Francielly Oliveira 14/05/2024
Como avaliar a obra: pela narrativa ou pela experiência?
Qual é o melhor método de avaliação literária: julgar pela narrativa ou pela experiência?
Essa é uma pergunta que me fez refletir bastante antes de iniciar esta resenha. Sinceramente, quando comecei a ler Killing Stalking, não tinha a menor intenção de escrever sobre ele. Mas, conforme eu avançava na leitura, me vi diante de um dilema muitíssimo importante: quantas estrelas eu daria para essa obra no Skoob?
Se eu optasse por cinco estrelas, isso significaria que adorei? O problema é que Killing Stalking não me deixou indiferente; ele me incomodou, me chocou e até mesmo perturbou um pouco. Mas será que isso é negativo? Não, não creio que seja. Afinal, consigo distinguir claramente a ficção da realidade, especialmente quando se trata de um manhwa de terror psicológico. Então, por que não quatro estrelas? Uma avaliação baseada na construção do enredo, na abordagem dos temas, no desenvolvimento dos personagens e, é claro, na habilidade de criar uma narrativa emocionante que segue a estrutura clássica de três atos (Configuração, Confronto e Resolução). Parece justo, certo?
A história gira em torno de Yoon Bum, um jovem com problemas mentais e um passado conturbado. Após se apaixonar por Oh Sangwoo, um colega de exército que o salvou de uma tentativa de estupro, Bum decide invadir a casa de Sangwoo enquanto ele está fora (sim, é tão bizarro quanto parece). Lá, ele descobre uma mulher amarrada (sim, piora) e machucada no porão, apenas para ser surpreendido por Sangwoo, que revela ser um serial killer. Esse momento foi um verdadeiro turbilhão de aflições para mim. Os traços brutos e os rostos perturbadores dos personagens me incomodaram de uma maneira grotesca, mas ao mesmo tempo hipnotizante. Voltando à história, Sangwoo, o serial killer, decide quebrar os tornozelos de Bum (tutupom!) após acertar sua cabeça com um taco de beisebol (sim, SIM, é tão perturbador quanto parece). O que se segue após isso é uma sequência de eventos que você precisa ler para acreditar. Mas será que eu recomendaria essa leitura? Essa é uma questão difícil. Ainda não sei responder.
Se a configuração inicial, a exposição dos personagens e o contexto criado são razoáveis, por que eu daria apenas duas estrelas? Depois do incidente inicial, Koogi nos apresenta novos elementos que contribuem para o desenvolvimento da trama. Por exemplo, o universo de Killing Stalking é um lugar marcado pela pobreza, miséria, crueldade e abandono. As cores sombrias e o ambiente opressor transformam a narrativa em algo inquietante e apavorante (como se esperaria de um thriller de horror). A obra cumpriu seu papel em me horrorizar? Sem dúvida. Então, por que eu daria apenas uma estrela? Depois do nosso incidente incitante, o autor vai te entregando alguns contextos que contribuem com o primeiro ponto de virada do enredo. Ou seja, uma situação ainda mais dramática envolvendo o protagonista e o antagonista.
E neste manhwa, existe desenvolvimento dos personagens? E se existe, o que podemos esperar do desenvolvimento de um serial killer? Entrar na discussão sobre as circunstâncias do comportamento criminoso de alguém não está nos meus planos, especialmente quando se trata de uma obra fictícia. Pois bem, entender é um pouco forte, mas visualizar o contexto de vida do nosso antagonista me fez refletir sobre algumas questões e gostaria de listar algumas delas, não sei se foi intenção ou se o autor usou dessas teorias para se inspirar, na verdade, eu espero que sim, se o trabalho dele tiver sido referenciado em teorias da psicologia, acho que eu me sentiria menos preocupada com o estado mental do coitado. Enquanto acompanhava os flashbacks perturbadores dos personagens, me vi questionando se o complexo de Édipo seria suficiente para explicar a relação disfuncional entre o antagonista e sua mãe. E se não for, o desenvolvimento moral dele está perdoado ou posto em dúvida se justificado pelo Confronto do contexto? Eis aí, uma grande questão. E o que dizer do apego de Bum ao seu nosso psicopatinha? Será que se encaixa na Síndrome de Estocolmo ou vai além disso? Estão, os atos do Bum, perdoados se pensarmos que ele está em uma posição de coerção cautiva, de vítima torturada e mentalmente instável? A grande questão é que, na verdade, esses meus questionamentos sequer precisam existir. O autor não explora isso explicitamente, ele deixa o leitor às voltas com suas próprias interpretações.
Então, o que você tem é um manhwa meio que absurdo, mas um tanto comum para quem já é do nicho cultura horror coreana, e algo que também é totalmente fora dos padrões para quem só é acostumado com leitura ocidental soft. E existem muitas outras coisas das quais eu poderia falar sobre Killing Stalking, como por exemplo, o fator investigativo como elemento surpresa no enredo ou a opção criativa (do autor) de personagens com aspectos infantilizados mas com características envelhecidas, mas não acho que poderia falar sobre isso sem dar spoilers.
Dito isso, Killing Stalking é uma obra problemática, perturbadora e profundamente subjetiva em seu teor artístico. Ela choca porque incomoda ou incomoda porque choca? Acredito que a resposta depende de como você avalia sua leitura: pela narrativa ou pela experiência?