Jessiane.Kelly 23/09/2022
Tudo sobre a caridade
É muito difícil criticar autoras que gostamos, principalmente autoras que tem um trabalho tão expressivo e de alcances tão notórios. Mas não tem como, muitos pontos da leitura me incomodaram e ficou bem claro que a visão da autora está enraizada em valores cristãos em torno do amor. Isso faz muito sentido ao pensar que a autora foi uma leitora de Paulo Freire e teve a influência de uma parte do movimento de esquerda dos anos 70/80 que, nesse período, estava alinhada com a Igreja. Nessa perspectiva, você considera que então tudo bem, é uma perspectiva sobre o amor, o amor cristão, de caridade, mas quando você pensa que isso não é esclarecido na leitura e muitas pessoas irão tomar como geral, é preocupante. Preocupante, porque hooks, baseada no princípio da caridade, vai defender que trabalhar com amor torna trabalhos ruins mais suportáveis ou que trabalhar sem remuneração, mas servindo o outro (como no caso dos trabalhos domésticos) pode ser um ato de amor. Ou pior, que vocação e amar o que faz é mais importante que ser bem remunerado. O ponto do trabalho foi o que mais me preocupou, mas existem outras questões que me incomodaram muito, como ela sugerir que pensar frases positivas seja uma forma de ganhar autoestima...ou que, no amor, está incluso (sempre) o sacrifício. Enfim, o ponto é que não tem problema a visão de mundo dela ter esses valores, o que é preocupante é que nem todo mundo vai conseguir viver no princípio da caridade, de serviço e sacrifício ao outro. Mas, existem ideias bem interessantes, como a de pensar o amor enquanto ação (pelo que eu entendi essa ideia tem bastante influência do Erich Fromm); também a de que as amizades são tão importantes quanto os relacionamentos amorosos e a ideia de que podemos encontrar o amor em relações que não perduram.