Aione 08/08/2022As Mentiras Que Nos Unem é o romance de Emily Giffin originalmente publicado em 2020 e lançado no Brasil em 2022 pela Arqueiro, com tradução de Fernanda Abreu. Ambientado em Nova York em 2001, traz uma típica história da autora — envolvente e desenvolvida ao redor de conflitos morais —, além de retratar o fatídico 11 de Setembro e seu impacto sobretudo nos habitantes da cidade.
Após terminar o namoro, Cecily vai para um bar e conhece Grant. A conexão entre os dois é instantânea, de forma que, ao longo das semanas seguintes, estabelecem uma relação. Contudo, tudo muda após o 11 de Setembro, fazendo Cecily questionar não só o que sabe sobre eles, mas o que sabe sobre si.
Em primeira pessoa, a história é narrada por Cecily que, perto dos trinta anos, têm repensado aspectos de sua vida, especialmente a carreira. Com o fim do namoro com Mathew e início da relação com Grant, ela questiona seus sentimentos, que voltam a ser bagunçados após o 11 de Setembro. Toda essa angústia e dúvidas são muito bem desenvolvidas por Emily Giffin, mas sem que a escrita perca a leveza. Dessa maneira, é fácil se envolver com a leitura, ágil do começo ao fim. Não senti vontade de parar de ler, completamente imersa na história.
As Mentiras Que Nos Unem é também cheio de reviravoltas. Por mais que elas não tenham me surpreendido, já que pude antecipá-las, serviram para manter a tensão, intensificando as emoções e aumentando a agilidade da leitura. O capítulo sobre o 11 de Setembro foi bastante angustiante e sensível. Mesmo conhecendo os fatos sobre ele ou tendo visto inúmeros relatos ao longo das duas últimas décadas, ainda assim me emocionei. Ao descrever o dia enquanto ele transcorria, Emily Giffin permite aos leitores imaginar como foi a experiência de quem o vivenciou, com todas as incompreensões e todo o terror próprios do momento. Principalmente, demonstrou o quanto as vidas foram afetadas, o quanto se estabeleceu uma noção de um antes e um depois, colocando tudo em perspectiva.
O que mais me agrada nas obras da autora é sua capacidade de desenvolver personagens ao redor de conflitos morais. Em As Mentiras Que Nos Unem, isso não é diferente. Aliás, temas comuns aos seus romances voltam a aparecer aqui, como a traição e autodescoberta, trabalhados a partir de erros e acertos. O foco está em Cecily, principalmente, mas ainda assim conseguimos acompanhar o perfil das personagens secundárias, mesmo que através do olhar da protagonista. A mensagem maior da obra está em como o discernimento fica nebuloso em meio a crises e emoções intensas, de maneira que há algum relativismo entre o certo e o errado. Embora isso seja justamente o que me faz gostar dos romances da autora, nessa obra especificamente fiquei um pouco dividida em relação ao final, uma vez que tenho minhas dúvidas se concordo com a relativização aplicada ao contexto específico da trama.
Apesar disso, adorei As Mentiras Que Nos Unem pela leitura deliciosa e envolvente que me proporcionou, ainda que eu tenha achado alguns acontecimentos previsíveis ou não tenha ficado de todo satisfeita com o final. Ainda, fui positivamente surpreendida pela rápida aparição de Rachel, Darcy e Ethan, personagens apresentados em O Noivo da Minha Melhor Amiga, romance de estreia de Emily Giffin.
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