Marcelo217 15/06/2023
Complexo demais para poucas páginas!
Esse livro é sempre bem falado por todo mundo que encontro. Vez ou outra ele sempre acaba aparecendo pra mim em algum lugar. Finalmente li e entendi o motivo da aclamação que ele tem.
Se por um lado a narrativa é crua, direta e sem rodeios, o personagem principal, Mersault, tem tantas camadas que fica dificil digerir tudo em tão pouco espaço. Sob uma perspectiva de perda e desapego da vida, o personagem trouxe para mim uma grande reflexão acerca da vida em si.
O enredo do livro gera um debate muito pertinente: o personagem é bom, ruim ou simplesmente humano? Mersault consegue ser apático, resignado e ao mesmo tempo inconsequente e reativo. Pela vida e por suas ações é muito relativo classificá-lo em um nicho específico e é muito interessante as proposições na qual Camus o coloca através dos seus personagens.
NUNCA SE MUDA O MODO DE VIDA - "uma vida era tão boa quanto a outra". O personagem a partir do momento que perde a ambição diante da vida, apresenta uma atitude de indiferença e uma honestidade lúgubre em relação à vida e a morte.
AMIZADE E AMOR: As relações de Mersault com os personagens são sempre à base de indiferença. No momento em que estava preso e sendo julgado é possível ver, pela sua perspectiva, como essas relações se tornaram líquidas, superficiais e quase sem significado. Em relação a Marie, eu senti quase como se ele quisesse ter mais apego a ela quando compara brevemente o contato dos outros detentos nas visitas.
RELIGIÃO: Há um embate proposto por Camus e até uma crítica velada com esse teor. Classificam-se também nesse contexto atrocidades criminais pela falta de Deus ou temência advinda de alguma doutrina.
PRISÃO: Há uma estranha aceitação por parte de Mersault no viver enclausurado. Ele vê a cadeia como um lugar confortável, de reflexão e um refúgio da sociedade.
JUSTIÇA: independente do crime que Mersault cometeu, Camus apresenta a justiça como parcial, falha e tendenciosa ao comparar condutas de crimes por motivações diferentes. O personagem é igualmente julgado por questões de remorso e sensibilidade, como as pessoas viam a sua personalidade.
O livro, mesmo tendo um tamanho bom para o seu desenvolvimento, teria potencial para ser explorado muito mais. Albert Camus criou um personagem humano e falho em sua condição que nos faz refletir sobre conduta, sentimentos, personalidade e atitudes diante da vida. "O estrangeiro" é um livro atemporal, capaz de gerar incontáveis debates sobre a inconstância do ser e relações interpessoais e sociais.