Rudiely 04/05/2024
Quase perfeito!
Eu estava muito ansioso para ler esse livro! Sempre que alguém o citava recomendava e dizia ter chorado, se comovido por emoções.
O livro entrega sim, mas acho que por tanta expectativa eu acabei não me satisfazendo por completo, o que não quer dizer que o livro não seja excelente.
A história de um homem, Ludwik, contada por ele mesmo através de uma carta/texto escrito para seu grande amor Janusz. Ludwik conta a seu grande amor a história de sua vida ao decorrer de vários momentos importantes. Momentos de uma infância de descobertas e negação, de tristezas e opressão, percorrendo sua adolescência até chegar à vida adulta.
Tudo isso no contexto de um país socialista - Polônia (1980), onde até as palavras ditas devem ser pensadas antes de falar. Vemos o personagem contar como o amor pode ser devastador e cruel, como as mentiras e medos podem destruir esperanças; vemos como é triste viver sem liberdade, sem saber se as pessoas que amamos irão sobreviver a uma doença sem assistência do governo e sem medicamentos; vemos a desesperança e a incerteza se irá haver alimentos na mesa no dia seguinte, as injustiças onde há privilegiados e desfavorecidos. Vemos a invasão e a dor de como é ser homossexual onde tal fato era considerado crime.
A escrita é leve apesar dos relatos pesados. Chega a ser poética, e mesmo com capítulos grandes a leitura não fica difícil, pelo contrário, você quer continuar lendo sem se importar com o fim do capítulo.
Esse livro me tocou de uma maneira que soube expressar várias vezes como me senti em diversos momentos da vida. Me fez lembrar que as vezes conhecemos pessoas que só nos deterioram por dentro, apesar do bem que já proporcionaram.
"Algumas coisas não podem ser apagadas
apagadas com o silêncio. Algumas pessoas possuem esse poder em relação a outras, quer gostemos do fato ou não. Começo a a enxergar isso agora. Algumas pessoas, alguns acontecimentos, fazem com que percamos a cabeça. São como guilhotinas, cortando vidas em duas partes: o morto e o vivo, o antes e o depois."
"(...) começo a pensar que nem todos sofrem da mesma maneira; que, na verdade, nem todos sofrem. Não
pelas mesmas coisas, pelo menos."
"Livros eram minha armadura contra a austeridade do mundo real. Eu os levava comigo aonde quer que fosse, como um talismã em meu bolso, considerava-os quase mais reais do que as pessoas ao meu redor, que falavam e viviam em negação, destinadas, pensava eu, a nunca consumarem nada digno de ser relatado."
"Meu maior pavor era acabar
sozinho. E, ainda assim, parte de mim tinha certeza de que era isso o que aconteceria, e também de que aquilo era a pior coisa que poderia acontecer a alguém."
"Minha memória tem seus limites, é lógico. Ela talvez preencha as lacunas sem admitir, dramatize ou altere o passado. Acho que não há como existir memória fotográfica para emoções. Mas pelo bem ou pelo mal, essa é a minha verdade agora."
"Tendo feito apenas coisas nas quais não acreditava, ela devia estar morta por dentro havia anos antes de seu corpo enfim ter desistido também."
"Não podemos forçar as pessoas a nos amarem do jeito que queremos."
"Facilita enganar a si mesmo. Você, mais do que ninguém, deve saber como é. É, ainda assim, me me ocorre agora que não podemos carregar nossas mentiras para sempre. Mais cedo ou mais tarde, somos somos forçados a encarar a escuridão delas. Podemos escolher o quando, não o se. E, quanto mais esperamos, mais doloroso e incerto será o processo."
"(...) eu me agarrei à ideia de nós, buscando em outros rostos um pedacinho de algo conhecido, procurando no estranho algo familiar. Quando, na verdade, o familiar já havia se tornado estranho e minha casa tinha deixado de ser meu lar. Ambas as coisas continuaram a viver e a mudar, sem mim."