Resenhas - 10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho

Rosangela Max 05/02/2024

O triste destino dos párias.
Uma historia rica em demonstrar a cultura relacionada as mulheres turcas. Desde o nascimento (onde ela já nasce cheia de obrigações a cumprir perante a família e a sociedade), passando pelo casamento (onde ela passa a pertencer ao marido e está sujeita as ?leis? de hierarquia de primeira e segunda esposas e uma série de abusos dentro da própria casa) até as consequências que a mulher sofre quando não age de acordo com o que se espera dela.
Também fala sobre o poder de se ter amigos verdadeiros que formam a família do coração e que acabam sendo mais importantes e especiais do que aqueles com o qual possui laços sanguíneos.
A história que a autora criou ao redor do Cemitério dos Solitários é triste e nos leva a refletir que há segregação social até mesmo na morte. Porém, para os considerados párias, o endereço é um só.
E que, para algumas pessoas, como no caso de Leila Tequila, a liberdade só foi alcançada após a morte.
Recomendo a leitura.

Milena.Lourenco 04/06/2021

Melhor do ano!
Faltam palavras para descrever a grandiosidade deste livro, que foi capaz de me emocionar diversas vezes. A história de Leila é muito potente, cercada de momentos de profunda tristeza e outros de felicidade genuína. Quero conhecer toda a obra da autora o quanto antes!

alice 08/09/2023

"Você se incomoda de eu ter tantas cicatrizes?"
A história de Leila Tequila é contada a partir de sua morte e durante os 10 minutos e 38 segundos que as células de seu cérebro lutam por um resquício de vida, seu coração já havia parado de bater.

Durante esse tempo restante, Leila discorre sobre sua vida, lembrando de momentos dolorosos e de seu caminho tortuoso até às estradas de Istambul, onde, sobre a doce ilusão de uma nova vida, Leila teve seu corpo vendido e como meio de sobrevivência, passou anos em um bordel se prostituindo.

A infância de Leila é interrompida cedo demais pela crueldade do homem, ela é abusada diversas vezes por um tio e esses abusos constantes, a sensação de culpa imposta pelo crápula abusador, o peso de estar indo contra às crenças de seu pai, a desconfiança e a falta de apoio de sua família quando a verdade vem à tona, drenaram da alma de Leila qualquer resquício de esperança e fé. Ela estava destruída e permaneceria assim por muito tempo.

Em Istambul, Leila descobre que o mal infligido em seu corpo, continuaria, que o destino doce que ela imaginava quando criança não passava de uma ilusão fantasiosa. Ali, a crueldade estava em cada esquina, no corpo dos homens e na volúpia de seus desejos.

No meio desse caos e dessa dor permanente, Leila descobre em 5 pessoas, uma amizade improvável mas forte o suficiente para fazê-la sobreviver em meio a selvageria. Esses cinco amigos se tornariam a família de Leila; Nalan, uma mulher trans, lutando não só pela sua sobrevivência mas por sua existência em uma sociedade extremamente preconceituosa. Sinan, um amigo de infância, apaixonado por Leila mas que tem o costume de esperar demais e sufocar seus sentimentos sempre que eles ousam aflorar. Jameelah que assim como Leila, foi enganada e vendida para prostíbulos. Zaynab122, uma mulher com nanismo, religiosa, que lê o presente das meninas do bordel nas borras de café ou folhas de chá. Ela é um doce e foi responsável por prever o momento mais feliz da vida de Leila, o momento em que ela se apaixonaria de verdade, um amor carregado de beleza e não de dor (embora a dor esteja quase sempre atrelada a esse sentimento).
Humeyra Hollywood, uma cantora de boate que fugiu do marido violento, a amizade dela com a Leila surgiu quando as duas salvaram a vida de uma gatinha que havia sido atropelada.

Essas cinco pessoas, cada uma com suas próprias lutas a serem vencidas, são a base de Leila, o lugar seguro para onde ela vai quando precisa desabar e quando ser forte se torna cansativo e doloroso demais. Assim como Leila, eu amei esses cinco.

Leila tinha apenas 10 minutos e 38 segundos para contar sua história e com certeza ela permanecerá comigo por muito mais tempo, não esquecerei Leila Tequila porque a história dela é a de muitas mulheres. Mulheres silenciadas, violentadas, obrigadas a suportar o insuportável e a levantar a cabeça diante de uma sociedade que macula nossos corpos e nossas almas de maneira infindável.

