viiholiveiiraa_ 14/05/2024
A busca dentro de si...
Tenho o costume de dizer que, a cada livro lido da Clarice Lispector, um novo soco no estômago é dado. Às vezes fico me questionando como a autora consegue descrever cada fase que estou vivendo. Talvez seja por isso que eu me conecto tão profundamente pela Clarice…
A paixão segundo G.H foi lançado em 1964 e logo no início do livro Clarice já deixa claro que gostaria que esse livro fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Acredito, eu, que para ler qualquer coisa da Clarice é preciso ter uma maturidade, não dessas intelectuais que estamos acostumados, mas, sim, uma maturidade mais emocional, uma alma já formada.
Para mim, esse é o livro mais introspectivo que li da Clarice até agora. Aqui, vamos acompanhar as observações que a personagem G.H faz da própria vida, dos próprios sentimentos e pensamentos. Ao entrar no quarto da empregada, disposta a organizá-lo, mas o encontra arrumado e ao se encontrar com a barata, G.H toma consciência da própria individualidade.
Sedenta por organização, G.H procura fazer com que o exterior seja um modo de organizar-se interiormente. Afinal, quem nunca ouviu o ditado que “arrumar a própria casa é arrumar a mente”? Me conectei profundamente com G.H, pois passo por uma desorganização interna e muitas vezes, utilizei da organização da minha casa, uma forma de, talvez, organizar os meus pensamentos.
G.H mergulha em si e faz questionamentos que, boa parte de nossa vida, nos fazemos: quem sou eu? O que eu sinto? Qual é minha identidade? Minha razão de viver, sentir, amar? G.H sente uma necessidade de saber quem ela é... afinal, quem nós somos? Quais são as nossas razões? Vivemos tão perdidamente dentro da nossa bolha?
G.H olha para dentro de si e por um dado momento não se reconhece. Quantas vezes nós não conseguimos nos reconhecer? Quantas vezes vamos em busca de nossa identidade e tomamos conhecimento de questões angustiantes, intrigante acerca da vida, assim como os pensamentos de G.H? É por meio de um universo de questionamento e reflexões que o leitor toma contato com a atmosfera de instabilidade emocional.
É dessa forma que Clarice Lispector utiliza de sua literatura: buscar o lado humano introspectivo. Ao entrar de si, G.H gera reflexões acerca da vida. É sobre se sentir inquieta na própria pele, não se reconhecer mais, se permitir ir mais fundo do âmago dos sentimentos…
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