Padre Sérgio

Padre Sérgio Leon Tolstói




Resenhas - Padre Sérgio


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Georgeton.Leal 05/05/2021

Da queda ao renascimento
Pra mim, Tolstói sempre foi cirúrgico em suas narrativas, ainda que algumas tragam certos aspectos questionáveis que reflitam sua fase mais radical.
"Padre Sérgio" não é uma de suas melhores obras, mas acerta em cheio na crítica contra o institucionalismo religioso da época e mostra no desfecho da história a simplicidade prática que o autor enxergava nos Evangelhos.
No final das contas, uma resignação meramente legalista jamais irá substituir o propósito genuíno de uma vida justa e humilde que encontra no amor ao próximo o cumprimento da vontade divina.

site: https://senso-literario.blogspot.com/2022/03/da-queda-ao-renascimento.html
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Isabela 05/05/2020

Tolstói Surpreende por ser ele mesmo
Em "Padre Sérgio" Tolstói apresenta uma linguagem muito comum e direta do que é considerado a segunda fase de sua produção literária. A busca pela verdadeira razão de viver.

Na história temos Padre Sérgio que a todo o momento passa por situações inesperadas em sua vida, fazendo-o a cada momento refletir sobre o que é a vida descente? Como encontrar a razão de viver? Como ser realmente feliz?

A meu ver não é um livro para iniciantes na leitura do autor, pois o livro é carregado de referências a momentos de crises pessoais dele presentes nos questionamentos do próprio personagem.
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Amélia Galvão 03/05/2020

Esse é um livro curtinho do Tolstói na sua fase madura e da grande crise existencial pós Anna Kariênina. É bem próximo de sua morte e foi ele que levou a sua excomunhão pela Igreja Ortodoxa. É uma novela que, como outros escritos seus, apresenta muito do seu entendimento de mundo, principalmente em relação à Igreja e às mulheres.

Achei interessante, mas não me empolgou e nem me sensibilizou como outras leituras que fiz dele, as quais moram no meu coração. Aqui me senti bastante incomodada com o Tolstói pregador, não por discordar ou concordar com ele, mas sim por achar que ele acabou prejudicando o Tolstói romancista. O livro é sim bem escrito, a psique da personagem principal é bem explorada e há muitas críticas à Igreja Ortodoxa e a uma fé de aparências. No entanto, o desenvolvimento das personagens femininas e as interações com elas me incomodaram demais. Elas não possuem a mesma profundidade de outras que ele já nos apresentou, como a maravilhosa Anna Kariênina, e aparecem como um mero instrumento de provação para a personagem principal (com exceção de uma que não deixa de ter também função instrumental, mas de forma diversa).

Essa edição da Cosac traz um escrito de Tolstói em resposta a excomunhão dele, o qual é interessantíssimo para sabermos mais sobre suas convicções. Também recomendo a leitura do livro Uma Confissão.
meriam lazaro 11/05/2020minha estante
Eu li em conjunto com "Sonata.." e "A morte de Ivan..", numa edição que tinha os 3. Como "Padre Sérgio" foi a última leitura, pensei que não havia gostado muito por já estar cansada. Vou reler.


Amélia Galvão 12/05/2020minha estante
Pode ser, hehe. Eu o li logo após ter relido "A morte de Ivan Ilitch", que achei maravilhosa. Confesso que fui com grandes expectativas e acabei me frustrando, haha. Mas também pretendo reler no futuro.