É um livro doloroso, com uma crueldade escancarada mas que mostra na amizade um escape para momentos felizes. A escrita da autora mescla esses momentos com cenários fantasiosos, falando da fé em diversas formas e da falta dela também. De como a dor molda o ser humano mas que apesar de sofrer tanto, ainda é capaz de amar e de como esse sentimento tão abstrato pode surgir e florescer em lugares inóspitos.

Único ponto negativo é que em determinado momento ? depois de uns 70% ? a história dá uma guinada e decai um pouco, talvez a autora tenha se prolongado em questões demais. Mas, apesar disso, é um livro que recomendo 100%. Todo mundo deveria conhecer e se emocionar com a história de Leila Tequila.

cris.leal 12/08/2021

Uma história tocante, mas com um pezinho no contrassenso...
Quando a história começa, Leila Tequila, a protagonista, já está morta. Ela era uma prostituta de Istambul e acabou de ser assassinada. Embora seu coração já não batesse mais, seu cérebro resistia, recusando-se a desistir. E por 10 minutos e 38 segundos, tempo que ele levou para desligar para sempre, muitas memórias vieram à tona permitindo ao leitor um vislumbre dos eventos e das pessoas importantes que marcaram a vida de Leila.

Na primeira parte do livro, ficamos sabendo, através das memórias de Leila, que ela nasceu no sudeste da Turquia, bem longe de Istambul, onde chegou ainda adolescente, sozinha e sem dinheiro, fugindo de sua família ultraconservadora. Seu pai era um homem de convicções rígidas e moralismo religioso fanático. As mulheres da casa não tinham direito de se manifestar, nem quando agredidas, principalmente se o ataque partisse de um homem. Neste caso, era mais comum justificar o agressor do que proteger a vítima. Leila sentiu essa enorme injustiça na própria pele e por isso fugiu. Em Istambul foi obrigada a se prostituir. Com o passar do tempo acolheu e foi acolhida por cinco amigos leais, pessoas indesejáveis, párias como ela. Em meio aos percalços da profissão, encontrou um jovem idealista que foi o grande amor da sua vida.

No momento em que a mente de Leila finalmente se apaga, tem início a segunda parte do livro, que conta o que os cinco amigos fizeram para dar a Leila um enterro digno. Neste ponto, a história é alimentada por uma sucessão de cenas pastelões, meio exageradas, destoando bastante da escrita sóbria e comovente apresentada na primeira seção. Pra mim foi tipo um anticlímax, agravado pelo realismo mágico que envolveu a última parte do enredo. Confesso que, no geral, a história ficou aquém das minhas expectativas, mas não foi uma leitura ruim. Leila Tequila é uma mulher forte que do seu jeito lutou por direitos, confrontando o sistema patriarcal vigente que valorizava a mulher apenas no papel de mãe e esposa. Além disso, há a questão da amizade verdadeira, incondicional, que me agradou muito. ?

@amwnnda 19/01/2022

que livro COMPLETO.

é complicado analisar e falar desse livro como uma mera obra de ficção, por que ele é muito, muito mais do que isso. não só a história é cheia de camadas, mas o contexto sócio e geo político no qual ela está inserida também é. como a própria autora fala: "embora leila e seus amigos sejam completamente fictícios, as amizades descritas neste romance são, pelo menos aos meus olhos, tão reais quanto esta velha cidade sedutora".

o livro é um retrato, se não até mesmo uma obra biográfica, da vida de leila e de seus cinco amigos. a autora fez muito bem ao abordar os anseios de cada um deles, refletindo partes da sociedade que lhes deixaram cicatrizes: problemas sistêmicos, estrutra familiar e relações amorosas. eu saí da leitura totalmente emergida em Istambul, apaixonada e perplexa ao mesmo tempo

com certeza vou procurar outros trabalhos da autora! o livro foi super completo no que se propôs a fazer e a leitira foi super interessante. a vida e a morte de leila me marcaram, assim como a cidade de Istambul.

"Às mulheres de Istambul e à cidade de Istambul, que é, e sempre foi, uma cidade mulher."

