Rute.Lessa 31/03/2024
Leitura obrigatória
Engana-se quem acredita que lerá essa obra em uma sentada.
Encontrei essa obra como sugestão em um perfil literário, "o moço do vinho - Rodrigo de Lorenzi", inacreditavelmente gratuito no Kindle Unlimited, que prometia ser um soco no estômago e após ler o Conto da Aia, acho que era o que eu precisava. Curto, também premiado, que me faria pensar em realidades que de fato acontecem.
Como dito, a primeira impressão é de que se trata de um livro que pode ser lido em poucas horas, devido ao tanto de páginas e organização dos capítulos. No entanto, essa expectativa não se concretiza. A cada tentativa de avançar na leitura, me vi extremamente desconfortável e encontra dificuldades para prosseguir. Assim como o sugestor da obra disse que seria. Enquanto lia lembrei de minha mãe, de minha tia e de tantas mulheres que conheci e que li que passaram por algo parecido.
O livro é simples para tratar de uma história "simples" e angustiante, narrada em primeira pessoa por uma mulher na faixa dos 20-24 anos, cujo nome e dos outros personagens não são revelados, o que me lembra muito a narrativa do velho Saramago, não temos tempo para nomear personagens enquanto a narrativa acontece e é o foco principal da leitura.
A narrativa é contada em primeira pessoa e é dividido em 3 partes: Filha, Mãe e Avó, e tem sua trama em torno da protagonista, cuja vida é marcada pelo abandono e pela falta de informações sobre sua origem, especialmente sobre seu pai. Como dito, nossas personagens não possuem nome, mas é impossível se perder na leitura, na verdade, a leitura te suga. A mãe busca respostas em meio a toda aquela rotina de ser mãe, provedora, estudante, filha.
A mãe da narradora não possui educação, mas fez de tudo para dar o que não tinha para a filha que atualmente faz mestrado e no desenrolar da história percebemos que em toda a sua narrativa ela busca compreender sua história, buscando respostas que nunca foram lhe dadas.
A história se desenrola em torno das tentativas da protagonista de descobrir suas origens, revelando sua personalidade agressiva e manipuladora com diálogos intensos e descrições muito reais, um tanto incomodas. Apresenta uma narrativa perturbadora sobre as experiências de três gerações de mulheres brasileiras, destacando os ciclos de abandono e violência que parecem inescapáveis. Nossa protagonista, em sua busca por respostas, mergulha em uma jornada de profundo sofrimento e perturbação, incapaz de se conectar com sua mãe ou sua própria filha.
A obra também reforça a questão da maternidade, será que todas as mulheres conseguem amar seus filhos?
Uma obra forte. Tem muita violência, abuso, verdade, dor e pouco consolo.
Já considerei leitura obrigatória.