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Fabio Di Pietro 28/01/2020

Breve, mas profundo
O livro traz a crítica de Tostoi trazendo a semelhança entre a vida mundana e a vida monástica. O personagem vive em constante batalha interna por conta de seu orgulho e ego. É justamente isso que trará a perdição e a salvação do Padre Sérgio.
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Valério 05/02/2018

Busca extrema
A vida de Tolstoi foi marcada por sua intensa busca espiritual. Que ele tentou passar para os livros de sua fase final.
Padre Sérgio ilustra bem os conflitos interna da busca do autor.
O personagem que entitula o livro perfaz uma feroz e extrema busca pela purificação e iluminação espiritual, digna de um buda. Chega a ponto de ter que decepar partes do corpo para evitar pensar em pecar.
E, no fim, descobre o que Buda também descobriu. A grandiosidade está na simplicidade, na ausência de orgulho e vaidade. A santidade - ou iluminação - está dentro e não fora.
Um livro em que sofremos junto com o protagonista e que mostra o alcance da filosofia espiritual de Tolstoi.
Tal como em "A morte de Ivan Ilitch", do mesmo autor, somente no fim do livro o personagem compreende a verdade.
Excelente livro.
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carmem 10/05/2017

Padre Sérgio, Tolstói
Escrita no início dos anos 1890 e publicada pela primeira vez em 1898, “Padre Sérgio” não é uma obra unânime de Tolstói. Trata-se de uma novela com cerca de 70 páginas que talvez não tenha a majestade de algumas de suas pequenas narrativas anteriores, como “A Morte de Ivan Ílitch” ou “Felicidade Conjugal”, mas que merece uma análise profunda. Tolstói era uma figura polêmica, um religioso fanático e ao mesmo tempo crítico ferrenho da Igreja Ortodoxa Russa, fato que fez com que fosse excomungado da mesma. Tal senso crítico do autor fica bastante evidente na pequena novela.
“Padre Sérgio” tem como protagonista Stiepán Kassátski, um jovem comandante do exército que está noivo de uma condessa e parece destinado à grandeza, mas que, de forma repentina – como somos informados já na primeira página –, pede baixa, rompe o noivado, doa seus rendimentos e decide se tornar um monge. Kassátski é obcecado por ser o melhor em absolutamente tudo o que faz e não se dá por satisfeito enquanto não atingir a perfeição. Assim ocorre no exército e assim também será no monastério, onde se tornará Padre Sérgio. Para chegar à perfeição na vida monástica, Padre Sérgio se mostra capaz de atos surpreendentes, mas nem mesmo ele imaginou que seria tão desafiador.
O livro é uma aula sobre a hipocrisia presente nos homens e também na igreja, e conta com um grau de machismo dos mais elevados – como era de se esperar para a época. A mulher é constantemente vista pelo protagonista como um ser demoníaco e perigoso, alguém que pode levá-lo à ruína. Um protagonista imperfeito obcecado pela perfeição, que titubeia entre a humildade e o orgulho – este é Padre Sérgio. Em poucas páginas conseguimos adentrar na mente de Kassátski, sentir suas angústias e nos chocar com suas ideias. Não há grandes momentos, não há outros personagens de destaque além de Kassátski, mas sim uma galeria de figuras que se revezam enquanto acompanhamos os conflitos do protagonista. Com um final surpreendente e um tanto destoante, “Padre Sérgio” figura como uma obra polêmica do grande autor russo, por suas ferrenhas críticas à própria religião e à sociedade da Rússia czarista como um todo, mas uma obra polêmica que deve ser lida.
A edição da extinta Cosac Naify, parte da coleção Nova Prosa do Mundo, é só elogios. Com capa dura, o livro conta com ótimos apêndices, sugestões de leitura, além de um texto do próprio Tolstói: nada menos que a “Resposta ao Sínodo”, texto que escreveu após ser excomungado. A tradução, feita diretamente do russo, é de Beatriz Morabito.

“O fato de eu ter renegado a Igreja que se intitula ortodoxa é totalmente exato. Mas reneguei-a não porque me insurgi contra o Senhor, ao contrário, simplesmente porque desejava servi-lo com todas as forças.” – Liév Tolstói, em resposta à resolução do sínodo de 20-22 de fevereiro de 1901 e às cartas recebidas nessa ocasião.
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Marcos Pinto 24/04/2017

O pecado ronda?
Em Padre Sérgio, acompanhamos a vida de Stiepán Kassátski, um jovem militar russo. Altamente ambicioso, ele sempre queria ser o melhor no que fazia, seja o que fosse. Por seu jeito, sempre galgou postos rapidamente e, muitas vezes, pouco imagináveis. Até que chega o momento que ele percebe que apenas ser militar não é o suficiente: ele deseja estar no meio dos altos círculos sociais da Rússia.

