Murphy 28/03/2024
"Às vezes o homem prefere o sofrimento à paixão."
Geralmente eu prefiro fazer minhas resenhas logo depois de terminar o livro, enquanto minhas emoções ainda estão frescas e vívidas, pra não perder nenhum sentimento que tive durante a leitura. Este livro em específico, é um tanto difícil de passar em palavras, sinto como se estivesse tentando capturar o vento em um punhado de termos de um vocabulário que eu não conheço. Porque, mesmo depois de fechar o livro, minha mente ainda ecoa com a profunda ressonância das emoções despertadas, é como se meu cérebro não pudesse processar as informações que li, na mesma velocidade que capturou os sentimentos que a obra quis passar.
Ainda que tenha lido apenas uma outra obra do autor (duas, incluindo esta), arrisco em afirmar que Dostoiévski possui uma habilidade singular em sua escrita, capaz de fazer o leitor se sentir pequeno e simplório diante da grandiosidade e complexidade da existência que ele desvela. É incrível a forma que ele repassa para o papel a verdadeira essência da condição humana, desvendando camadas de sentimentos complexos que ecoam no próprio ser.
Acompanhando o protagonista em sua jornada, somos levados a confrontar os labirintos escuros da alma, onde a tristeza se entrelaça com a esperança, a dúvida com o ressentimento, e a solidão com o desejo ardente por conexão humana. Todos esses sentimentos são chacoalhados em nós como uma batida maluca, que depois de um tempo, de certa forma, acaba sendo tão complexo, que faz sentido.
Não sei se eu bati a cabeça durante a leitura, mas senti como se Dostoiévski destrinchasse o personagem, de forma que ele se tornasse um reflexo distorcido do próprio leitor, me senti intimidada com a convocação para explorar os abismos da minha própria existência. Confesso que geralmente me sinto tão ridícula quanto o próprio homem ridículo, mas a forma que o autor descreveu o "despertar" do personagem, me deixou motivada para olhar de outro ângulo alguns aspectos da vida.
Esse livro não se encontra apenas uma história, mas um espelho no qual é possível se ver refletidos seus próprios medos e desejos mais profundos. É uma narrativa que não apenas me comoveu, mas me deixou com uma sensação de vulnerabilidade e ânsia por encontrar significados diferentes em meio ao caos da vida. Tenho uma inclinação a gostar de coisas dramáticas, melancólicas e vulneráveis, e esse livro apesar de começar com essa premissa, ele traz acima de tudo, esperança... Então vamos ver, né?