Bárbara 26/08/2013
"O outro lado da moeda"
Herdeiros de Atlântida poderia ser, tranquilamente, o "outro lado da moeda" de Anjos da Morte. O primeiro livro se mostra pouco denso, indagador, típico de 1º volume de qualquer trilogia, nos introduzindo e nos preparando para o que estava por vir. O segundo, um livro mais maduro, astuto e sangrento, que responde, mesmo que implicitamente, a muitas perguntas do primeiro.
Ficção dentro da realidade. Muitos dos acontecimentos mais importantes do mundo descritos de maneira fantasiosa, e mesmo assim não faltando com a verdade. O autor descreve os detalhes das guerras de maneira simples e exclusiva, usando os combates como base para toda a sua história.
Eu não estava muito confiante com o fato dos capítulos serem separados em “A busca por Danyel” e “A vida passada de Danyel”, e confesso que me surpreendi. Todos os atos estão entrelaçados, então os mais simples acasos influenciam na vitória e na derrota. Todas os feitos acontecem por um motivo e, tardando ou não, ele fica claro para nós. A sintonia dos capítulos é tanta, que faz o livro ser completo, onde nada se descarta, fazendo de todos os detalhes cruciais para um perfeito entendimento.
Nesse livro também percebemos a diferença entre e dentro das castas angélicas. Ele nos mostra todas as faces que um anjo pode ter. Percebemos que várias ações teriam ocorrido de forma diferente se fosse outro anjo a agir. Assim como os seres humanos possuem livre-arbítrio, os anjos possuem a força de sua casta, mas isso também não o impede de fazer suas próprias escolhas, só tem grande influência sobre elas.
Não posso deixar de citar sobre Ismael, o novo personagem. Um dos poucos hashmalins que abraçaram a causa rebelde, diferente de Yaga (que também é uma hashmalins). Tudo o que Ismael possui de sensatez, Yaga possui de maldade. Apesar de não ser o centro do livro, sua personalidade foi bem desenvolvida. Não é por ser um anjo torturador que ele deve ser atroz. Ismael é o exemplo de hashmalim equilibrado, prudente, atinado. Ele usa todo o seu bom senso para castigar cada um de acordo com o que fez. Ele é um anjo da justiça, isso me fez nutrir grande admiração por ele.
Desde o primeiro livro, eu entendo o Danyel como o personagem principal. Quer dizer, o foco era Kaira, mas Danyel roubou a cena desde a primeira vez que apareceu. E isso também não aconteceu por acaso, ele estava relacionado desde 1944 - sua primeira aparição em Anjos da Morte - a tudo que iria acontecer. Então tudo o que ele viesse a fazer a partir daí, teria bastante peso mais para frente.
O que fazemos torna quem somos. Denyel, um querubim, um anjo da morte, destinado a matar para cumprir ordens. Apenas um soldado entre tantos, mas, assim como todos, ele também tem a sua vida, seus sentimentos, seu poder de avaliação sobre o que é certo e o que é errado. A dor da guerra, o poder da culpa, o arrependimento. Esses fatores levaram Danyel a ser o que ele se tornou , a viver como ele vivia, a agir como ele agia. As suas experiências tiveram grande importância na criação de uma índole mais justa, mais humana. O "mocinho" nem sempre agia como tal, apesar de pensar que sim. Apenas mais uma peça no tabuleiro, na grande guerra, uma peça essencial.
A ligação ente os dois livros é tanta que me questionei sobre qual teria sido escrito primeiro. Obviamente foi o primeiro, mas será que Eduardo Spohr já tinha tudo planejado ? Ou as ideias vieram após o término de Herdeiros de Atlântida ?
Só posso tirar uma conclusão do autor após essa leitura: Eduardo Spohr não se mostrou apenas como um belo ficcionista, mas também como um grande historiador.