Luiz 23/01/2024
Nem tão "grande" assim...
Livro: O Grande Livro da Mitologia Egípcia
Autor: Claudio Blanc
Blanc é formado em filosofia e tradutor de várias obras, além de ser escritor de livros como "Aquecimendo Global e Crise Ambiental", "Uma breve história do sexo" e "O lado negro da CIA", neste livro tenta apresentar um pouco sobre a cultura egípcia.
O livro se propõe a explicar um pouco sobre a geografia local, às civilizações que ocuparam o terreno e o seu desenvolvimento cultural, as Dinastias que governaram o Egito e sua relevância pro desenvolvimento da sociedade, mergulhando logo após na Religião propriamente e suas Cosmogonias, até por fim, fazer um relato breve sobre a história de cada Deus do Egito.
O livro em si apresenta algumas informações interessantes sobre a produção de conhecimento que o Egito representou para o mundo, dentre esses, temos a proeminência no campo da medicina e até mesmo a criação do calendário e desenvolvimento agrícola, o desenvolvimento artistico, além de outras coisas mais. Ainda que não tenha tido tantas outras façanhas em produção de conhecimento, somente isso já representa um grande avanço civilizacional, assim como por exemplo a construções realizadas pelos egípcios. Porém uma coisa chama a atenção no relato de Blanc, a ausência de conflito "bélicos" com outros povos não propiciou mais avanços. Hoje em dia existe uma certa "ojeriza" a questão da guerra, mas esquecemos que por vezes as guerras propiciam avanços civilizacionais muito grandes.
Um outro ponto interessante do livro é quando o autor relata, com base Aldous Huxley, Huston Smith, Joseph Campbell e Mircea Eliade, a noção de religião e sua estrutura, sendo eminentemente a religião uma forma de ligação com o divino e um tipo de ligação que aponta para uma realidade mística que não compreendemos e que por isso as religiões acabam por ser uma manifestação humana, em igual capacidade, que pode levar a um divino. Nessa perspectiva a religião possui uma essência da verdade universal que essas religiões carregam um pouco dessa verdade.
De fato, boa parte desses autores, com exceção de Huston Smith que não conheço, os demais são estudiosos de Religião Comparada, por tanto parte-se da ideia de que a religião não é de fato aquilo que apregoa, mas uma metáfora que representa algo de verdadeiro. Eu particularmente tenho minhas críticas quanto a esse tipo de visão ainda que ache interessante o debate sobre esse tema.
Outra coisa interessante é o autor mencionar que boa parte dessa mística egípcia contribuiu pra escolas iniciáticas como a Maçonaria ou Rosa Cruz, mas ele não se aprofunda muito nisso.
Mas acredito que o que mais me incomodou no livro foi que imaginei que o autor fosse se aprofundar especificamente na mitologia e religião egípcia, como o próprio título do livro sugere, entretanto ele entra em vários pormenores de cultura, geografia e dinastias, como relatei antes, o que não necessariamente é ruim, mas que não contribui significativamente pra entender a mitologia em si, a não ser algumas mudanças de entendimento quanto a história de alguns personagens, mas por conta disso, acaba que a a parte interessante do livro fica mais pro final do livro quando é relatado os deuses.
Ainda que a essência do livro seja o final, acaba que senti que a organização e as histórias dos deuses não foram tão bem exploradas, aí fica a dúvida se de fato não existem história ricas, assim como as mitologias nórdicas e gregas, ou se somente a forma como o autor encontrou pra contar e organizar é que impediu de serem melhores.
Basicamente me parece que fora os temas da Morte de Osiris, a ascensão de Hórus, o Julgamento das Almas e a Batalha de Rá... não me parece ter muitas outras histórias interessantes.
Existe uma grande quantidade de deuses, mas parece que não ser muito bem explicado o como eles se relacionam uns com outros, fora os mais notórios e importantes, bem como a diversidade de deuses que possuem a mesma "função", me pareceu um pouco confuso.
É um livro que te dá uma base, mas acaba não sendo tão interessante a leitura.
O ponto alto do livro, pra mim, acabou sendo a discussão sobre Religião Comparada, a noção de influência das Escolas Iniciáticas e as noções de sobreposição entre deuses egípcios e gregos. O que acredito que são temas secundários a proposta original do livro, visto que essa, acabou não sendo bem trabalhada ou explorada. Acaba sendo um livro que fala muito mais sobre "cultura egípcia" do que de fato a mitologia, aliado à uma falha de storytelling.