Lety Tate 02/04/2023
Primeiro
Me peguei em um trânsito absurdo de carnaval no Rio, com um motorista mais perdido que eu. Nesse momento, após três horas rodando no Rio aguardando para chegar na minha cidade Sorriso, decidi abandonar o motorista perdido e seus passageiros e tentar a sorte no Centro. Geograficamente perdida como sou, me perdi nas ruelas. Mas será que me perdi mesmo? Me deparei com o centro de exposições do Correio ainda aberto e com uma atração sobre a Clarice, montada por uma jornalista e artista fã da autora. Tive contato com Clarice brevemente no ensino médio, mas apenas passei por ela, a urgência do vestibular gritava e Clarice na prova seria o menor dos meus problemas.
Recentemente, decidi retornar para as literaturas clássicas que havia "apenas passado por" ao longo do meu ensino, confesso que da Clarice me esqueci. Relembrei nessa exposição. Sai de lá fervendo, desejando uma livraria aberta (claro que não tinha) para ler imediatamente Clarice. Peguei uns exemplares com minha sogra e, por indicação dela, comecei por este por ser de crônicas. Assim, me acostumaria com a escrita da autora que outros relatam ser difícil. Muitos não gostam por, justamente, não entender o que a autora desejava expressar. Comecei a ler e a vida me chamou, me fazendo abandonar (temporariamente) a leitura. Quando retornei, havia passado por muita coisa e a cada dia que se passava eu tinha sentimentos diferentes e parecia que Clarice, aonde quer que ela esteja (no céu, em outra dimensão, reencarnada ou apenas na terra como adubo) estava querendo me passar mensagens. Não de afeto, mas de realidade. Fui reconfortada pelas suas palavras e recebi conselhos de vida não tão agradáveis. Clarice era gente como a gente e mostrava isso nas crônicas que passara a escrever para o jornal que, posteriormente, transformaram nesse livro. Nem todas as narrativas eram dela, como ela mesma fala, mas ela infelizmente não identificou todas as histórias enviadas a ela (algumas você simplesmente percebe).
As narrativas de Clarice foram densas e algumas eu não entendi. Não acho que ela escreva difícil, acho que ela escrevia de coração como desabafo, pelo menos nesse livro, e quando isso acontece nem sempre conseguimos manter uma linha de raciocínio que os outros conseguem acompanhar.
Acho que vale a leitura para começar a conhecer Clarice.