iara360 05/05/2024
Há um limite para o ódio que se pode produzir
Eu tava muito ansiosa pra ler esse livro depois de tanta espera pela tradução, mas não foi o que eu esperava. Não entendi muito bem o que eu senti depois de terminar e nem agora que já faz uns dias que terminei, e acho que é porque não senti nada.
Não me conectei com os personagens, nem com o contexto, nem com nada. O ponto alto do livro sem dúvidas é a escrita.
A escrita é fria e melancólica, as descrições dão um sentimento de vazio, tudo que eu imaginava parecia que tinha um filtro opaco por cima, tudo meio cinza e em tons frios, uma atmosfera de um inverno que não acaba nunca, representando bem os sentimentos do ludwik, quem está escrevendo. Achei isso tão genial.
O livro é uma carta do ludwik para o janusz, então é aquela escrita em segunda pessoa que passa bastante intimidade. Gostei bastante dos dois personagens, eles são bem reais e confusos. Apesar do januz ter saído como o babaca da relação, dá pra entender completamente as escolhas dele.
O livro se passa na Polônia nos anos 80, mas logo no começo do livro já sabemos que ele está escrevendo a carta dos EUA e que eles não estão mais juntos, então o que te prende no livro é o meio da história, é querer saber o que aconteceu pra acabar assim, o que eu gostei muito.
No fim das contas, o livro é bem mais sobre o momento político do país e como os dois se posicionaram em relação a isso do que o romance. Não senti uma propaganda anti socialista, até porque o livro é a visão do ludwik sobre o mundo, um homem gay sem contatos privilegiados num país conservador com muita censura, muito controle de estado e onde ser lgbt é crime. Toda a questão dele enxergar os EUA como um lugar onde ele teria liberdade e a solução de todos os problemas soa bem irritante, mas dá pra entender, principalmente com a propaganda que faziam na época (e fazem até hoje).
De qualquer forma, pra mim foi bem óbvio distinguir que era uma visão dele e não o autor querendo que o leitor engolisse seu ponto de vista e, mesmo se realmente for, é pra conseguir identificar esse tipo de coisa que é importante ter senso crítico na hora de ler histórias e não sair acreditando em tudo.
Mesmo gostando muito da escrita e dos personagens não me conectei com a história, não me emocionou, parecia que eu tava muito distante e não ali com os personagens. 2,5/5.
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"Eu, no entanto, acho que foi o desespero o que a matou. Tendo feito apenas coisas nas quais não acreditava, ela devia estar morta por dentro havia anos antes de seu corpo enfim ter desistido também."
"Senti mais tristeza do que raiva. Talvez porque o ano esteja chegando ao fim. Há um limite para o ódio que se pode produzir, um limite para a mágoa que se pode de guardar dentro de si."