Lare 03/08/2020
http://www.livrosefuxicos.com/2013/02/resenha-o-inferno-de-gabriel-sylvain.html
Observando as semelhanças existentes entre os inúmeros
livros do gênero adulto que estão sendo lançados no Brasil ultimamente, fica fácil
concluir qual é o perfil de história que caiu nas graças dos leitores brasileiros.
No geral, as prateleiras de nossas livrarias estão abarrotadas de livros sensuais
e eróticos que giram em torno de um protagonista forte, rico e complicado que
se envolve com uma mulher capaz de transformá-lo por inteiro. Sendo assim, segui
essa linha de raciocínio e julguei premeditadamente o romance ?do autor¹? Sylvain Reynard, catalogando-o mentalmente como mais um romance adulto. Entretanto, a
leitura do livro ?O Inferno de Gabriel?
me reservou muitas surpresas, as quais me mostraram constantemente o valor
dessa obra, sua complexidade, e o melhor, a riqueza de sua escrita. Repleto de
citações literárias, musicais, populares e artísticas, o livro é bem mais que
um romance escrito para entreter o leitor, ele é um achado cultural que une, majestosamente,
a sociedade contemporânea com a arte clássica.
-?Se você for esperar que
sua cicatriz desapareça, Julianne, vai ficar esperando para sempre. Cicatrizes
nunca desaparecem. (?). Feridas podem se fechar e talvez até sejamos capazes
de nos esquecer delas com o tempo, mas as cicatrizes são para sempre. Nem mesmo
Jesus perdeu as suas.?
A inspiração fundamental para tal história deu-se da obra de
Dante, A DivinaComédia, na qual Dante caminha pelo Inferno em busca da redenção, ou seja,
da absolvição necessária para entrar no Paraíso. Em sua jornada, sua amada
Beatriz serve não só como uma fonte de força, como também, um anjo, uma luz que
o guia pelas trevas. Temos então, na obra em questão, a ,
encarnação contemporânea
desses personagens: o professor Gabriel Emerson, que carrega nos ombros as
dores do passado, erros que o fazem agonizar
e queimar em seu inferno pessoal; e Julia, jovem pura de alma e de coração,
que procura no amor a comprovação da bondade
nata desse sentimento. Entre encontros e desencontros, passado e presente,
nossos protagonistas se unem em um emaranhado de conflitos, segredos e emoções.
Na primeira parte do livro somos apresentados ao passado dos
protagonistas, não o suficiente para descobrirmos seus segredos, mas o necessário
para a compreensão do sentimento que os une. Ficamos na torcida para que ocorra
(logo) o desenvolvimento dessa união, e aqui o grande ponto é que a expectativa
não é nutrida pelos motivos tradicionais, ou seja, não está ligada ao desejo
carnal que fica evidente entre o casal, mas sim, ao sentimento de salvação que
esse o amor poderá provocar em cada um deles. Da mesma forma que Julia,
torcemos para que o amor prove o quão puro e bondoso é, e é exatamente sobre
isso que lemos na segunda metade do livro, a respeito de ações e emoções que
evidenciam a luz do amor. É claro que temos a representação do desejo carnal, e
uma ou outra cena sensual, contudo, todas elas refletem o amor descrito, um
sentimento real e palpável o suficiente para emocionar o leitor.
Em cada uma das descrições sentimentais desse casal fui submergida
em um plano emocional paralelo, fiquei presa em suas dores e medos, e terminei
de ler o livro com uma nova percepção do amor e da magnitude desse sentimento.
Gabriel provou, não com palavras, mas sim com ações, que um homem, mesmo
marcado pelo pecado, pode ser digno do verdadeiro amor. Desta forma, diferentemente
dos livros dessa classe que estamos acostumados a ler, o personagem masculino
prova ser merecedor da mocinha antes mesmo de descobrir que é dono do seu
coração, fator que mexeu comigo o suficiente para elevar o patamar das minhas
leituras adultas, levando-me a
conclusão de que não vou me acostumar com livros que ofereçam menos do que Sylvain Reynard nos proporciona com
sua obra.
Mas não é só a forma de
apresentação do amor, ou a intensidade do personagem masculino que garante a imprevisibilidade
desse livro. Outro ponto favorável para isso é a escrita do autor, que como eu já disse, é rica em
cultura popular e artes clássicas, deixando o leitor extremamente curioso sobre
as cidades, obras literárias, quadros e esculturas citadas. Por isso gostei
tanto do livro, por ele ser mais do que uma bela história de amor e por ir
muito além de cenas sensuais, ele difere-se ao utilizar o clássico para criar
algo novo, envolvente e despretensioso. Desta forma, se você espera um romance alá Cinquenta Tons de Cinza, pode se decepcionar,
ou se surpreender como eu, ao se deparar com a inteligência dessa obra. Só
lendo para descobrir em qual grupo você se encaixará, e eu, sem dúvidas, correria
o risco para descobrir.
Ficou curioso? Participe da
promoção de aniversário do blog (AQUI) e concorra a um exemplar do livro.
¹ Do autor, pois sua identidade ainda é desconhecida. Não sabemos se Sylvain
Reynard é o pseudônimo de um autor, ou de uma autora.
Quotes Preferidos:
?Ela o
consumia pouco a pouco e, quando abria um sorriso ou ria, Gabriel achava que
iria pegar fogo.
?-Quero beijar você ? sussurrou ela. Ele sorriu. ?
Também quero. Ela esperou. Mesmo assim, ele não se mexeu. ? Julianne ? chamou
ele. Ela abriu os olhos. ? Venha pegar o
que quer.?
-?Estou me abrindo para você. Sou destrutivo.
Emocionalmente instável. Tenho um péssimo gênio. Parte disso tem a ver com meu
vício, parte tem a ver com o meu? passado. Será que eu estava tão errado ao
tê-la em tão alta conta que minha única explicação para a sua existência fosse
achar que você era o produto de uma mente desesperada ou o ápice da criação
divina??.