Nessa ambição, Kassátski usa todo o seu charme e desejo de crescer para começar a cortejar uma jovem de família influente. Aparentemente, suas intenções não seriam alcançadas. Porém, falhar não era para ele. Stiepán continua tentando até que recebe o direito de se casar com a jovem. Contudo, subitamente, ele desiste do noivado, das posses e resolve que viraria padre. O que aconteceu para que isso acontecesse? Quais as razões mais intrínsecas? Você terá que ler para descobrir.

Padre Sérgio foi um livro que me surpreendeu. A surpresa não veio por um enredo incomum, nem por reviravoltas extraordinárias, mas por uma prosa rica dentro de um enredo altamente linear. Tirando a mudança súbita de vida do personagem, o que não é surpresa, visto que essa mudança dá o nome ao livro, não há nenhuma grande reviravolta na obra, mas apenas uma passagem de anos. Entretanto, o improvável acontece: Tolstói constrói uma obra prima apenas com esse recurso.

“(...) todos os seus passos não tinham outro fim senão o de alcançar a perfeição e o sucesso que suscitariam o elogio e a admiração das pessoas. Apegava-se quer aos estudos, quer à ciência, e trabalhava até que o elogiassem e o apontassem como exemplo aos demais” (p. 10).

O grande trunfo do autor é apostar no lado psicológico do protagonista. Mesmo quando nada acontece a sua volta, tudo ocorre dentro da mente e alma de Padre Sérgio – novo nome de Stiepán Kassátski –. Página após página, vemos a briga interna da fé contra a infidelidade; da soberba, ambição e luxúria contra o que Sérgio pregava. O personagem se torna uma colcha de retalhos de brigas internas, o que deixa a obra completamente envolvente.

Ademais, o autor também tece profundas críticas à sociedade russa, principalmente à estrutura religiosa da igreja católica. Aliás, essas críticas foram tão intensas que lhe renderam uma excomunhão, algo altamente indesejável na época. Com um realismo invejável, Tolstói expõe as feridas abertas da igreja, mostrando as mazelas, os erros, as “trapaças religiosas” e outros vícios. Isso, sem dúvida, deixa a obra muito mais viva e intensa.



Se não bastasse tudo isso, ainda temos uma edição simplesmente maravilhosa, no melhor estilo Cosac Naify de qualidade. A capa é dura, a diagramação é confortável e os extras são maravilhosos. Temos um artigo apresentando a visão de um especialista que não considera a obra tudo o que dizem; há também outro artigo muito elogioso sobre a obra. Por fim, um texto do próprio autor falando sobre o livro e sua excomunhão. Sem dúvidas, subsídios mais do que suficientes para ter uma visão mais completa do livro.

“Seus olhares se cruzaram e se reconheceram de imediato. Não que algum dia tivessem se conhecido: nunca haviam se encontrado antes, mas, pelo olhar que trocaram, ambos (principalmente ele) sentiram que já se conheciam e compreendiam um ao outro. Impossível acreditar que não fosse uma mulher simples, bondosa, encantadora, tímida, mas sim o diabo” (p. 33).

