Murphy 10/01/2024
"Cleo e Frank não podiam fazer um ao outro feliz [...]"
Eu sabia exatamente o que ia escrever nesta resenha quando estava terminando o livro, mas assim que cheguei nos 96% da leitura, simplesmente tive uma crise existencial, e comecei a pensar muito sobre a vida e as pessoas. Não sei se estou pronta para escrever sobre isso, mas se eu não tentar, provavelmente irei esquecer o que estou sentido e nunca falarei sobre, então, vamos lá!
Este livro me deixou desarmada. É como se ele fosse a essência mais pura de um ser. Ele é visceral, longo e sufocante, assim como a vida. Os capítulos dele são intermináveis e reais, não dá para definir apenas um sentimento para descrever como ele me fez sentir, eu vivi com todos os personagens, então eu ri de piadas e situações, chorei de desespero e raiva, senti ódio de pessoas, inveja, amor, dor, angústia, pesar, tudo. Eu senti tudo. E foi maravilhoso.
O livro não tem uma história concreta, tem um casal principal, mas a trama em específico, não é sobre eles, e é incrível como a narrativa em terceira pessoa faz com que o leitor se sinta parte daquilo. É um grande mosaico da vida de um grupo de pessoas. Os personagens foram tão detalhadamente construídos e desenvolvidos, que é quase palpável a evolução e o crescimento deles. A autora não busca esconder nada, Coco Mellors contempla toda a estrutura de uma pessoa real, cada personagem é ligado ao outro de alguma forma, mas todos tem seus problemas, tem seus desejos, suas vontades, sentimentos e defeitos. Ela não fala apenas das partes boas, ela mostra as ruins e as desgraçadas, o que geralmente tentamos esconder do mundo e o porquê. Cada detalhe é colocado delicadamente em todos os personagens.
E o final é simplesmente sensacional, a forma madura e poética da escrita dela leva seus personagens a uma conclusão devastadoramente tocante, é poeticamente sufocante, como se estivéssemos sendo afogados por nós mesmos e recebemos chutes e incentivos de quem mais confiamos e assim, percebemos que devemos não esperar a ajuda de alguém, mas perceber que devemos tirar a cabeça da água por nós mesmo e respirar fundo porque é isso que desejamos. É cruel e sensível, e esse toque agridoce leva essa obra a ser considerada um espetáculo.
Não vou dizer que é um livro rápido, os capítulos são gigantes, os personagens impulsivos, e tem uma trama totalmente imprevisível de tanto embolada que é, não tem plot twist, nem acontecimentos que irão te deixar arrepiados de tanto choque, mas tem paixão, e a cada página virada é uma avalanche de emoções e sensibilidade. O enredo é como um bando de estorninhos, sem protagonista fixo para levar tudo ao final, mas o grupo se move e vive, tendo consciência de si, e o leitor consegue se enxergar e viver uma realidade sem as ilusões romantizadas da escrita. O livro te faz parar, pensar e sofrer.
E confesso que depois que terminei de ler, me sinto leve e vazia.
V
A
Z
I
A
de tudo e cheia apenas de
M
I
M.