spoiler visualizarIsadorabrgs 10/09/2023
Os 10 dias que não foram apenas 10
Nellie Bly, é o pseudônimo da jornalista investigativa Elizabeth Jane Cochrane. Em 1887, as mulheres que escreviam raramente usavam o próprio nome por conta do machismo marcante.
E foi justamente por conta de sua revolta contra a opressão das mulheres que Nellie Bly começou a escrever.
Aos 15 anos, Nellie estudava para ser professora, uma saída honrosa para mulheres que precisavam trabalhar para se sustentar. Mas foi obrigada a desistir, por falta de dinheiro.
Nellie se indignava com os obstáculos que as mulheres enfrentavam para estudar, trabalhar e tornarem-se independentes. Os meninos e os homens tinham tudo mais fácil. E assim, ficou enfurecida quando se deparou com o artigo ?Para que servem as meninas?? publicado em um dos jornais de Pittsburgh.
O colunista Erasmus Wilson escreveu sobre como os pais deveriam educar meninas para que fossem exímias na cozinha, na costura e na limpeza da casa. Ele chegou a chamar as mulheres que queriam seus direitos e desejavam trabalhar de ?monstruosidades?, e que talvez o melhor fosse que os EUA agissem igual a China, onde as famílias matavam meninas recém-nascidas ou as vendiam como escravas. É impossível apagar o sexo biológico e a opressão que vem junto com ele desde o ventre até o nascimento, e para além da vida adulta.
Pouco depois, chegou à redação do jornal uma carta inflamada de uma leitora que usava o pseudônimo de ?Órfã Solitária?. O editor-chefe do jornal, ficou impressionado com a escrita de Nellie e assim começa a carreira de uma das mulheres mais corajosas e a frente de seu tempo.
Em maio de 1887, Nellie chegou em Nova York, conquistou uma vaga no New York World, e assim os editores sugeriram uma pauta a destemida Nellie: ?E se você fingisse estar louca para ganhar acesso à uma instituição psiquiátrica famosa por maltratar suas pacientes?? e ela prontamente acatou.
Quando comecei a ler o livro, lembrei de umas das figuras mais emblemáticas da temporada Asylum de American Horror Story: Lana Winters. Logo descobri que a personagem realmente foi inspirada na história real de Nellie Bly.
E os horrores descritos no livros são dignos de uma série de terror. Mesmo agindo como a mulher sã que era, Nellie sequer era ouvida por médicos e apenas fingindo não lembrar de onde vinha, foi jogada num hospício em que muitas sofriam abusos, torturas, eram afogadas, passavam muito frio e só tinham comida estragada para comer.
Como a própria Nellie conta ?desde o momento em que entrei na ilha, não fiz nenhum esforço para me manter no suposto papel de louca. Falei e agi exatamente como no meu dia a dia. Por incrível que pareça, quanto mais eu agia e falava com lucidez, mais louca me consideravam.? O que prova que médicos não tinham a menor ideia de como lidar com pacientes em sofrimento mental (na verdade sequer reconhecê-los) ou simplesmente não se importavam com eles. Provavelmente, as duas coisas, como ocorre até hoje na psiquiatria.
A violência das enfermeiras era implacável. Elas zombavam das pacientes, as provocavam, tentavam esganar e bater nas mulheres, que em sua maioria eram sãs.
Ao pesquisar mais a fundo a história de Nellie e esse momento em que fingiu estar louca para relatar e revolucionar como as mulheres eram tratadas nesses asilos de lunáticos, descobri que os 10 dias, não foram apenas 10 dias. Foram quase 2 meses em que Nellie esteve presa tentando negociar sua liberdade e comprovar sua sanidade. ?O hospício de alienados de Blackwell?s Island é uma ratoeira humana. É fácil entrar, mas uma vez lá é impossível sair.?