Felipe1503 06/01/2024
Ensaios e Ensaios
Depois de muito tempo resolvi voltar ao meu querido Orwell(não me arrependo), esse autor cheio de controvérsias e polêmicas que eu gosto tanto, principalmente pela capacidade de ser crítico à própria corrente política, apesar de não achar que "corrente" seja o termo correto para qualificar as crenças desse autor, é interessante de se perceber como as ideologias cegas prendem nosso desenvolvimento crítico.
Sobre o livro, por ser uma coletânea de ensaios desconectados é evidente que o fenômeno de disparidade entre qualidade de capítulos, no caso, ensaios, seja ainda maior do que aqueles que possuem certa ligação. Por isso, nesse livro o que mais existe são os extremos da qualidade, por exemplo, um capítulo incrivelmente bom sobre Tolstoi e sua crítica à Shakespeare, outro muito entediante sobre As Viagens de Guliver.
Outro ponto interessante do livro é a escrita do autor, normalmente temos contato com as suas opiniões através de um certo personagem, como é o caso do Bobo em Rei Lear, ou através do narrador, como é o caso em grande parte dos livros de Machado. Mas em ensaios é diferente, apesar de certo enfeite para embelezar a escrita ou técnicas afins, é como se estivéssemos em uma palestra ministrada pelo autor sobre os mais diversos temas. Dito isso, um capítulo em específico que me chamou a atenção, e que talvez seja o único cujo conteúdo esteja interligado com outros ensaios, é o sobre a crítica aos escritos em inglês contemporâneos a ele, onde George diz como a língua está morrendo e os autores não se interessam de verdade pelo que estão escrevendo, por isso só utilizam de metáforas batidas as quais esses escritores desconhecem o real significado dos termos. A partir disso, o autor cita alguns exemplos de falácias da língua que estão sendo amplamente utilizadas pelos ingleses, ex: o martelo e a bigorna, frequentemente utilizado para criar uma imagem de algo sendo constantemente martelado, ou ferido, mas na realidade quem se fere é o martelo, não a bigorna. Então, provando seu ponto, em um ensaio anterior Orwell utiliza a metáfora do Jonas e da baleia, simplesmente genial, justamente bem colocada como capa da coletânea.
Enfim, digno de um verdadeiro Bunny Hop de interesse, esse livro foi o meu primeiro do ano e fico feliz por ter sido de um autor tão interessante como este.