Nay C 25/09/2022

Sobre a morte e a vida
O livro traz a temática da morte e do que pode acontecer na mente da pessoa durante esse desligamento. Acho que na hora da morte acontece o que muitos já falam, os momentos mais marcantes passam pela mente, não necessariamente uma data especial, mas aqueles momentos que trazem recordações, como o cheiro de quem você ama ou um prato da infância, ou momentos que por menores que sejam te lembram de decisões que mudaram sua vida. Talvez algumas coisas que não faziam sentido façam então nesse momento... além da aceitação da partida.

Inicialmente a história é contada através do que Leila vai lembrando enquanto seu cérebro se desliga, sendo parcialmente linear, e entendemos o impacto de cada coisa em sua vida, principalmente o impacto da amizade. É contada também um pouco da história de seus amigos, e conseguimos enxergar como cada um se encaixa nesse grupo. Todos esses amigos com vidas tão duras puderem estar juntos nas dificuldades, pois só tinham um ao outro para se confortarem, conversarem e serem eles mesmos, com Leila no centro dessa amizade.

A escrita é fluida e me prendeu bastante, o livro tem contexto histórico e os locais são bem descritos, o que deu bastante credibilidade à trama. Não é um livro dinâmico, é mais dramático, alguns podem achar até mesmo parado e se entediarem, mas vejo que o foco são os sentimentos e em como muitas vezes as pessoas são moldadas pelo espaço em que foram criadas e têm o desejo de se libertarem disso.

?Só porque você acha que aqui é seguro, não significa que é o lugar certo para você.?

Camila 11/08/2022

Torrencial de emoções
Este livro me fez transbordar coisas sem perceber, fiquei irritada, tensa, além da leitura. Depois de tentar entender o que estava acontecendo no meu dia, é que me liguei que foi a leitura. Talvez não seja tão dificil pra outro leitor, mas é um livro realista, que vai mostrar pra vc a vida crua dos marginalizados da Turquia, e de como a vida deles aconteceu até ali. Mas poderia ser a vida de um conhecido teu aqui no Brasil também! O mundo só é grande, mas não é tão diferente assim.
E o poder da amizade! Da família que a gente escolhe? Ele tbm me fez rir, mas rir de gargalhar de coisas que só um amigoé capaz de fazer por vc depois da meia noite!
Ele parece ser vários livros em um.. mas redondinho, completo! Muito bom!

Isabella.Wenderros 04/01/2022

“E lembre-se, no deserto da vida, o tolo viaja sozinho e o sábio, em caravana”.
Leyla Afife Kamile nasceu em 1947, na Turquia. Seu nome significava “cheia de virtudes, repleta de méritos” e era assim que sua família, principalmente seu pai, esperava que ela se mantivesse. Percorrendo um caminho traiçoeiro e doloroso, ela vai parar em Istambul aos 17 anos, sozinha e sem dinheiro, sendo jogada no mundo da prostituição. Com essa nova realidade, outro nome é escolhido: Leila Tequila.

Logo no 1º capítulo, o leitor conhece a protagonista abandonada em uma lata de lixo enquanto a cidade ao seu redor desperta e seu coração vai parando de bater. Conforme percebe seu corpo cedendo ao inevitável, seu cérebro começa uma luta desesperada, – fadada ao fracasso – rejeitando o fim. Durante 10 minutos e 38 segundos, Leila relembra vários períodos de sua vida em detalhes vívidos, reflete sobre como o véu que separa vida e morte é translúcido e pensa nas pessoas que, apesar do labirinto confuso que é a existência humana, andavam de mãos dadas com ela através das dificuldades e alegrias.

Quando entrei nessa leitura, sabia muito pouco e acabei sendo surpreendida pelo peso da história, pela escrita envolvente da autora e pelo o sentimento de tristeza misturado com esperança. Leila foi uma vítima em vários momentos, tinha tudo para se tornar amarga e cínica com a vida e as pessoas, mas se manteve amorosa, leal e sã, mesmo quando coisas horrorosas aconteciam. Já de cara eu percebi que muito da força que acompanha a protagonista partia das amizades profundas e fortes que ela teve a sorte de cultivar. Outro ponto positivo é a maneira como Istambul foi descrita: quase como uma criatura viva, com personalidade própria e trabalhada pela autora como mais uma personagem na narrativa.

