Daubian 09/06/2022
Do céu ao inferno
Gregório é complexo, religioso, sacana e esperto. Ou seja, a cara do Brasil. Acho as críticas sociais afiadas e muito bem construídas. O Juízo da República que abre o livro é genial. É excelente para entender a época. Hoje em dia seria execrado se não fuzilado. Digno de nota o excelente poema da definição de amor que entre imagens como "amor é uma uniao de barrigas" consegue emular bem as antíteses mais camonianas (é uma liberdade, mas que presa e uma prisão, mas que livre). A boca do Inferno é também ironicamente religioso. Não só no desejo de deflorar freiras (!) mas em poemas sobre santos, confissões e igrejas. Como o mesmo poeta que fala que os padres se interessam mais pelas putas que as disputas faz um verso dizendo que vê o Cristo crucificado com braços de perdão e não condenação....
Tão contrário e intenso, só mesmo o mais Barroco dos brasileiros. Assim como sua obra, a variação assusta. Na época deveria ser demais as respostas a críticas da época. Faria muito sucesso no Twitter ou um story de resposta, mas que hoje perde a força. E claro, frutos e sua época, não dá pra engolir o evidente racismo. Entretanto, ali entre o céu e o inferno, dá pra se situar na terra.