spoiler visualizarVitória 17/05/2022
"'Sempre que um amigo tem sucesso', disse Theo, 'um pedacinho de mim morre. Isso é do Truman Capote, não?'
'Não, é do Gore', respondi 'E você conhece o provérbio sobre a ambição, não?'
Theo sacudiu a cabeça.
'É como fazer uma escada para o céu. Um inútil dispêndio de energia.'"
Já li muitos livros do John Boyne. Confesso que, apesar de gostar muito do autor, ele me decepciona em alguns casos, enquanto em outros ele me entrega livros que se tornam favoritos da vida. Esse aqui ficou em um meio termo, está longe de ser um dos melhores, mas também não fica entre os negativos.
Durante a primeira parte, pensei que o livro seria todo sobre o Erich, e só esse pensamento já me incomodou. A gente percebe que ele é um cara muito solitário, mas, depois de saber tudo o que ele tinha feito durante a segunda guerra, esse sentimento de pena se transformou em ódio. Confesso que, mesmo com toda aquela situação do Maurice publicar a história da vida do Erich sem a autorização dele, eu acabei simpatizando mais com o Maurice, apesar de reconhecer que ele estava errado.
No interlúdio as coisas começaram a se mostrar mais claramente. Foi aí que eu percebi que o Maurice seria o protagonista dessa história, mas foi só na segunda parte que eu consegui ver tudo o que ele era capaz de fazer. Ele se revela um cara extremamente manipulador e narcisista, e daí pra frente foi só ladeira abaixo. Mesmo no início dessa parte eu percebi que ele não conseguia escrever bons livros a partir de ideias próprias, mas eu nunca esperava tudo o que estava por vir. Não sei se foi porque os acontecimentos aqui são mais pesados, mas a parte da Edith me afetou muito mais que a do Erich.
O John Boyne praticamente cria um livro novo do zero a cada parte que se inicia. A terceira é completamente diferente das outras duas, a gente se depara com mais um absurdo cometido pelo Maurice ao mesmo tempo em que assiste a sua derrocada. Eu já estava com tanto ódio dele a essa altura que só soube comemorar quando o Theo revelou quem ele realmente era. Mas o filho da mãe é tão esperto que mesmo preso, pagando por tudo o que fez, ainda consegue sair por cima.
Eu já sabia, pela leitura de o pacifista, que o John Boyne tinha capacidade de me fazer odiar alguém profundamente, mas aqui foi muito diferente. A gente não vê nenhum lado humano do Maurice, ele é um completo psicopata, e só desperta o nosso ódio. Por ter me feito sentir tantas coisas intensas, acho que esse livro merece uma boa nota. É extremamente bem escrito, assim como todos do autor, mas, mesmo assim, não conseguiu ficar entre os meus favoritos. Acho que o fato de toda a história ser resumida somente na raiva que sentimos pelo Maurice tornou as coisas um pouco cansativas, mesmo que eu mal tenha conseguido largar esse livro durante a leitura. Agora eu só queria saber de um do John Boyne pra ler que seja quase certo que eu goste, porque venho em uma sucessão de livros mais ou menos dele, assim vou acabar me cansando do autor.