Adendo: Li esta obra em 2016 e ela foi, sem dúvidas, uma das melhores leituras do ano. Um livro genial e que vocês precisam conhecer. Recomendo.


site: http://www.desbravadordemundos.com.br/2017/04/resenha-padre-sergio.html
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@andressamreis 25/10/2016

Crítica severa de Tolstoi à igreja
História rápida. Em suma, uma critica contundente de Tolstoi às instituições religiosas, à vaidade e às mulheres.
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Our Brave New Blog 12/08/2016

RESENHA PADRE SÉRGIO - OUR BRAVE NEW BLOG
A expectativa é a mãe da decepção. E agora vocês já estão pensando que eu não gostei do livro, o que é uma inverdade. Porém, eu não amei como alguns milhões por aí na internet. Eu tinha visto alguma coisa desse livro por aí e para onde eu olhava havia calcinhas molhadas para essa obra. Lá fui eu me aventurar nas barbas e na escrita de um dos maiores escritores de todos os tempos, e de cara quando pego o livro em mãos descubro que ele é uma obra que tem mais ou menos 60 páginas, quase um conto. Um pouco desanimador quando você está esperando algo como Guerra e Paz, mas tudo bem.

Eu já tinha falado lá no post do Desafio Livrada 2016 que eu nunca tinha lido um russo na vida, e resolvi começar pelo Tolstói porque a) estava barato, b) era pequeno e c) vi que no meio da peça do Maiakovski ele bota uns poemas e fiquei meio cabreiro com isso. Não que eu não goste de poesia, mas me disseram que o autor de O Percevejo é um poeta meio maluco, que inventa umas formas malucas e tals. Contudo não é um post sobre a peça de teatro ainda e sim sobre Leão Tolstoi (em todos os livros o nome dele devia ser esse) e esse conto/novela da Cosac.

Então vamos à sinopse: Stepian Kassátic é um cabra que gosta de ser o melhor no que faz, e por isso se esforça com o máximo de afinco para conquistar coisas e abandoná-las logo depois. Nessa busca ele sobe de patentes continuamente no exército russo e logo depois passa a cortejar a garota mais desejada da alta sociedade. No entanto, descobre que a garota não era virgem e que o antigo namorado dela era nada menos que o seu chefe. Envergonhado, abandona tudo e resolve virar padre. Nessa brincadeira ele descobre que tem o incrível poder de curar as pessoas, e antes tendo virado ermitão para não ter mais contato com outras pessoas e comungar com Deus, agora fica cada vez mais famoso, e precisa lidar com a sua fé ante a isso.

A primeira coisa que chama a atenção quando você está lendo o livro é como Tolstói parece ser versátil na escrita, porque consegue passar rapidamente e consistentemente por décadas de vida do padre Sérgio (nome que ele adota quando vira padre) enquanto coisas como Anna Kariênina só foram possíveis tendo cuidado de certas minúcias e pormenores dentro do tempo da história. Outro fator que sempre dá medo nas pessoas, mas não acontece aqui: a linguagem não é arcaica do tipo que a cada cinco palavras quatro você está vendo pela primeira vez na vida. A tradução deixa tudo bem mais acessível e fácil de ler do que no original.

Padre Sérgio é uma obra com umas coisas controversas. A começar pelo que se vê na sinopse, onde uma noiva é abandonada porque já teve relações sexuais com outro cara. É claro que isso devia ser normal na época, mas hoje em dia é algo meio absurdo, embora não duvide nada que alguém já tenha feito isso dos anos 2000 para cá. Mesmo assim não é nada para se tirar nota. Outra coisa muito presente na obra é a mulher como representação do mal, exceto uma. A maioria das mulheres aparece para ferir Sérgio ou para tentá-lo, e Sérgio toma reações exageradas quanto a essas situações.

Porém, o próprio padre é um personagem extremamente bem construído, você está sempre se perguntando se ele aceitou a religiosidade e a fé ou se continua sendo a sua vontade de ser o melhor falando mais alto.


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jonatas.brito 31/05/2016

Uma novela com forte clamor espiritual!
É praticamente impossível – para o sagaz leitor que aventura-se no mundo literário tolstoiano – terminar a leitura com a mesma mentalidade que a começou. É isso que fascina ao ler Tolstói: a sua capacidade de nos fazer refletir sobre os mais diversos e relevantes assuntos, quer seja na busca do real sentido da vida e da morte, como em A Morte de Ivan Ilitch (Editora 34, 2009), nas questões morais e sentimentais envolvidas nas relações amorosas encontradas em Felicidade Conjugal (Editora 34, 2010) e nas crises existenciais e espirituais de todo ser humano, como é o caso da incrível novela Padre Sérgio (Cosac Naify, 2015), publicado originalmente em 1898.

