Ana Carol 19/05/2024
Livro para ser "sentido" não apenas "lido"
Essa é a primeira autobiografia que leio na vida é simplesmente foi incrível! Ler uma história de vida, mas com a "voz" da pessoa, seus pensamentos e sentimentos a respeito dos acontecimentos, é como se você entrasse na pessoa e fosse ela pelo momento em que dura a leitura.
É um livro muito emocionante que mostra as dificuldades já sabidas, mas não realmente sentidas, das questões raciais e sociais em um contexto norteamericano entre os anos oitenta e atual, mas claro que com suas raízes na própria história do negro americano.
É uma narrativa de uma grande artista buscando o sentido de uma vida que se iniciou com muita pobreza, violência, abandono e abuso. "Cada memória dolorosa, cada mentor, cada amigo e inimigo serviu como cinzel, como uma salto que lapidou a" MIM"! A escultura imperfeita mas abençoada que é Viola ainda está se desenvolvendo e sendo lapidada."
Uma artista que queria ser o mais genuína possível nos seus papéis, que buscava entender seus personagens como pessoas reais, entender suas motivações para assim poder expressar e conectá-los com seu público.
O que vemos na TV e no cinema, o glamour, fama e riqueza, é apenas a ponta do iceberg de uma vida bastante sofrida, de muita dedicação, muitas negativas até se conquistar um lugar ao sol. Imagine isso para uma pessoa negra, pobre e sem "padrinhos"... Em um meio em que a maior parte da literatura, das peças de teatro, dos movimentos artísticos são criação de uma civilização predominantemebte branca e elitista, como encontrar personagens que realmente pudessem refletir a complexidade de uma vida comum de uma negra sem passar pelas personagens padrão (empregada, amiga da branca principal, adictas, mãe solteira, etc - palavras dela no livro)?
Nesse quadro emocional e complexo, que esbarra lindamente em questões sócioeconomicas, se desenrola a história de vida desta atriz maravilhosa, que finalmente conseguiu atingir seu ápice, de carreira e de encontro consigo mesma, como Annalise Keating, em "How to Get Away with Murder" (Netflix - super recomendo). E realmente vc sente toda a potência desta mulher nesse seriado, repleto (não sei se intencional ou se foi a própria projeção dela em cima da personagem) de cenas que parecem tiradas da sua própria vida.
É um livro que só lendo para saber como é. É um livro que é mais para ser "sentido" do que "lido". É uma breve mas impactante maneira de se conectar, se houver o mínimo de empatia e esforço de compreensão, com a pauta sobre racismo estrutural, machismo, misoginia, temas importantes de serem debatidos para que as mudanças possam finalmente acontecer.