Lurdes 24/12/2023
Claustrofóbica é como classifico minha experiência lendo É a Ales, do mais novo laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, Jon Fosse.
O narrador, em seu ato de repetir as cenas, nos leva a uma angústia, a um aprisionamento inevitável, a uma exaustão psicológica.
Ele não repete por um capricho, repete porque os dias, as cenas, as situações, se repetem.
E se repetem porque é assim que é
Hoje é igual a amanhã
Como foi igual a ontem
Como era igual há 4 gerações, quando Ales, a trisavó de Asle, habitava esta mesma Casa Antiga, que hoje ele habita com Signe.
Asle tem este nome em homenagem a seu tio, homônimo, que faleceu ainda criança.
Esta confusão de nomes, que também se repetem, abala a individualidade dos personagens, que parecem se mesclar e se fundir.
Asle e Signe já viviam há vários anos nesta casa, que sempre foi da família dele, quando ele desaparece durante um de seus passeios de barco pelos fiordes.
Nos próximos 20 anos acompanhamos a rotina de Signe, que permanece à janela da casa, olhando para a escuridão e esperando...
Nesta espera ela vê a si mesma
E vê
Ales...
O autor nos mantém grudadas nas páginas e nos envolve por esta escuridão avassaladora.
Não sei vocês, mas sempre senti um desconforto muito grande em me imaginar vivendo em um ambiente tão isolado, frio, pouco acolhedor.
Eu via fotos de fiordes e achava tão lindos aqueles cursos de água cristalina entre as montanhas.
Me surpreendi quando Signe comenta da profundidade da água. Fui até pesquisar. Em geral são 1.300 metros de profundidade e isto torna tudo mais aterrador.
O livro de Fosse é um pouco assim, como um fiorde, uma paisagem bela, com suas águas plácidas, mas assustadoramente profundo.
Terminei a leitura muito tocada.