Bárbara 21/03/2021Impactante e imprescindívelQue tal viver em um mundo no qual a felicidade é uma constante? Onde qualquer dificuldade se cura facilmente com uma dose de remédio? Onde não há razão para reclamar do trabalho, nem dos relacionamentos?
Esse foi o mundo idealizado pelo autor nesse livro, escrito em 1932. O ano é 632 D.F.; os anos são contados tendo como figura central Henry Ford, criador da produção em série. Nessa Londres distópica, os bebês são de proveta. Desde o início, são previamente separados em castas, cada qual com um futuro certo. Alfas, betas, gamas, deltas e ípsilons, ainda bebês, recebem nutrientes e estímulos para que cresçam satisfeitos.
Aqui, diferentemente de outras distopias, não existe repressão. O controle da população é anterior ao nascimento. Há, ainda, o condicionamento psicológico desde o berço, em que as pessoas ouvem, incontáveis vezes, enquanto dormem, algumas frases pré-concebidas, e que incutem nas suas mentes que tudo é perfeito.
Após suas rotinas diárias, todos recebem uma quantidade determinada de Soma, droga criada pelas autoridades para que as pessoas se considerem felizes, numa fuga da realidade.
A obra antecipou algumas coisas que só viriam a ser pensadas muitos anos depois, como a reprodução assistida e a manipulação condicionada através da hipnopedia. Na obra, Bernard Marx, é um alfa e psicólogo, e começa a duvidar de algumas coisas da sociedade.
Certo dia, ele resolve conhecer a Reserva dos Selvagens, no longínquo Velho Mundo, no Novo México, onde alguns costumes do passado ainda são preservados, nos moldes das reservas indígenas. Lá, os filhos são concebidos naturalmente, e a religião e outros costumes ainda são existentes. Nesse choque de culturas, Bernard conhece John, um selvagem à margem da sua própria sociedade, pois é filho de Linda, uma mulher que já pertenceu à mesma sociedade de Bernard, mas que acabou perdida numa viagem em anos anteriores e que, apesar de todos os cuidados, acabou engravidando, algo inconcebível para ela.
Bernard, então, resolve voltar ao seu mundo acompanhado de John e Linda. O selvagem passa a ser uma celebridade instantânea, posto que é algo único. Todos querem conhecê-lo; as mulheres querem ainda mais. Linda, por outro lado, é vista com nojo. Uma beta que virou selvagem? Insustentável naquela sociedade! E aí, há um novo choque de culturas. John não consegue entender aquelas pessoas que se dizem livres.
Impactante e magistral, esse clássico da ficção científica merece todos os aplausos. Atual a ponto de chocar, é um enredo que prende a leitura. O título é baseado num trecho da obra shakespereana chamada de A tempestade. A referência ao autor está presente em muitos momentos, através da voz do selvagem. Narrado em terceira pessoa, é uma obra grandiosa. Aqui, a violência é silenciosa, fantasiada de sociedade feliz. Se você ainda não leu, não perca a chance, pois as reflexões são imensas.
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