Fabio Shiva 24/03/2024
O MINISTÉRIO DA LITERATURA ADVERTE: ESSE LIVRO TEM GOSTO DE PLÁSTICO!
O plástico foi inventado em 1862, com o nome de parkesina. Mas foi só a partir de meados do século vinte, com a fabricação de diversos tipos de polímeros a partir do petróleo, é que o plástico passou a ser utilizado em larga escala em nossa sociedade. Não demorou para surgirem os primeiros alertas sobre o quanto essa nova substância poderia ser nociva para o meio ambiente. Pouco ou nada adiantaram os avisos: a humanidade continuou alegremente produzindo milhões de toneladas de plástico, em sua maioria transformados em lixo após um breve período de uso. Hoje um dos indícios alarmantes da poluição pelo plástico é a contaminação dos oceanos pelo chamado microplástico, que está presente inclusive na maioria dos peixes e frutos do mar consumidos pelas pessoas. Quais as consequências disso a médio e longo prazo? Só Deus sabe.
Essa triste lembrança de nosso (não tão) lento e inexorável envenenamento por plástico saltou em minha mente desde as primeiras páginas de “As Outras Pessoas”. Trata-se do novo sucesso literário de C. J. Tudor, autora do best-seller “O Homem de Giz”. Senti desde o começo da leitura um inconfundível e desagradável “gostinho” de plástico, que só foi ficando mais e mais pronunciado até o final do livro.
Mas o que quero dizer com “um livro com gosto de plástico”? Trata-se de uma trama evidentemente artificial, com o suspense sendo construído não a partir de episódios e acontecimentos, mas pela intencional e explícita supressão de partes importantes da narrativa pela autora. Notei esse mesmo tipo de “suspense artificial” em outro best-seller recente, “A ÚLTIMA FESTA”, de Lucy Foley (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2024/01/suspense-instantaneo-em-po-misture-agua.html). Será que esse estilo de escrita virou moda entre os jovens leitores de hoje? Custo a crer, mas tudo indica que sim.
Além disso, “As Outras Pessoas” segue conectando seus personagens em uma trama frouxa e para lá de inverossímil. Li pulando parágrafos inteiros, com um desgosto crescente, e só não abandonei de todo porque fiquei curioso com a novidade do elemento “sobrenatural” inserido na história tipicamente policial. Não chegou a ser uma surpresa chegar ao final do livro e descobrir que a parte “policial” foi a que teve explicações fajutas, enquanto a parte “sobrenatural” foi simplesmente a que ficou sem explicação alguma...
Não é que o livro seja ruim, veja bem. O problema é meu, que não curto muito o sabor do plástico.
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