juliasstupid 19/05/2024
"Eternas são as histórias que nasceram para não acabar."
Zélia dominava a arte de contar histórias. Fossem elas alegres, brutas, melancólicas ou divertidas, sua verdadeira essência sempre era mantida. Foi a primeira vez que experimentei sua escrita, e tive uma boa impressão. Afinal, acredito ser impossível não gostar de algo feito por Zélia Gattai.
As histórias de sua infância tinham um charme irrevogável. Através delas, pude entender os contextos históricos de São Paulo, uma cidade com tanta diversidade étnica que chegou a me surpreender! Acompanhei seu desenvolvimento, tanto urbano quanto cultural, e seus períodos de protesto. Há uma coisa que permanece a mesma, porém: a fama da Avenida Paulista.
Ademais, tive grande contato com etnias e processos de imigração. Histórias nunca contadas em livros de história tradicionais, a exemplo da Colônia Cecília. Quem haveria de dizer que o Brasil foi o país escolhido para implantar tal tipo de governo? Mais do que isso, percebi a importância de entender sobre a nossa história, nosso povo. E como toda essa gente, de tantos lugares divergentes, se tornarão um só.
O livro também encarregou-se de me apresentar o anarquismo, sistema com o qual nunca havia tido contato. Desde seu título, pesquisei e aprendi mais sobre esse sistema político, trazido para o Brasil justamente pelos irmãos de terra dos familiares de Zélia: os italianos. Apesar de terem ideais convictos, achei interessante quando, ao final do livro, a mãe da narradora finalmente entende que o anarquismo nunca poderia ser reproduzido na sociedade. Esse amadurecimento me fez enxergar que nem todo simpatizante de certos movimentos políticos são totalmente ignorantes de sua inoperabilidade.
Por fim, adorei observar de perto o passar do tempo dessa família. Não foram poucos seus momentos cômicos e que me arrancavam risadas. Durante 300 páginas me senti parte desse conjunto familiar e de seu contexto histórico. E, por mais que nenhum deles tenha sido eterno, as histórias que deixaram para trás são.