Nesta incrível novela, Liev Tolstói (1828 – 1910) nos apresenta a Stiepán Kassátski, um alto comandante do esquadrão de honra do imperador Nikolai I que, após uma desilusão amorosa e seu orgulho ferido, surpreende a todos ao abandonar a carreira militar para tornar-se monge. Desde sua infância, Stiepán buscava alcançar a perfeição em tudo que se propunha a fazer. Ambicioso, não se contentava ao segundo lugar e sempre que alcançava um objetivo, criava outros (como todos nós). Sua mudança para o monastério não mudou sua personalidade competitiva. Sentia-se superior aos outros monges e empenhava-se ao máximo na execução das tarefas. Após quatro anos de devoção tornou-se padre e ficou conhecido como Padre Sérgio (muito provavelmente uma referência a tantos personagens bíblicos que, ao encontrar-se com Deus, tiveram seus nomes alterados). Com a benção e a estima do bispo, padre Sérgio muda-se para um monastério mais próximo da capital e, com essa mudança, vieram as tentações. Nesta novela o autor enfoca a mulher como obstáculo principal contra a busca da santidade do homem, e justamente em figura feminina que o diabo apresenta-se ao Padre Sérgio batendo, literalmente, em sua porta. Para fugir dela, ele toma uma medida drástica a ponto de deixar o leitor em estado de perplexidade.

Tolstói foi um autor muito importante não só pelos seus escritos, mas, principalmente, pelo seu papel influente como líder religioso. Considerado um verdadeiro profeta por boa parte da sociedade russa de sua época, Ele travava uma briga pública com a Igreja ortodoxa a ponto dela, em 1901, excomungá-lo e condená-lo ao fogo do Inferno. Embora a novela tenha sido publicada antes de sua expulsão, podemos identificar que o autor há muito tempo já criticava o sistema religioso vigente, acusando-a de escravizar e lucrar sobre a fé cega e ignorante de seus fiéis. Na novela, Padre Sérgio – após realizar o pedido de uma mãe – colocou a mão sobre um garoto enfermo e rezou por ele. Um mês depois a saúde do garoto se estabeleceu e sua fama de padre milagreiro espalhou-se por toda a região. A igreja então começou a explorá-lo, atraindo assim visitantes e donativos para o monastério.

Cada personagem criado por Tolstói é um espelho que reflete o próprio autor. Podemos identificar, assim, fortes traços autobiográficos em suas obras. Até tornar-se um representante da fé cristã, Tolstói teve, desde sua infância, diversas crises de fé, ora acreditando piamente em Deus, ora crendo que estava só neste mundo. Dessa forma que encontramos nosso protagonista: em constantes crises existenciais e espirituais. Isto o torna um representante de cada ser humano, falível, vulnerável e inconstante.

A conclusão da leitura nos conduz à reflexão. Assim como o padre Sérgio, nossa peregrinação não tem um ponto final. Sempre estamos em busca de algo, um ideal, um sentido de vida que faça a nossa vida ter sentido (!). O quebra-cabeça da vida de Liev Tolstói vai se formando à medida que lemos seus romances. Criador e criatura confundem-se na mesma história. Padre Sérgio constitui-se, assim, uma obra essencial para que quer entender a mensagem do “profeta” Tolstói.

site: https://garimpoliterario.wordpress.com/2016/05/30/resenha-padre-sergio-liev-tolstoi/
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Arsenio Meira 14/05/2014

Entre a Carne e a Cruz : o embate entre a Fé e a vaidade

Padre Sérgio (1890) resulta da crise (chamada grande crise, de tão famosa que ficou) por que passou Tolstói nos anos anteriores ao lançamento desta pequena obra-prima. Nesse período, o velho Leon condenou toda a sua obra pretérita, cujo acento misógino é nitidamente visível. Essa novela realça um tema que há muito vinha angustiando o genial escritor russo: o amor carnal, visto como nocivo pelo protagonista, porquanto surge como entrave para consumar a necessidade de se reprimir as tentações da carne em prol da força moral existente no homem.

