Pablo.Alberto 05/02/2024
O Médico e o Monstro e a Influência desse debate em outras Obras
Existe algo em algumas obras góticas que me fascinam por demais. Talvez uma franqueza parcialmente coberta pelos diálogos mascarados de ''bom costumes'' e seus maneirismos rebuscados, mas que mesmo apesar desse disfarce ele não disfarça um tom realista e pessoal. Nesse livro, em meios a várias palavras dúbias, vemos ainda mais isso, pois se trata de uma obra sobre a dualidade humana e nossa vontade de reprimi-la ou expurgá-la.
Existe um clamor por materializar seus desejos, por mais vis que sejam. E talvez se apegar a essa forma formal de tratamentos, de costumes, seja algo que por medo ou por imposição social nos coloque em cheque em nossa consciência. Me lembrei de um trecho de Romanos 7:15-24:
15 - Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.
16 - E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 - De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
18 - Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
19 - Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
20 - Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
21 - Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.
22 - Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
23 - Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.
24 - Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Sendo escrito em uma época e local muito influenciada pelos puritanos, acho muito interessante como esse ódio interno aos próprios desejos é narrado no livro. É uma batalha constante entre consciência e impulso, muito atrelado ao pecado em várias partes da sociedade.
Creio ser por isso que esse livro se faz tão universal e presente em outras obras. Apesar de ser uma leitura curta, ela é frontal. Ela conversa com os nossos dilemas morais mais profundos, aqueles que nos deixam desconfortáveis a ponto de pensarmos que isso não pode ter vindo da gente. E é aí que nos colocamos na pele do Dr. Jekyll.
Muitas obras nos trazem os anti-herois como grandes e complexos personagens, onde vemos O Médico e o Monstro em uma mesma manifestação corporal. Porém, nenhuma dessas manifestações está livre da dualidade humana.