Amanda 15/01/2020
Intenso e genial na mesma medida
Nunca tinha lido uma biografia antes, mas com o passar das páginas percebi que metade do intuito desse tipo de livro é me fazer conhecer a vida da pessoa que estou lendo. A outra metade é para conhecer melhor a minha própria. É inevitável as comparações que a mente vai fazendo ao longo da leitura "aah, eu também gostava disso quando era criança", "com certeza eu penso igual", "passei por uma experiência parecida, mas não reagi assim"...
Vez ou outra me deparava com o pensamento:
"Também posso ser como Steve Jobs"
Eu nunca poderia imaginar que o gênio que eu conhecia só de nome teria o passado que teve. Lógico que ele é um ser humano fora da curva, como poucos na história da humanidade, mas como dizem "de gênio e louco, todos tem um pouco", e acho que Jobs passeou um pouco pela loucura para compreender sua própria genialidade.
LSD, guru na Índia, não tomava banho, só comia frutas e vegetais, andava descalço e aprontava todas na escola... Hoje em dia tudo isso parece um grande tabu, qualquer pensamento fora da caixa é motivo para julgamento, temos que pisar em ovos todos os dias para viver pelas regras dos outros e não pelas nossas. Mostra como a gente tem que valorizar mais nós mesmos, nossos ideias e sonhos.
Jobs cagou para todas as regras de etiqueta social, ele só ia e fazia. Tinha uma busca compulsiva pela consciência de si mesmo, e acho que esse auto conhecimento diz muito sobre nós mesmos, às vezes não nós conhecemos o suficiente para saber quem somos e o que queremos e, mesmo assim tomamos atitudes e fazemos escolhas sobre nós o tempo todo. Jobs aprendeu a se valorizar, respeitar mais a si do que os outros. Ele não tomava banho e estava fedido? Estava! Todo mundo falava que ele tava fedido? Falava! Ele ia tomar banho? Não, não ia.
Ele não estava nem aí pros outros, ele estava aí pra ele. Não tinha meias palavras e meias medidas, não poupava ninguém de críticas e de sua sinceridade. Na real, ele era um babaca, mas dane-se, né. Talvez a frase verdeira de conhecimento popular deveria ser "de gênio, louco e babaca, todos tem um pouco", ao contrário de muitos, Jobs não escondia nenhum de seus lados, poucas vezes vimos dentro da sua biografia momentos de falsidade.
Eu acho que não conseguiria conviver com alguém como Jobs, teria surtado, teria sido demitida, teria sido 'vítima' de sua honestidade e saído chorando desconsolada. Eu oscilava meus pensamentos dentro da história entre querer aplaudir e colocar uma estátua dele no meu quintal ou querer dar na cara dele com força. Inclusive lá por 1985, eu fiquei surpresa que ninguém de fato deu um tabefe nele, porque, por deus, ele estava insuportável.
Não estou tentado validar seus defeitos em prol de suas qualidades. Ele errou muito durante sua vida e com várias pessoas, mas do seu jeito tentou consertar (mas esse momento só chegava quando ELE queria consertar a situação).
Seus momentos bons e ruins tinham uma coisa em comum, a intensidade. Com ele TUDO era 8 ou 80, extramente obcecado, perfeccionista e controlador em todos os detalhes inimagináveis do produto, da venda, do pós venda, da cor da caixa, do piso da loja, do design da antena. Como ficou popularizado depois de anos o controle total de um sistema fechado e da experiência do usuário. Comentei de aspectos profissionais, mas era assim na vida pessoal também, se o suco de laranja que ele pedisse no restaurante não estivesse bom, ele levantava e ia embora, não conseguiu mobiliar a própria casa, porque nada era bom o bastante. Ele valorizava o produto e o dinheiro foi uma consequência disso. A apple foi uma consequência disso.
Outra coisa que eu adorei, foi ler trechos da história, e graças ao controle que Steve queria ter, ele queria saber, supervisionar e aprovar tudo, então falavam da parte do marketing e o conceito das propagandas. E foi sensacional passar por estas parte e correr para o youtube e achar os comerciais. No capítulo do lançamento do Macintosh, eu fui procurar a propaganda da divulgação de 1984. E assistindo o vídeo, lendo o livro com os comentários da concepção, o contexto e o reflexo dela fazem o conjunto ser sensacional.
(https://www.youtube.com/watch?v=axSnW-ygU5g)
Aconteceu a mesma coisa com os comerciais do iPod (https://www.youtube.com/watch?v=MTs5pOn7XFU). No livro focaram bastante no conceito "mil músicas no bolso" com as sombras dançando, e foi incrível poder ver a história com as propagandas do U2 e do Bob Dylan.
Menção honrosa para a minha queridíssima Pixar, que sem o Jobs não seria a empresa que conhecemos hoje. Ele criou as duas melhores empresas de sua época, Apple e Pixar e as duas eram uma expressão máxima dos ideais de Steve, "o encontro perfeito entre a tecnologia e a arte" e a "simplicidade é a máxima sofisticação".
Jobs estava a frente de seu tempo, como diz um trecho do texto "A melhor maneira de prever o futuro é inventá-lo". Não da para deixar de pensar como o mundo estaria se Jobs ainda estivesse vivo, cada inovação que ele fez na apple refletia imediatamente para o mundo inteiro. A maneira que ele interpretava o cliente era única. Antecipar as necessidades, perceber o rumo que a sociedade estava tomando antes dos outros e decidir novas respostas às mesmas perguntas.
"Alguns dizem "dêem aos consumidores o que eles querem". Não é assim que eu penso. Nossa tarefa é descobrir o que eles vão querer antes de quererem."
Jobs era uma pessoa complexa, e isso influenciou tudo o que fez na vida. Foi triste ler sobre seu câncer e sua morte, mas parece que ele mesmo sabia disso há muito tempo. A necessidade de fazer diferença no mundo, porque sabia que sua passagem por aqui seria breve.
"É estranho pensar que a gente acumula tanta experiência, talvez um pouco de sabedoria, e tudo simplesmente desaparece. Por isso quero realmente acreditar que alguma coisa sobrevive, que talvez nossa consciência perdure. Mas, por outro lado, talvez seja apenas como um botão de liga-desliga. Clique! E a gente já era."
"Talvez seja por isso que eu jamais gostei de colocar botões de liga-desliga nos aparelhos da Apple."
Ao longo do texto, os momentos que me fizeram pensar que eu também posso ser grande e estar destinada a grandes coisas como ele se escondem atrás de quem foi Steve Jobs. Não, ninguém mais poderia ser ele e poucos conseguirão se destacar e "imputar" a sua marca no mundo como ele fez.
Afinal.
Só há um Steve Jobs.
Ah, só mais uma coisa...
"Pense diferente"