E o Padre reflete: seu impulso de aderir a uma vida monástica teria sido resultado de uma desilusão amorosa. É neste ponto, em particular e sob minha ótica, que Tolstói construiu magnificamente o dilema da vaidade. O padre só tornara-se padre para corroborar uma falsa altivez, uma superioridade inexistente perante os seus iguais. Como se a renúncia se prestasse a diminuir as outras pessoas. Não é por aí, e Tolstói dinamitou esse prurido que até hoje, acho, acomete vários homens voltados diretamente para o Sacerdócio. Não é à toa a analogia tecida e que antagoniza a mulher fatal à imagem do diabo, sempre que o pobre Padre Sérgio se confronta com a tentação. E mais: não deixa de ser um romance de tiro curto a serviço de um grande ajuste de contas com a Igreja ortodoxa; Tolstói já havia denunciado as iniquidades do Templo Ortodoxo, e em Padre Sérgio desmistifica a vida monacal, e expõe com destreza a mercantilização da fé, a ideia cartesiana e castradora incutida pela Igreja ortodoxa segundo a qual o homem pode salvar-se das tentações da vida renunciando a tudo, mediante o ato de confinar-se em um mosteiro. De que adianta a clausura, se o pensamento não permite a morte do desejo sexual?

Padre Sérgio é um personagem do nosso tempo. No livro, ele percebe um profundo elo paradoxal entre a pregação da fé e da moral cristã e os atos reais e sub-reptícios de alguns pregadores. Além de não conseguir fugir a tais tentações, ele acaba fugindo mesmo é do mosteiro por não suportar a hipocrisia dos stáriets; passa, então, a descrer totalmente dos ensinamentos e da prática da Igreja e até a duvidar da existência de Deus. Não foge da religião em si mas daquela religião timbrada, oficial. Termina por buscar a resposta às suas torturantes dúvidas na religião do povo, em quem, segundo Tolstói, está o sentido da própria vida. Procura a prima Máchenka, que já foi rica, sofreu, e agora vive numa pobreza quase extrema. Ela é o elo que o liga ao povo, à sua experiência, e após o encontro com ela Padre Sérgio assume definitivamente a vida de peregrino entre outros miseráveis, consumando na prática a condição tolstoiana para alcançar a salvação da alma.

Padre Sérgio sente todo o sangue do corpo estancando no coração, perde a respiração, mas acaba abrindo a porta, ou pelo menos, deixa uma fresta aberta, e fresta ou não, já não há mais muro ou porta capaz de estancar o sangue que escorre da artéria amorosa da luxúria, essa velha senhora assanhada e sagaz...
pamella 30/01/2015minha estante
Que resenha sensacional! nao tem como não ter vontade de ler o livro depois das suas palavras.


Arsenio Meira 04/02/2015minha estante
Oi Pamella,
Obrigado, Tolstói é gênio, sempre. Espero que que você goste tanto quanto eu.
Abraços.
Arsenio


Alexandre.Domingues 07/02/2015minha estante
Arsenio, muit boa sua resenha. Tive a oportunidade de ler este livro pouco depois de seu lançamento pela Cosac e me surpreendi demais, um grande livro.


@livreirofabio 04/03/2015minha estante
Arsenio, resenha excepcional! Me ajudou a enxergar melhor a "mensagem" do Tolstói, que me parece ter sido um pregador nato, entranhado em suas histórias. Porém, confesso que mais do que a história a carta ao sínodo no final dessa edição me empolgou mais, ali consegui sentir a clareza e a honestidade intelectual do Tolsta.


Thiago 19/02/2017minha estante
Grande Arsenio. Que análise perfeita da obra. Grande leitor. Grande pessoa. Deixou saudades.




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