spoiler visualizar_douglast 23/01/2024
Choroso estou
Esse é o livro mais emocionante que li nos últimos tempos. Diogo Bercito tem uma escrita fluida e bem colocada, e soube traduzir os medos, anseios, os sonhos e vontades de Yacub e todas as nuances da jornada do sírio que vem viver no Brasil.
A história começa na Síria, em um pequeno vilarejo em que moram Yacub e o melhor amigo, Burtus. Eles dividem a vida desde que conseguem se lembrar, e entre trabalho no campo, colheita de folhas de uva, cigarros enrolados e conversas profundas, os dois parecem sentir que são mais que amigos.
Para Yacub, a vida está ótima, e seu maior sonho é que ela continue tranquila assim. Seu mundo parece desmoronar quando Burtus recebe de seu tio um convite para emigrar para o Brasil, sonho que Burtus não vê a hora de realizar.
Antes que se separem, os amigos se encontram, mais uma vez, no jardim para fumar. E é nesse encontro que a natureza do relacionamento dos dois tem uma mudança. Diogo escreve de maneira poética os toques e o compartilhamento de prazer entre eles, conseguindo descrever pra gente as sensações e os medos e anseios de Yacub.
Mas logo após o êxtase, Yacub nota que o poço do jardim está destampado, assim, liberando um jinn, espírito maligno que assombra o imaginário popular sírio. E ele se culpa, ainda mais, quando vê Burtus numa cama, tomado pela cólera.
A emigração para o Brasil acontece de maneira rápida e quase sem que nós e os personagens notemos a passagem do tempo. Yacub decide realizar os sonhos de Burtus e vira para o Brasil tentar a vida. E é aqui, em terras brasileiras, que ele conhece Jurg, libanês que se torna seu novo amigo.
O livro é carregado de melancolia. A escrita fluida de Diogo nos conta uma história que não é de um grande herói ou vilão: é a história de um jovem emigrante com medos, anseios, tristezas e pequenas alegrias. "Vou sumir quando a vela se apagar" é a sobre a jornada de Yacub para se conhecer e entender quem ele será sem seu melhor amigo.
Gosto da maneira em que o autor consegue deixar muito claro as fases do luto. Até quando Yacub se afeiçoa à Jurg, percebemos a culpa que ele tem de estar substituindo Burtus, de estar, de alguma maneira, esquecendo o amor que sentia.
"Vou Sumir Quando a Vela se Apagar" fala sobre o amor e a amizade de uma maneira que eu jamais li. O texto fala sobre os sentimentos entre homens de maneira muito terna, tranquila e sem afobação.
Achei muito bonita a analogia no fim do livro, na oferta do jinn à Yacub, e o que ele acaba escolhendo, sendo, antes de tudo, fiel à si mesmo.
Recomendo muito o livro! Parabéns, Diogo, me arrancou lágrimas!