spoiler visualizarLeo Biasotto 30/03/2023
Os tambores que demoraram pra tocar no outono...
Os Tambores do Outono é um livro que demora. Os acontecimentos dele demoram para acontecer, e a leitura demora para terminar. É um filler, ainda mais considerando seu antecessor, que era frenético e, mesmo quando parava, ainda assim os personagens corriam.
Em Tambores, os personagens não tem pressa nenhuma. Na primeira metade, Brianna e Roger vivem um relacionamento à distância tedioso. No passado, Claire e Jamie viajam, exploram a natureza, ocupam a cordilheira e começam a povoar a região. É lindo, e é Diana Gabaldon em sua essência. Vale a pena destacar as passagens mais cotidianas, que ilustram situações triviais, como a da cobra. É quase um abraço quentinho. Por mais que as cenas descritivas e contemplativas sejam cansativas e ocupem mais espaço que o necessário, há uma poesia por trás delas que é inspiradora e faz valer a pena o tempo dedicado à leitura, principalmente nas passagens em que a Claire vaga sozinha pela floresta sozinha.
Contudo, mesmo quando o livro poderia trazer agilidade e cenas mais caóticas, Gabaldon escolhe eclipsar esses momentos, ou então apressa-los ou reduzi-los. A autora já fez isso algumas vezes em O Resgate, e faz ainda mais aqui, em Tambores. Talvez a estratégia tenha sido para não repetir plot, mas eu estava tão acostumado com esse tipo de escrita, em que as cenas tomam o tempo necessário, por mais páginas que isso leve, construído principalmente nos dois primeiros volumes, que me senti um pouco órfão. Enquanto que em A Viajante vemos Claire sofrendo no século XVIII com detalhes, desde o instante que ela passa pelas pedras, passando pela sua prisão, neste não sabemos como foi a jornada de Brianna até chegar em Lallybroch. Não houve perigo nenhum? Nenhum choque cultural ou estranhamento digno de tomar nota? O mesmo ocorre na busca pelo Roger cativo (tantos dias passados na floresta inexplorada e nenhum perigo?) ou então nas novas travessias do Atlântico (mais piratas? tempestades?).
E isso tudo impactou o final. Me senti assistindo ao último capítulo apressado de uma novela: capítulos curtos e pouco aprofundamento.
Mas de qualquer modo, felizmente continuo achando Outlander uma série de livros incrível e deliciosa de ler. Os personagens seguem se transformando e, ainda assim mantendo-se fiéis a suas personalidades construídas desde o início. Resta a dúvida de como a história continua, agora que a Claire e sua grande família se estabeleceu nos Estados Unidos. A Revolução está chegando...
Mas não pretendo retornar à Cordilheira dos Fraser por um bom tempo. Diana Gabaldon me conquistou com sua escrita, inicialmente, por me deixar com saudades dela.