joolivis 13/07/2022
Vida, filosofia e o ser se encontram; os poemas nascem.
Falar de um livro de poemas é uma questão complexa. Porque, diferentemente dos de prosa, cada poema ? em comparação com os capítulos ? é um universo totalmente novo. Os temas muitas vezes se diferem, e tocam você de uma maneira muito peculiar e individual. O poema é isso, é uma lírica verbal corrida que serpenteia o seu íntimo e te pega de laço. Te faz pensar. Te faz refletir. Te faz olhar.
Muitas vezes a reflexão é emocional, mas pode ser racional também. No livro somos apresentados a ambos.
Esse livro não é perfeito. Adoraria dar 5 estrelas porque tem alguns dos meus poemas favoritos da vida a partir do momento que os li, porém, alguns outros não me tocaram tanto ou conversaram comigo. E não digo isso para colocá-los em uma posição de "poemas ruins", longe disso. Insinuar que qualquer poema desse livro ou de Wislawa seja ruim seria um crime. Apenas não dialogam comigo. Assim, como obra subjetiva, eu julgo eles pela minha subjetividade atacada.
Mas, de fato, é um livro incrível. Os poemas são uma reflexão sobre si e o mundo, sobre a existência e as questões humanas; navega pela literatura, pelo mundano e pelos fatos religiosos. É uma experiência poderosa, tanto no sentido individual de se ler, como de afloramento político, já que muitos poemas têm uma característica política bem presente.
Vale muito a pena ler. E Wislawa Szymborska conquistou meu coração e se tornou uma das minhas poetisas favoritas com toda a certeza. Mal posso esperar para os próximos dela que irei ler.
"Filhos da época
Somos filhos da época
e a época é política.
Todas as tuas, nossas, vossas coisas
diurnas e noturnas,
são coisas políticas.
Querendo ou não querendo,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um aspecto político.
O que você diz tem ressonância,
o que silencia tem um eco
de um jeito ou de outro político.
Até caminhando e cantando a canção
você dá passos políticos
sobre um solo político.
Versos apolíticos também são políticos,
e no alto a lua ilumina
com um brilho já pouco lunar.
Ser ou não ser, eis a questão.
Qual questão, me dirão.
Uma questão política.
Não precisa nem mesmo ser gente
para ter significado político.
Basta ser petróleo bruto,
ração concentrada ou matéria reciclável.
Ou mesa de conferência cuja forma
se discutia por meses a fio:
deve-se arbitrar sobre a vida e a morte
numa mesa redonda ou quadrada.
Enquanto isso matavam-se os homens,
morriam os animais,
ardiam as casas,
ficavam ermos os campos,
como em épocas passadas
e menos políticas."
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