Isa 19/08/2022
Indígenas de férias
?Às vezes ? Bernie disse à filha ?, começar é como a gente continua.?
"Por isso estamos em Praga", profere o protagonista mais mal humorado de todos. O livro em si é bastante intrigante: um casal indígena viajando pelo mundo, seguindo a trilha de cartões postais deixadas pelo tio Leroy, que por livre e espontânea pressão, foi obrigado a ser atração de um show de faroeste e assim não ir para a prisão.
A história desenrola-se aos poucos, intercalando presente e passado, a escrita do autor é fluída, de fácil leitura, as personagens são carismáticas e interessantes.
É um livro leve e aborda temas importantes: o convívio com seus demônios internos e toda violência sofrida pelos povos originários, mesmo não se aprofundando muito neles.
Blackbird Mavrias, ou Bird para os íntimos, era um jornalista renomado, ativista da causa indígena, publicava e acompanhava a história de outros indígenas também buscando pela sua própria identidade e pertencimento em meio ao caos da modernidade. Porém, em algum momento tudo parou de fazer sentido e a partir daí surgiram seus demônios internos - ou nessa ocasião se deu conta deles -. Mimi Bull Shield, blackfoot, artista, é aventureira nata, às vezes imprudente, de personalidade única. Mimi é aquela personagem que não para, está sempre pensando no próximo ponto turístico para visitar, suas tiradas balanceiam o casal e o mais incrível é que ela não tenta maternar Bird quando o mesmo tem suas famosas ocorrências médicas. Ter um casal de idosos indígenas como protagonistas foi uma surpresa muito boa, ambos viajando pela Europa então? Foi ótimo, já é hora de abandonar o estigma de que o lugar dos povos indígenas é no meio do mato.