Elif Shafak trata de temas difíceis, mas de uma maneira diferente: tudo é triste, mas existem fios de amor que emocionam, evitando que a leitura seja carregada e arrastada. Todos os personagens fogem do padrão do que é considerado “normal” pela sociedade: prostitutas, transexuais, uma mulher que fugiu do marido abusivo – numa parte do mundo em que isso é considerado crime – ou pessoas que sofrem de algum problema físico. Eles vivem na margem e encontraram uns nos outros a rede de segurança que todo ser humano precisa. E foi lindo ler essa união. Foi belo acompanhar essas pessoas solitárias que se juntaram numa irmandade tão verdadeira que mereceu o último pensamento de uma mulher que tinha sido assassinada de maneira injusta. No último segundo, Leila virou o que restava de si para eles, os amigos que foram sua verdadeira família.

Comecei 2022 com uma leitura impactante e forte. Quero conhecer tudo o que chegar dessa autora por aqui.

Bia Brasil 03/08/2021

UAU, eu não poderia recomendar mais esse livro!!
É até difícil colocar em palavras o que esse livro foi para mim. Comecei intrigada com a sinopse mas não esperava que ele fosse me agregar tanto.

Com uma leitura muito fluída e envolvente, a autora desse livro nos leva para a Turquia e nos faz conhecer esse lugar como se sempre tivéssemos conhecido (misturando a história fictícia com eventos e locais reais). Para quem gosta de conhecer outras culturas na hora da leitura, esse livro é sensacional.

Mas não para por aí, a história de Leila Tequila e de seus amigos também não deixa a desejar nem um pouco. No livro, nós acompanhamos a história de uma mulher que é prostituta em Istambul e que é assassinada e jogada numa lixeira.

O que poderia se desdobrar em uma investigação policial para achar os culpados, acaba levando um caminho diferente e focando realmente nas experiências e nas amizades tão importantes que Leila Tequila adquiriu durante a vida.

Não poderia recomendar mais esse livro!

Ferdinando 29/07/2023

Que livro incrível! ?
É triste e pesado mas ao mesmo tempo te deixa querendo ler mais, amei a amizade de Leila com seus amigos, é o tipo de relação que todo mundo busca ter. ?

Bia 29/03/2022

mais que um livro
Quis ler esse livro só pelo nome dele, portanto já comecei a leitura com expectativas altas. O cérebro humano funciona por 10 minutos e 38 segundos após o coração parar de bater, o livro é a história de Leila, uma prostituta que foi assassinada, lembrando de toda sua vida nesse últimos minutos.

É muito mais que um livro, é uma obra filosófica, socio e geo política! Retratando a realidade daqueles que vivem em Istambul e são silenciados todos os dias. A história de Leila é muito bonita e dolorida ao mesmo tempo, mas sempre com um coração bondoso, contente e sonhador!

Não dou 5 estrelas porque achei que algumas coisas do final, embora compreensíveis devido a situação, foram exageradas e irreais. Fora isso o livro é incrível e eu mais do que recomendo!

?After all, boundaries of the mind mean nothing for women who continue to sing songs of freedom under the moonlight.?

Jão.Silver 11/10/2021

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho
Eu não tenho palavras para descrever o quanto gostei deste livro.
A escrita, os personagens, os elementos sócio-culturais, a história... Todos trabalhados de forma tão clara, envolvente, interessante e profunda. Recomendo MUITO a leitura, uns dos melhores livros desse ano sem dúvidas.

Bine Stark 17/12/2021

Perfeito
Não tenho palavras para descrever esse livro.
Sensível, poetico, pesado é maravilhosamente escrito.
Eu queria fazer parte do grupo dos 6! Amizade mais que perfeita que emociona e deixa o seu coração quentinho.
Chorei igual uma cadela desgarrada lendo esse livro!
5 estrelas favoritado!

manuh_maiah 25/01/2023

perfeito
se estiver com a saúde mental em dia, super recomendo chorei horrores, com certeza está no meu top 10 do ano

Léo 05/01/2023

O começo pelo fim, esses livros sempre me pegam...como naqueles filmes de suspense aqui Leila (e não mais com Y como seu pai quis) esta morta.
A partir daí a cada capítulo vamos conhecendo mais sobre aquele corpo. Quem foi Leila, de que amor ela nasceu, pq negou e fugiu de casa, o que a fez se tornar prostituta, quem são seus 5 amigos e quais suas histórias.
De modo muito sensível e assertivo a autora nos apresenta essa história de amor e luta que culmina em despedida (como todas as outras, não é?!).
Excelente livro, escrita e estória. Recomendíssimo!