois era preciso crescer a natalidade e a produção no Estado socialista. Que a pátria não queriam que continuassem exercendo papéis destinados aos homens. Então sim, não conhecemos as bruxas por uma razão machista.
Irina não gostou do discurso, e queria proteger o passado para que essa história não fosse esquecida. Como vice-comandante do regimento, ela possuia documentos, bandeiras, e até mesmo, alguns itens das bruxas que morreram em combate. Irina levou algumas coisas até o Museu do Exército Vermelho, em Moscou, local no qual ela nunca mais voltou. Outras ela guardou, e forneceu à autora da obra.
Irina faleceu em dezembro de 2016, com 97 anos e não chegou a ver a sua história pronta e publicada. E, seu próprio país, não deu tanto destaque à sua morte quanto o jornal inglês, que foi por onde a autora descobriu. Apenas concederam a honra de ser sepultada em Novodevichy, o prestigiado cemitério dos heróis em que repousam Tchekov, Eisenstein e muitos outros.
O livro conta não apenas a história delas, mas o quanto sofreram por estarem em um ambiente masculino. Conta suas estratégias de guerra, seus sofrimentos com as perdas, suas amizades, seus relacionamentos e o que fizeram após os combates. É uma história emocionante que prende o leitor desde o primeiro capítulo.