Cláudia Isabele 29/08/2013
Uma experiência única
Levei três dias para ler, entre os afazeres de faculdade, casa e namoro, durante os quais, eventualmente algo desse livro se reelaborava em mim por conta de sua abordagem.
O crime do protagonista não tem a relevância que é de se esperar na trama. Como mitigante ou agravante, sequer há um questionamento sólido sobre a natureza da violência do crime, de sua gravidade ou não. O que há é a caracterização generalista de um condenado, ou antes, uma caracterização generalizante, como uma epiderme que pode moldar-se a muito casos, se não a quase todos. Ou todos?
E o protagonista, dono dessa epiderme arquetípica é um veículo incômodo das sensações propostas no texto. Parece que ele ali está para dar seus pareceres contextuais de um catálogo perverso de sofrimentos que se enfileram para atormentá-lo. É como uma voz humana, reconhecível para nós, traduzindo uma tortura que mesmo paulatina, de tão cotidiana, subverte qualquer traço de objetivação de humanidade no caminho à guilhotina. Parece que as pequenas iniciativas de alguns personagens de amenizar o caráter atroz de seu destino se apequenava como um paliativo quase cínico diante da vileza da pena capital.
Foi um incômodo necessário lê-lo. Em alguns momentos de tensão o texto pareceu catalisar, nas minhas lembranças disperas, as conclusões diversas sobre debates acerca dos direitos humanos e sobre o discernimento do direito a ceifar uma vida.
É daquelas leituras, para mim, pedagógicas. Não necessariamente de introdução ao tema, a depender do grau de intimidade ou discussão, mas, como um catalisador eficiente de motivações, conceitos, opiniões. Pareceu desnudar a crueza dos detalhes ignorados no enunciado geral da pena de morte, toda sorte de suplícios a que se condena quem pode sentir. Durante as semanas seguintes à leitura dele recomendei-o apaixonadamente, como se fosse um elixir, quase uma epifania. Está entre meus preferidos. Qualquer outra mensuração que eu faça se submete a essa sensação de que ele conversa com o que há de mais humano em mim. E que não sei o que é (ainda?).
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